Vivemos o mundo do agora e do imediato, onde as horas, os dias e os anos passam sem que tomemos verdadeira noção da passagem deste tempo. No lecionar do Zygmunt Bauman (sociólogo polonês), um mundo líquido onde nada é para durar. Esta é a característica dos nossos tempos, onde somos surpreendidos a cada instante com uma nova tecnologia, um novo aplicativo que promete nos tornar melhores. Não temos escolha e muito menos fomos consultados, há uma imposição sutil que não pede para entrar nas nossas vidas.
O comportamento da sociedade contemporânea foi objeto de profícuo estudo de Bauman, acima referido, e serve para a realidade de todos que vivem em quase todas as sociedades ocidentais. A lógica perversa de estarmos sempre ocupados com o maior número de futilidades durante todo tempo, inclusive quando dormimos, pois não é incomum que os equipamentos eletrônicos, como celulares e tablets compartilhem o travesseiro de milhões de pessoas. Tal comportamento nos rouba um tempo precioso para pensar e refletir sobre nosso modo de vida, e qual é afinal minha visão de mundo? O que me inspira? O que me motiva a seguir em frente?
Sob este viés, sempre admirei a escultura “O Pensador”, de Auguste Rodin (1840-1917), que de forma genial faz a representação muito emblemática sobre o exercício do pensamento e seus efeitos colaterais sobre o indivíduo. E talvez em razão desta paradoxalidade que a reflexão impõe sobre ser, onde o sofrimento, as dúvidas, as angústias, os desafios, e a própria existência são silenciosamente questionadas, fugimos destes momentos e somos presas fáceis para qualquer futilidade que seja apresentada por profissionais que pensaram para nos entreter.
Tenho impressão que o entretenimento em nossos dias é a arma mais poderosa do mundo dos negócios, pois mina toda nossa capacidade de resistência, pois somos meros consumidores de produtos de toda ordem, que cada dia tem seu prazo de validade vencido, para que um novo seja lançado, que uma nova pseudonecessidade seja criada.
Assim, acho que temos um desafio enorme para criarmos uma cultura que nos desconecte por algum tempo durante o dia, e que tal tempo seja exatamente utilizado exclusivamente para refletir sobre o que estamos fazendo nas nossas relações familiares, profissionais, sociais, culturais, em resumo, com nossa vida, quem e por quais razões sou motivado? E se tais motivações têm sido positivas ou não? Ainda tenho sonhos e utopias? E qual a origem de tais objetivos? Ou seja, não há saída para o mundo tão complexo em que vivemos senão gastar parte da nossa energia pensando sobre ele, sob pena de alguma corporação fazer por nós.