Início Sem categoria Abrindo a gaveta de ideias do Veco

Abrindo a gaveta de ideias do Veco

Cristiano Silva
[email protected]

Rolf Steinhaus

Músico santa-cruzense, guitarrista do Nenhum de Nós,
relembrou momentos da vida em Santa Cruz

É descendo as escadas para o backstage do Espaço Camarim em Santa Cruz do Sul, que encontro o boa praçaVeco Marques, sentado na mesa de madeira do espaço cultural, se deliciando com as cucas santa-cruzenses, uma hora antes de entrar no palco para apresentar o seu projeto com o músico Panta. A conversa, inicialmente pensada em uma entrevista, acabou se desenhando em um bate-papo solto, cheio de revelações do músico santa-cruzense que, além de ser guitarrista do Nenhum de Nós, possui diversos projetos paralelos.
Essa história na música começou cedo, em dois momentos específicos. “Me lembro de pular a janela da casa da minha tia para ouvir os discos dos Beatles e o disco ‘Bridge Over TroubledWater’ de Simon & Garfunkel. Eu ficava enlouquecido com aquilo, era demais, aí eu pegava uma raquete de tênis, virava de canhoto e tentava cantar”, comenta o músico.
Outro momento importante foi quandodeude cara com uma guitarra Gianini, exposta em uma tabacaria no centro de Santa Cruz. “Uma tabacaria que vendia revistas, jornais, tinha uma Gianini vermelha modelo Diamond. Eu saía de casa pra ir ficar babando olhando a guitarra na vitrine, sem imaginar que um dia eu seria músico, porém aquilo tinha um poder, uma magia absurda sobre mim, tanto que agora, questão de um ano e meio, dois, atrás, eu descobri uma de um guitarrista em Dom Pedrito, a mesma da vitrine, e acabei comprando a guitarra”, relembra.
Esses dois momentos que aconteceram aqui em Santa Cruz foram o pontapé inicial paraVeco Marques ouvir música com outros ouvidos, prestar atenção nas coisas e entender como uma guitarra funciona.

Rolf Steinhaus

Santa-cruzense Veco Marques relembrou histórias
de quando começou a se interessar pela música

Aos 12 anos o músico trocou Santa Cruz pela capital gaúcha. “Quando eu efetivamente me mudei para Porto Alegre, aí começou o lance de querer pegar o instrumento mesmo, minha irmã tinha o violão, eu tocava um pouco”, afirma.  Veco lembra-se de um fato impressionante na época. “Eu não sabia tocar, e tinha uma banda gaúcha, HalaiHalai, que eu ficava acompanhando da janela da minha casa os ensaios. Comecei a tocar e me esforçar mais, encontrei eles em um festival em Canoas, e como o guitarrista tinha saído me chamaram para fazer parte da banda. Era uma banda que eu gostava e acabei me tornando integrante”, declara.
Depois Veco se apaixonou pela música folclórica, música argentina, e conheceu o Renato Borghetti. “Comecei a tocar com ele pelo estado todo. Nós viajávamos em uma Belina que ele tinha e aí foi começando a criar um movimento, isso na época de 1981, 1982” destaca.

NENHUM DE NÓS

Divulgação

Nenhum de Nós está na ativa há 27 anos, e possui 14 discos lançados,
3 DVDs e milhares de shows na bagagem

 

A partir do segundo disco do Nenhum de Nós, a banda colocou fortes influências da música gaúcha, inclusive convidando músicos nativistas para participarem do disco, entre eles Luís Carlos Borges e Renato Borghetti. “O Nenhum convidou o Renato para fazer uma participação no disco e eu fui junto, para fazer o meio de campo entre a bombacha e a calça Levis. Eu conhecia todos os guris do Nenhum de Nós, pois estudamos juntos no Colégio Nossa Senhora das Dores em Porto Alegre, aí pintou o convite pra eu entrar de músico acompanhante, sendo que depois foi um passo para eu entrar efetivamente na banda” revela Veco.
Aí se vai 27 anos de Nenhum de Nós, uma longa estrada para a banda e para Veco. Essa longa caminhada com 14 discos, 3 DVDs e milhares de shows, tem curiosidades e pedras pelo caminho. “Uma das coisas que me chama a atenção nesse tempo todo de banda é que temos o mesmo produtor desde o primeiro show e o mesmo empresário. Passamos poucas e boas juntos.
Nos últimos 10, 12 anos, foram mais de 100 shows por ano, mas o músico se lembra da época em que foram apenas 12 em um ano inteiro. “Foi em 1993 ou 1994. Troca de moeda e quebrada de gravadora foram alguns dos fatores responsáveis por isso, mas aguentamos no osso e no peito, por que temos a proposta da banda”, comenta o santa-cruzense.
Todos os integrantes da banda Nenhum de Nós são formados, mas nunca usaram o ‘canudo’ conquistado. “Temos a banda como um projeto de vida, e aí no momento de dureza é que vemos se o aço é bom” destaca o músico.
Em se tratando de shows em Santa Cruz, Veco relembra uma apresentação marcante da banda por aqui, e contrapõe com um momento complicado da apreciação da arte na cidade. “Teve um período por aqui que era bem ruim pra tocar. A minha maior ira foi um show do Djavan, aqui em Santa Cruz, por volta de 1992. Ele estava estourado no Brasil inteiro. O show foi ali no antigo Cine Apollo (atual Câmara de Vereadores), e tinha umas 40 pessoas”, revela.
“Claro que o tempo passa e as coisas vão melhorando. Fizemos com o Nenhum de Nós grandes shows aqui em Santa Cruz. Lembro de um especial, show da turnê do disco Acústico Ao Vivo 2 na Oktoberfest de 2003. Tinha umas 10 mil pessoas no Poliesportivo e foi muito bacana a receptividade do público e o show em si”.
Para se tornar um músico e ter êxito na função como Veco, alguns ingredientes são necessários, segundo o músico santa-cruzense: “Acho que persistência, talento e sorte. A soma desses fatores algumas vezes dá certo. O fundamental é gostar do que se faz, em qualquer área de atuação” define Veco.
Falando de futuro, a banda está sempre em produção, e novos projetos e ideias logo ganharão os ouvidos dos fãs do Nenhum de Nós. “O legal é que o Nenhum, beirando os 30 anos de banda, é cheio de projetos. O mercado é um dragão, tem que estar sempre jogando alguma coisa. Em 2014 vamos gravar um disco de inéditas e a gavetinha está cheia de ideias boas” finaliza o músico santa-cruzense.