Já pensou em chegar ao supermercado e não conseguir ler o nome dos produtos? Não identificar qual ônibus precisa pegar? Ficar por fora das notícias porque não consegue decifrar o que consta no jornal? Essa é uma realidade distante para nós, leitores, mas enfrentada dia após dia pela dona Eva, pelo seu José e por outros 14 idosos que receberão, a partir de agora, aulas de alfabetização por meio de uma parceria entre a Prefeitura e a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). O projeto Sonho de Leitura foi anunciado no dia 31 de agosto, no Cras Beatriz, no Bairro Santa Vitória.
Na cerimônia de lançamento, os convidados foram recebidos com música e olhares emocionados. A prefeita citou a importância do projeto para que “as vovós e os vovôs possam ler livros com seus netinhos e fazer a leitura na missa, por exemplo”. Dirigindo-se aos futuros alunos, ela disse que “a leitura dá, além do conhecimento, autonomia, cidadania, autoestima e novas oportunidades” e revelou também estar “vivendo um dia muito feliz por poder contribuir, junto com a Unisc, para a realização de 16 sonhos”.
Representando a Universidade, a professora Carmen Lúcia de Lima Helfer declarou que a instituição se sente honrada pelo convite em participar do projeto. “Para aprender não há idade, e vocês, que já têm muita experiência, terão um rico aprendizado e saberão aproveitar muito bem este espaço, para ampliarem a visão de mundo e se tornarem cidadãos mais participativos”. Junto da prefeita, Carmen Lúcia ajudou a distribuir materiais didáticos doados aos alunos pela Unisc.
As aulas de leitura e escrita acontecerão no Cras Beatriz, nas segundas e quintas-feiras, em formato de oficinas ministradas por estagiários do ensino superior da Unisc orientados pelos seus professores. Os alunos inscritos têm entre 60 e 78 anos e integram o grupo de idosos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do Cras Beatriz, cuja responsável é a servidora Silnara Noronha, por quem os idosos demonstram grande apreço. Com o lema “Realizando um sonho por dia”, o grupo é composto, ao todo, por 40 pessoas, que participam de atividades diárias no Cras, com fisioterapia, artesanato, atividade física e jogos.
José recebeu “o melhor presente de aniversário”
Residente no Residencial Viver Bem, seu José da Gama completou 60 anos ontem e afirmou várias vezes, durante a cerimônia festiva, que a oportunidade de estudar foi “o melhor presente de aniversário que poderia receber”. Ele, que cursou só até a 4ª série, sonha em aprender a ler e escrever melhor para viver momentos felizes com seus nove netos e seis bisnetos. “Tá em tempo ainda”, concluiu, contente.
Eva não estudou quando criança porque “o pai não deixava”
Visivelmente feliz e emocionada com a oportunidade de se alfabetizar aos 74 anos, dona Eva Almerinda Carvalho da Silva não tem vergonha de contar sua história. “Ler e escrever, sei só o nome”, afirma. Residente no Bairro Santa Vitória há 32 anos, mas criada no interior, ela não pôde estudar quando criança já que “o pai não deixava porque tinha que trabalhar na lavoura de fumo”. Ansiosa com o início das aulas, ela sonha alto. “Depois dessa, não sei se não vou fazer faculdade”, disse, aos risos.