Fiquei surpreso ao ouvir de novo, dias atrás, uma queixa sobre a desvalorização das aposentadorias que não condiz com os reais problemas da previdência social neste período turbulento. O fato: funcionário público aposentado diz que não quer nem ver Lula porque durante seu governo e da Dilma a sua aposentadoria de 25 salários mínimos ficou reduzida à metade, em salários mínimos.
Se esse funcionário público, que deve utilizar cotidianamente a matemática nos seus assuntos pessoais, fizer um cálculo simples, verá que sua queixa não tem razão de ser. Trata-se simplesmente de ver o que ele comprava com 25 salários mínimos em 2002 (antes de Lula) e o que compra agora com a dita metade de salários.
Vamos fazer um raciocínio utilizando o dólar como referência. Em dezembro de 2002, o salário mínimo de R$ 200,00 equivalia a 55,0 dólares (dólar a R$ 3,6). O cálculo mostra que 25 salários mínimos representavam 1.375 dólares (25 x 55 = 1.375).
Em agosto de 2016 (último mês de governo de Dilma), o salário mínimo de R$ 880,00 equivalia a 266 dólares (dólar a 3,20). O cálculo indica que a metade de 25 salários mínimos (12,5) representava 3.325,00 dólares (12,5 x 266 = 3.325).
Ou seja: durante os governos Lula/Dilma, o valor em dólar desse aposentado teria passado de 1.357 dólares mensais em 2002 para 3.325 dólares em 2016, situação que se mantém, no principal, até agora. Há estudos que tomam a inflação do período como referência e o resultado indica a mesma coisa: o poder de compra da média das aposentadorias ficou mantido ou aumentou um pouco nos governos Lula/Dilma.
A comparação entre o valor das aposentadorias e o valor do salário mínimo não é adequado, pois tratam de coisas diferentes. O salário mínimo diz respeito ao ganha-pão de milhões de mulheres e homens simples. Seu aumento significou uma vida um pouco mais decente. Reclamar que os pobres estejam ganhando um pouco mais seria uma tremenda falta de sensibilidade.
Há muitos ajustes e correções por fazer, mas os inimigos das aposentadorias não são os governos que aumentaram o salário mínimo. Os inimigos são os que fragilizam a Previdência, desviam recursos para outros fins, praticam a sonegação e propõem reformas que colocam em risco o desenvolvimento econômico futuro. Em tempos de ameaça à Previdência pública, mirar o alvo certo é condição para derrotar os reais inimigos.