Wunderkind significa “criança-maravilha” na tradução da língua alemã. Wunderkind é o apelido do cineasta Steven Spielberg entre os colegas de trabalho. Uma criança com 43 anos de carreira e 65 de idade. Spielberg trabalha com o mesmo entusiasmo de um jovem estreante. Estão em cartaz nos cinemas os seus dois mais recentes filmes: Cavalo de Guerra e As Aventuras de Tintim. O primeiro um filme realista e o segundo uma animação digital. A realização dos dois filmes foi concomitante no ano passado. Projetos distintos, películas num, computadores noutro, com lançamentos concomitantes no mercado americano no fim de 2011. Um mercado que, desde seus lançamentos, Spielberg vem disputando com ele próprio. Os dois filmes vem arrebatando as bilheterias. O mesmo acontece agora no Brasil e em outros países.
Assisti Cavalo de Guerra. Gostei. Um filme envolvente. Bem feito. Cenas de guerra perfeitas. Momentos de fotografia linda. Fidelidade aos padrões da época (primeira guerra mundial, 1914 a 1918). Abordagem das relações humanas verdadeiras, que não diferem muito das atuais. No filme um garoto chamado Albert (o jovem ator inglês Jeremy Irvine) doma seu cavalo Joey (na verdade uma égua) com delicadeza e o ensina a puxar arado num terreno acidentado, para que seus pais (Peter Mullan e Emily Watson) possam plantar nabos, e com a colheita pagar suas dívidas.
A uma altura do filme o cavalo Joey é requisitado e levado para a guerra. O filme passa a ser as aventuras de Joey nas batalhas. Encontros e desencontros com várias pessoas que cruzaram em seu caminho. Havia características comuns entre Albert e seu cavalo. Determinação, tenacidade, coragem, lealdade, disposição para fazer. Na sua jornada na guerra, Joey participa da cavalaria britânica contra os alemães, e conhece um fazendeiro francês e sua neta, que se encanta pelo cavalo. Entre trincheiras de guerra, Joey precisa ser salvo. Bandeira branca, cessar fogo. Um soldado britânico e outro alemão unem-se para salvar Joe. É quando passa a mensagem de que sempre é possível trégua para negociação, para a racionalidade.
O filme apresenta os horrores da guerra, mas também mostra as muitas faces da simplicidade. Pode-se também no filme observar as limitações tecnológicas da época, se comparada com nossos dias. Em contrapartida, as relações interpessoais guardam semelhanças. Alguns se achavam mais importantes que os outros, somente pelo fato de terem mais dinheiro. Achavam que podiam comprar tudo e todos, e humilhar os que tinham menos. Em um momento do filme há um diálogo entre os pais do garoto Albert. Após ter se endividado e voltado a beber, o pai falou à mãe: “- Agora você não vai me amar mais”. Ela respondeu: “- Poderei te odiar mais, mas nunca te amarei menos”.
O filme termina com uma cena de um entardecer, lembrando Livien Leigh ao pé de uma árvore na fazenda Tara, no filme E o Vento Levou. Saí do cinema, voltei ao mundo, e não esqueci aquela frase: “Poderei te odiar mais, mas nunca te amarei menos”. Quem entende o amor? Durante ou após guerras pessoais há quem se pergunte onde está o amor. A guerra levou? E o vento levou? Nada levou? As perguntas são adultas, mas as respostas parecem ser crianças. Wunderkind.