Viver sempre foi um fantástico desafio para mim. Encontrei duas referências incríveis sobre isso em Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa. Drummond diz que João era “João tudo escondido, florindo como flor é flor, mesmo não semeada, mapa com acidentes deslizando para fora”, que “guardava rios no bolso, cada qual com a cor de suas águas”, enquanto João Guimarães Rosa era assim, enigmático, mas sempre um guia cheio de sensibilidade. Com sua prosa inventiva, especialmente na voz do jagunço Riobaldo, personagem do romance “Grande Sertão: Veredas”, o escritor mineiro nos avisou mais de uma vez: “Viver é perigoso!” Disse mais: “Viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é que é o viver mesmo…” E continua: “Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe.”
Despois do nascimento, seguimos um tempo na proteção dos pais. Mas chega o tempo em que temos de assumir nossa vida e seguir em frente, assumindo nosso destino, sabendo que os perigos estão em toda a parte.
Jogar é perigoso, mas ficar sentado é ainda mais. Viajar de avião é perigoso, mas não viajar é ainda mais. Abrir-se para o futuro é perigoso, mas fechar-se para a vida é ainda mais. Relacionar-se é perigoso, isolar-se ainda mais. Trabalhar é perigoso, mas ficar ocioso é ainda mais. Apaixonar-se é perigoso, mas matar o DNA é ainda mais. Viver é perigoso, mas morrer então, ainda mais.
Apesar de todos os perigos, só nos resta encarar o desafio de, apesar de todos os perigos, viver. Não tem outra saída do que invocar a companhia do anjo e confiar sua alma ao Protetor da Vida. Viver é perigoso, se você tiver medo de viver.