Luísa Ziemann
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Força, superação e muita fé. E também um punhado de achocolatado e algumas caixas de leite condensado. Esses foram os ingredientes principais para a reviravolta na vida de Suelyn Priscila de Moraes dos Santos, de 31 anos. O ano passado não foi fácil para a santa-cruzense. Doceira, empreendedora e mãe-solo, Suelyn se viu encurralada por uma sequência de problemas que parecia não ter fim.
Entretanto, sua confiança em Deus, o amor incondicional pelos filhos e a vontade de viver não a deixaram desistir. Depois de ver a própria morte de perto e perder tudo o que tinha em um incêndio, este ano tem sido de vitórias. Uma nova casa, um novo empreendimento e a chance de recomeçar.
Tudo corria bem até março do ano passado, quando Suelyn e seu filho mais velho, Lorenzo, de 9 anos, foram diagnosticados com covid e dengue simultaneamente. “Eu fiquei muito mal por conta da covid, tive que ser internada e quase precisei ser entubada. O Lorenzo foi a primeira criança do Estado a pegar covid e dengue junto, ficou com 40% dos pulmões comprometidos”, conta a doceira. Foram momentos de pânico e tensão, mas que mãe e filho conseguiram superar e se recuperar.
No feriado de 1º de maio, entretanto, mais um susto. “Eu acordei queimando em febre, fui para o plantão médico e descobri que estava com dengue hemorrágica”, lembra Suelyn. “Em seguida minha mãe me ligou para avisar que o Lorenzo também apresentava sintomas.” O que parecia muito improvável, aconteceu: os dois foram diagnosticados mais uma vez com dengue, desta vez a hemorrágica. “O Lorenzo teve complicações no hospital, contraiu hepatite medicamentosa, ambos tivemos que passar por transfusão de sangue, ficamos muito fracos e debilitados, mas mais uma vez nos recuperamos.”
Entre junho e julho, com o processo de recuperação já avançado, Suelyn pôde se dedicar com mais intensidade à sua doceria, a Kitutes Vargas. “Como já produzia doces há oito anos, eu já tinha um nome conhecido na cidade. Após o período de pandemia, com a retomada das festas de aniversário, casamentos e outras, voltaram também os pedidos. Então os meses de junho e julho do ano passado estavam sendo bons. Estava recebendo cada vez mais pedidos e meu negócio crescendo.”
No dia 11 de agosto de 2021, porém, o destino resolveu pregar mais uma peça em Suelyn. “Fui fazer um orçamento para uma festa de 15 anos e, saindo da casa dessa cliente, sofri um acidente gravíssimo. Um rapaz dirigindo uma Doblô deu sinal que iria dobrar à direita, mas dobrou para esquerda. Ele me acertou em cheio e fugiu sem prestar socorro. Eu fraturei toda a minha perna”, lamenta. “Quebrei tíbia, fíbula, tornozelo, canela, pé. Além de fraturar o maxilar, as costelas e levar pontos no supercílio.”
Suelyn conta que neste momento começou a perder seu chão. “Depois de meses fechada por conta da pandemia, a loja já podia estar aberta naquela época, o movimento estava voltando e eu estava começando a retomar os pedidos de maneira normal. Aí tive que parar tudo, fechar a loja e passar por uma série de cirurgias”, lamenta. “Além disso, o Lorenzo tem autismo, precisa da minha atenção. Foi aí que decidi fechar a loja e levar todos os materiais para dentro de casa, com fé de que conseguiria recomeçar.”
Uma história de força e fé: do sinistro ao recomeço
Mesmo com as inúmeras dificuldades que apareciam frente à Suelyn, a doceira nunca pensou em desistir daquilo que mais ama: produzir delícias como brigadeiros, tortas e salgados. Durante o período de recuperação pós-cirurgia, a santa-cruzense fez uma pausa forçada em suas produções. “Sinto muitas dores até hoje, mas voltei a andar. Algo que os médicos chegaram a falar que não seria possível.” Foi quando, em novembro, três meses após os médicos liberarem Suelyn a caminhar com o auxílio de muletas, novamente um susto. “Era feriado de Finados, me lembro bem. E eu só agradeço por, naquele momento, já conseguir sair da cama, pois se não eu não estaria mais aqui.”
