Estava com duas colunas já prontas para dar o reinício da minha participação aqui, mas a história não para. Só a vida para. É justamente sobre a retirada de uma vida que me fez adiar a série “eleições 2020 – o que vi e vivi”.
Sexta-feira 20/11, deveria ser o dia de lembrar da Consciência Negra.
Certamente as lembranças seriam o racismo estrutural, a quantidade absurda de negros assassinados no país inteiro, as faltas de oportunidades, e tudo o que sabemos, vivemos, e de concreto, pouco fazemos para acabar com o preconceito.
Na véspera, no supermercado Carrefour, João Alberto, o Beto, foi espancado até a morte por dois seguranças acompanhados de perto por uma mulher que fazia a filmagem da barbárie.
Todas e todos já sabem que o Beto estava um pouco afastado do caixa onde sua companheira fazia o pagamento das compras.
Todas e todos sabiam e muitos assistiram mais tarde o vídeo e veem o Beto conversar rapidamente com uma mulher que pode ser ou fiscal ou gerente da empresa e, logo a seguir, a presença dos seguranças.
Beto foi levado para fora da loja. Antes de sair, as câmeras mostraram mais tarde, ele desfere um soco em um dos seguranças. A partir daí é o que se viu. É o que se sabe.
Cinco minutos e vinte segundos de pancadaria, de socos, de imobilização, de um joelho nas costas. Os gritos do Beto não foram ouvidos. Alguns possíveis cliente filmavam tudo. Nenhum desses lembrou de que omissão também é crime e não largaram dos celulares para ajudar e quem sabe salvar a vida do Beto.
O país e o mundo passaram a olhar para o Brasil. Lewis Hamilton cerrou o punho esquerdo em homenagem a Beto. Jogadores de futebol no Brasileirão cerraram o punho para homenagear o Beto.
Em locais onde o hipermercado Carrefour tem lojas os protestos vieram em forma de cartazes, de palavras de ordem, de pedradas e gradis nos vidros.
Em Santa Cruz, onde não temos lojas do Carrefour, houve um protesto organizado rapidamente pelo Deni Ladi e reuniu algumas pessoas para pedir o fim do racismo.
Certamente eu não vou ver a erradicação do racismo no Brasil. Espero que meu filho veja. E isto vai ser uma enorme vitória. Os negros e negras que aqui estão têm uma história de 400 anos sofrendo preconceito, sendo humilhados, vivendo em maioria nas periferias e favelas deste país, são julgados pela cor da pele, passam fome, passam dor e passam como o Beto passou.
Frente a tudo isto ainda tivemos o desprazer de ouvir as manifestações preconceituosas do presidente e do vice-presidente do Brasil negando que tenhamos racismo. Onde será que eles vivem?
Mas destes dois, que mais desserviço do que serviço têm dado à nação, pouco ou nada se pode esperar. Ao lado deles os seguidores cegos que se revelaram no seu pior estado de humanismo, querendo justificar o brutal assassinato por mal feitos anteriores. Quiseram e querem fazer da vítima o culpado. E a sociedade segue sua sina de hipocrisia determinada pelos que estão no poder. Uma herança miliciana que um dia vai acabar. E esta eu ainda quero ver