O cinema sempre despertou fascínio em mim. Tendo sido uma das atividades mais afetadas pela Covid-19, aos poucos as salas de cinemas vão recebendo públicos maiores e entusiasmados com o retorno, afinal, a vida segue. Com a revolução provocada pelos streamings, seria possível questionar se tudo isso não passa de uma mera nostalgia. Mas nem mesmo o conforto de ver um filme da sua TV se equipara com a ideia de ir ao cinema. Que me perdoem os entusiastas do streaming: não há nada como o ritual de sair de casa para chegar a um shopping, comprar ingressos, pegar uma pipoca e esperar os trailers começarem. É a magia do cinema.
O cinema já teve diferentes significados para mim. Inicialmente, na adolescência seria o local para combinar um encontro com uma menina. Algo romântico, um tanto inocente e por vezes idealizado em demasia. Ou seja: culpa da cultura pop e dos filmes que incentivam a nossa busca incessante por um amor eterno e arrebatador. Mas o que eu gostaria de dizer é que filmes são mais do que somente obras com uma duração limitada. Filmes duram mais do que uma hora e meia, duas ou até três. Filmes nos descrevem, nos preenchem, influenciam. Filmes duram para sempre nas mentes e corações de quem se enxerga em diferentes enredos, personagens e detalhes. Adquirem importância e significado, assim como se tornam facilmente uma memória afetiva. O que vimos nos filmes é o puro retrato do que acontece na vida. Rimos, choramos, sofremos e nos alegramos. O cinema retrata a existência humana como poucas formas de arte, portanto, o impacto é imediato. E tudo isso é amplificado ao estarmos em frente a um telão.
Até hoje lembro da primeira vez que fui ao cinema pela primeira vez. Eu era criança e toda a família foi ver a estreia de Titanic. Eu, cansado, acabei dormindo no meio do filme. Entretanto, jamais vou esquecer da sensação que tive ao ver aquele navio enorme em frente aos meus olhos e acreditar que aquilo que se passava era real. Mais recentemente, ainda que não tenha sido no cinema, vi O Poderoso Chefão, que volta às salas para exibição, com uma qualidade de imagem em 4K. Em diversas cenas, Coppola utiliza muito bem os elementos das luzes e das sombras. Os grandes diretores sabem ditar o ritmo, controlar a narrativa, falar através de simbolismos e, é claro, usar a luz ao seu favor.
É por isso que o novo filme do Batman provoca tanta ansiedade em mim. É notório que filmes de super-heróis abusem de cores vibrantes, efeitos especiais e apostem na fórmula de Blockbuster. Entretanto, ao contrário da maior dos heróis, Batman sempre carregou uma característica peculiar. É um herói que caminha na linha tênue e vacilante entre o bem e o mal. É meu super-herói favorito e não tenho vergonha alguma de falar isso. Há algo na história de Bruce Wayne, o órfão bilionário que faz com que eu tenha acompanhado diversas revistas em quadrinhos, filmes, séries e desenhos.
A direção do novo Batman destacou em entrevistas o seu uso de uma paleta de cores que vai do vermelho ao completo breu. Esse detalhe está presente nas peças de divulgação, dando o tom do que veremos nos cinemas. Veremos, pois, no momento em que escrevo essa coluna, ainda não tive a oportunidade de ver o filme. Terei a oportunidade no final de semana, quando essa coluna já estará nas mãos dos leitores do Riovale.
Mais do que um simples detalhe, o uso de sombras e luzes no cinema é pedagógico, apresenta dicotomias, serve como metáfora e mantém o mistério. Luzes e sombras, no cinema e na vida, retratam tão bem a bela e doce experiência humana neste mundo.