Isso porque esta foi a data da maior tragédia da vida da doceira. Era um feriado de muito calor e por isso os filhos Lorenzo, de 9 anos, e Bernardo, de 6, foram até a casa dos pais de Suelyn, que moravam bem em frente, no mesmo pátio, para tomar banho de piscina. “No que eles entraram na piscina, minha casa simplesmente explodiu. Não sobrou nada.” Por conta de um superaquecimento nos fios elétricos, o que ocasionou uma explosão, a família viu, literalmente, a residência onde moravam no Bairro Santo Inácio ser consumida pelo fogo.
O acontecimento colocou toda a fé de Suelyn à prova e para ela foi um dos momentos mais difíceis que a família já enfrentou. “A perda da nossa casa foi muito mais dolorosa do que o fechamento da loja. Meus filhos vivenciaram esse incêndio. Só conseguimos correr para o outro lado da rua e assistir toda a casa pegar fogo”, relembra. “Não ficamos com nada. Foi um momento muito tenso. Mas eu tinha que me manter forte por eles. E foi o que eu fiz até agora.”
Uma grande corrente de solidariedade surgiu em Santa Cruz do Sul após o sinistro. O acontecimento foi divulgado na mídia e muitas pessoas se mobilizaram para arrecadar doações, buscando diferentes formas de ajudar Suelyn a reerguer sua vida – mais uma vez. “Eu não sabia por onde começar. Só orei muito e pedi forças para Deus. Ele me enviou muitos anjos, sou grata a todas as pessoas que me ajudaram. Eu tinha que recomeçar de alguma forma. Começar a viver novamente.”
“Estou dando nova vida a essa doceira”, comemora Suelyn
Mas, como recomeçar diante de tantas tragédias e percalços? Suelyn apostou em fazer o que ama. “Após o sinistro, acabei alugando uma casa e com as doações que recebi fui colocando móveis e comida para dentro de casa. Fiz uma cozinha e comecei a vender os doces novamente. Foi a forma que encontrei para recomeçar”, salienta a doceira. Com a retomada da Kitutes Vargas, a santa-cruzense produzia de tudo um pouco – mas já com mais dedicação aos doces.
Entretanto, não era exatamente isso que o destino reservava para sua vida. “Em determinada noite, tive um sonho onde estava em uma loja muito colorida. Mas nesse sonho eu não via tortas e nem salgados, via apenas brigadeiros. De todas as formas. Esse sonho foi se repetindo várias vezes e isso começou a me incomodar. Até que eu despertei: era um sinal. Uma luz para eu seguir.”
Poucos dias depois a empreendedora foi até uma loja chamada Casa do Doce, onde comprava os produtos necessários para produzir seus doces e tortas. “Naquela noite tive outro sonho, com a mesma loja colorida de sempre, e na fachada estava escrito “Casa do Brigadeiro”. Eu resolvi seguir esse sonho. E a partir daí as portas começaram a se abrir, as ideias foram se criando e eu coloquei tudo em prática. Segui o meu coração.”
Foi em questão de poucas semanas que ela encontrou o ponto da sua nova loja, adquiriu os equipamentos necessários e que, então, o sonho finalmente se tornou real: inaugurou no dia 1º de outubro a Casa do Brigadeiro em Santa Cruz do Sul. Localizada na Rua Senador Pinheiro Machado, 1.185, o empreendimento é fruto de força, superação e muita fé. “Eu tive que começar tudo do zero, até conseguir me reerguer. Estou dando nova vida a essa doceira”, destaca.
Nessa nova fase, Suelyn se vê ainda mais forte e determinada. Mulher, mãe-solo, dona de casa, empreendedora. São tantas as atribuições que a fazem uma verdadeira guerreira. “Deus me tirou da minha zona de conforto e me deu forças para que tudo acontecesse da melhor forma. Ele me deu uma casa melhor do que a que eu tinha, uma loja melhor do que a que eu tinha”, afirma. “Hoje, se vejo que alguma pessoa não está conseguindo ir em busca do seu sonho, é essa a mensagem que eu tento passar. Não podemos deixar nossos sonhos morrerem, precisamos ficar cada vez mais fortes.”
Hoje, a Casa do Brigadeiro oferece os mais variados tipos deste doce que é preferência nacional. Focada exclusivamente no produto feito à base de leite condensado e chocolate, na loja é possível encontrar as opções tradicionais, gourmet, saborizadas, sem glúten e lactose, veganas e muito mais. Além disso, Suelyn é responsável pela criação de brigadeiros em formatos de balas, de cones e também servidos em potes. O estabelecimento funciona de segunda a sexta-feira das 8h30 às 18h30 e aos sábados das 8h às 17h. Além dos itens disponíveis no local para pronta entrega, a doceira aceita encomendas.