Quando seus alunos lhe perguntam onde está Deus, ele rebate com outra pergunta: “E onde Deus não está?” Quando eu quis saber por que nunca se casou, ele brinca em terceira pessoa: “Casamento é loteria. O Guidugli é uma pessoa alegre e, de repente, a esposa se torna chata e ranzinza e termina com a sua alegria de viver”. Quando me disse que morava sozinho, eu quis saber se preparava seu próprio alimento, e ele justificou: “Cozinhar é um dom de Deus. Não adianta fazer de qualquer jeito. Por isso como fora”. Quando lhe questionei se sabia dirigir, respondeu de forma engraçada: “Nesse trânsito tão louco? Nem pensar!”
Todos gostam desse tipo de gente que quase não se vê mais por aí. O professor Marco Antônio Guidugli, 68 anos, é aquele sujeito simples que você fica amigo na hora. Um cara que não precisa de muita coisa para ser feliz. Formado em Ciências Sociais, Guidugli vive zanzando pelas ruas de Cachoeira do Sul, e é chamado carinhosamente de Guidoogle: “O que o Google não sabe, o Guidoogle sabe”, dizem seus amigos. Ao encontrá-lo em um banco da praça, vestindo bermuda, chinelo de dedo e camisa bem amarrotada, não pensei duas vezes e sentei ao seu lado para ouvir suas lições.
Rede social: Deve ser usada para o bem. Quando funciona como uma rede de fofocas não é legal.
Paz: As grandes potências provocam as guerras para vender armamentos e ainda se fazem de boazinhas.
Violência: Os filmes de hoje ensinam a roubar e matar. É tiro pra todo lado! Cadê aqueles filmes que deixam uma mensagem boa? Não se vê mais!
Felicidade: As pessoas estão muito materialistas e pouco espiritualistas. Querem dar uma de Tio Patinhas e tomar banho em dinheiro. E Deus fica em segundo plano. Acham que precisam ter muitos bens materiais para estar felizes. Quando éramos crianças tomávamos banho no rio, hoje todos querem as piscinas. E jogávamos bola na quadra áspera da praça, hoje todos querem as de grama sintética. Esqueceram que a felicidade está nas coisas simples.
Num mundo onde a maioria das pessoas tem uma vida corrida, atribulada e cheia de compromissos, o cachoeirense Guidugli nos passa uma mensagem de que é possível, sim, optar por levar uma vida mais leve e simples. Feliz 2015!