Vincent Van Gogh (1853 – 1890) foi um pintor autodidata, mas teve forte influência do impressionismo durante os dois anos em que morou em Paris. Havia pouco tempo que o Japão havia começado a negociar com o ocidente, e isso colocou esse país em evidência, tendo influenciado também na arte. Nenhuma outra cor fascinou tanto Van Gogh quanto o amarelo. No Japão o amarelo simbolizava a amizade, e representava a glória do sol e o trigo dourado. Até em seus quadros noturnos o amarelo aparecia com destaque. Em Girassóis, uma de suas telas mais famosas, pouquíssima outra cor, como o verde, foi empregada. Nesse quadro, o intenso predomínio do amarelo com a enorme força de expressão que transmite, exige uma técnica impressionante.
Ainda que tenha tido morte prematura, Van Gogh pintou mais de 800 telas. Pintou apenas durante os últimos dez anos de sua vida. Trabalhava dia e noite. Nos meses que antecederam sua morte, Van Gogh produziu cerca de 200 telas. Não raro concluía uma tela em um dia. Então Theo, seu irmão e incondicional incentivador, sugeriu que tanta produção poderia comprometer a qualidade da obra. Vincent respondeu: “Um trabalho mais rápido não significa um trabalho menos sério. Depende da autoconfiança e da experiência de cada um”. Apesar da inicial influência impressionista, Van Gogh foi um mestre expressionista, que marcou o mundo com pinceladas fortes e um poderoso jogo de cores e tons.
Pablo Picasso (1881 – 1973) cresceu e viveu sua juventude na Espanha, onde nasceu. Com potencial e sensibilidade incomuns, aos 19 anos migrou para Paris, na época o centro da arte no mundo ocidental. Quando lá chegou não conseguia vender seus trabalhos, tendo vivido na pobreza. Entretanto, seu talento não demorou muito a ser reconhecido. A primeira fase reconhecida de Picasso foi chamada de período azul. Nela suas telas retratavam circunstâncias terríveis da vida parisiense, como a pobreza e pessoas tristes. Nessa fase um crítico chamou sua arte de “a beleza do horrível”. Quando Picasso montou sua primeira exposição, Félicien Fagus, crítico do La Gazette D’Art, elogiou o talento do pintor. Fagus escreveu: “Dizem que ele ainda não completou 20 anos e que chega a fazer três telas por dia”. Mas Fagus acrescentou uma nota de advertência: “Há um perigo nessa impulsividade, que pode levá-lo à virtuosidade complacente. O prolífico e o fecundo são duas coisas diferentes, como a violência e a energia. Isso seria realmente lamentável na presença de uma virilidade tão brilhante”.
Picasso era versátil e nunca deixou de ousar. Produziu milhares de telas, tendo sua obra alcançado um valor incalculável. Ao lado do francês Charles Braque, revolucionou a arte criando o cubismo. O cubismo marcou uma época, e creio que a história já considere um divisor de épocas.
Você vive no século XXI. O que tem a ver você com Van Gogh e Picasso, que viveram nos séculos XIX e XX? Tudo. Quais são as cores que você escolheu para “pintar” sua obra, seja o que for que para você signifique “pintar” e o que você chame de “obra”? Onde você se situa entre o prolífico e o fecundo? Independente do que você tiver escolhido fazer como profissão ou hobby, tem nas mãos a oportunidade de deixar um legado ao mundo. Isso não se traduz necessariamente pelo grau de fama. Pode não ser fama seu objetivo. Mas precisa haver um sentimento de compromisso. Uma vontade de deixar sua marca pessoal de contribuição ao universo, por mais anônima que ela pareça aos outros. Seja qual for seu ofício, tente fazer de forma que mereça ser chamado de arte, faça com maestria, como uma tradução da sua excelência. Pode ser que o mundo não precise da sua herança material. É possível que ele espere (e a mim parece que necessita) de você uma herança existencial.