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Uma viagem pela evolução tática

Nelson Treglia
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A tática é um dos aspectos maravilhosos do futebol. Como ela evoluiu? Num CD-ROM (hehehe) da revista Placar lançado nos anos 90, havia as mais variadas informações sobre futebol, entre elas a evolução tática. Conforme aparecia no CD, os primeiros times ingleses, no século 19, jogavam com um goleiro e mais dez jogadores, sem nenhuma distribuição específica. Era como se fossem um goleiro e dez atacantes – pelo menos, assim era o gráfico apresentado pela Placar. Mas aí chegaram os tempos do 2-3-5 (dois zagueiros, três médios e cinco atacantes). Este esquema era o primórdio do 4-3-3. Explico: dos três médios, um era o centromédio e os outros dois eram o que a gente chama de laterais. Dos cinco atacantes, havia o ponteiro-direito, o ponteiro-esquerdo, o centroavante e dois meias. No 4-3-3, o centromédio e os dois meias compõem a formação do meio-campo.

O passo seguinte ao 2-3-5 foi o WM, que surgiu na primeira metade do século passado. O “W” era composto por três zagueiros e dois médios defensivos. O “M” era composto por dois médios ofensivos e três atacantes. O WM era uma resposta direta ao 2-3-5. Afinal, os três zagueiros combatiam os ponteiros e o centroavante (o zagueiro que marcava o centroavante foi a primeira versão do “stopper”).

Depois, veio a chamada linha de quatro zagueiros (dois zagueiros e dois laterais), bastante típica do futebol sul-americano, defendida em tempos mais recentes por técnicos como César Luis Menotti e Carlos Alberto Parreira, um argentino e um brasileiro. O Brasil foi bicampeão mundial em 1958 e 1962 jogando com esse sistema defensivo, no chamado 4-2-4 (um dos quatro atacantes, o ponteiro-esquerdo Zagallo, recuava para compor um terceiro homem de meio-campo). 

Nos anos 50 e 60, o “catenaccio” (o “ferrolho”) colocava em evidência mais uma evolução no sentido defensivo. Um dos destaques deste modelo tático foi a Internazionale de Milão treinada pelo franco-argentino Helenio Herrera, bicampeã europeia e mundial em 1964 e 1965. A presença do líbero era a novidade, jogador que ficava atrás de uma linha de três ou quatro zagueiros. Era uma boa resposta ao 4-2-4: cinco zagueiros (o líbero e mais quatro) poderiam marcar quatro atacantes, o que possibilitaria, teoricamente, melhor segurança defensiva.

Na década de 70, o Ajax e a Seleção Holandesa mexeram com as estruturas táticas defensivas como a do “catenaccio”. A troca constante de posição no meio-campo e no ataque surpreendeu: era o “futebol total”. Mas não durou muito. Na época, o 4-3-3 (lembram do 2-3-5?) era a “bola da vez”, mas tomava corpo o 4-4-2. Era preciso ter meio-campo para ganhar o jogo: atuar com três atacantes já se tornava obsoleto. Em 1978, o Internacional foi campeão gaúcho com um “quadrado” de meio-campo: Caçapava, Batista, Jair e Falcão.

Na década de 80, as seleções da Argentina e da Dinamarca deram destaque ao 3-5-2. Dos três zagueiros, dois “stoppers” marcavam os dois atacantes do 4-4-2 e um zagueiro ficava na sobra como líbero. No meio-campo do 3-5-2, surgem os alas, que são laterais alinhados a três meio-campistas. Portanto, com cinco jogadores no meio-campo, a ideia era dominar os quatro meio-campistas do 4-4-2.

O duelo entre 4-4-2 e 3-5-2 marcou as décadas de 80 e 90. Em 2001, o Grêmio foi tetracampeão da Copa do Brasil com o 3-5-2, influenciando a Seleção Brasileira pentacampeã mundial em 2002. Mas, nos anos 90, já havia uma nova contrarresposta: o 4-5-1. Em 1996, o Milan foi campeão italiano jogando com esse esquema: no meio-campo, eram dois volantes (os velhos centromédios) e três meias. Atualmente, o 4-5-1 é utilizado por muitos times, e sabem de uma coisa: não deixa de ser um retorno ao 4-3-3, muito próximo do 2-3-5 original. Por quê? Dos três meias, dois deles jogam abertos de uma forma semelhante aos ponteiros. E o “1” do 4-5-1 seria, então, o terceiro atacante. Sobram três meio-campistas.

O futebol é, desde sempre, o futebol. Muda, e não muda, ao mesmo tempo.