Nas últimas semanas, a mídia nos tem veiculado notícias sobre a violência urbana exacerbada no Brasil. Primeiro foi o caso de Fabiane de Jesus, 33 anos, casada e mãe de dois filhos, que foi linchada por moradores no Guarujá (SP), por ter sido confundida com um retrato falado, espalhado em uma rede social, de uma mulher suspeita de tentar sequestrar uma criança para rituais macabros. Fabiane morreu dois dias após o espancamento. O outro caso foi o do caseiro Francisco Souza de Castro, 66 anos, que foi amarrado e teve o seu pênis e três dedos de sua mão amputados por moradores de Severínia (SP). Um terceiro caso foi o de Márcio dos Santos, 37 anos, deficiente mental que foi gravemente agredido em Farol (Maceió), após ser acometido por um surto que o levou a depredar dois veículos estacionados na rua. Márcio foi encaminhado ao hospital, mas não resistiu.
Atos de barbárie como esses, envolvendo achismos, crises raivosas, e outras emoções à flor da pele, configuram uma nova onda no país, falo dos ataques de “justiceiros” populares. Esses alegam que os órgãos responsáveis pela justiça no Brasil são ineficientes, o que os leva a fazer justiça com as próprias mãos. Justiça? O escambau, o que fazem é vingança nua e crua, fomentada pela mistura de sentimentos de revolta e sadismo.
Aliás, cabe aqui um questionamento: em que sentido nosso senso individual de justiça se atrela mais ou menos à vontade de vingança, que pressupõe a necessidade de ver o outro sofrer muito pelo crime que cometeu? É evidente que todo o crime deve ter o seu castigo. Porém, precisa ser o castigo uma forma de “suplício”, uma ação que produz dor intensa, violenta e duradoura no corpo até causar a morte?
Não é esse o castigo que vigora na lei do nosso país. Em caso de assassinato, o que vigora é a detenção do criminoso numa prisão, que é punitiva, mas que tem o propósito essencial de recuperar o detendo, no sentido de restabelecer nele os valores morais mínimos para sua reintegração social. Sabemos que em realidade isso pouco ocorre. Todavia, o que sabemos pouco, ou pouco percebemos, é que muita gente defende (alguns de forma direta, outros sem notar) que as prisões devam constituir um lugar de tortura físico-mental. Existe também por parte de muitos a defesa da lei do encarceramento perpétuo, ou, em casos de crimes hediondos, a lei da pena de morte – alguns até sugerem modos de extirpar a vida, variando de acordo com o crime: ou por injeção letal, ou pela cadeira elétrica, ou pelo fuzilamento, apedrejamento, decapitação…
Enfim, diante desses acontecimentos bárbaros supracitados e tantos outros (sem omitir o caso do menino Bernardo), sinto assombro e medo. O meu maior medo é ver a geração de meu filho encarar a violência não com senso crítico e/ou com discernimento, que são desarticuladores da violência, mas com impotência e fatalismo, que tomam a violência como algo que faz parte da ordem natural das coisas e que, portanto, nada se pode fazer.