Professor: O que é “viver bem”?
Aluno: Viver bem é ser feliz, é estar perto das pessoas que gostamos, é não passar por dificuldades, é fazer o que gostamos de fazer.
Professor: Respostas previsíveis; eu mesmo, na sua idade, optaria pelas mesmas. Contudo, você me permite “entrar na contramão” de suas respostas?
Aluno: Claro, por favor!
Professor: Você não acha que passar por dificuldades também subentende “viver bem”, uma vez que as dificuldades nos permitem criar raízes mais fortes para a vida? Ou então, estar junto de pessoas que não gostamos, não nos permite um aprendizado sobre “como conviver”? Ou quando estamos tristes, melancólicos, imersos em angústia, “p… da cara”, não experimentamos sensações que de um modo ou de outro acabam por fortalecer nosso ‘espírito’? Aliás, que ‘gostinho’ teria a vida se fôssemos privados de situações de enfrentamento? Que seria de nós sem algum mal estar existencial?
Aluno: Pensando por este viés, acho que você tem razão.
Professor: Quero responder a estas perguntas, não sem conceder a você o total direito de discordar, senão vejamos: quando sentimos mal estar é porque somos acometidos de uma sensação chata de que algo nos falta (nos falta prazer, contentamento, sossego, paz etc.). Ora, se sentimos muito a falta de alguma coisa, então imediatamente somos envolvidos por um desejo intenso de obter o que nos falta, ou, ao menos, em obter respostas, uma luz que nos traga compreensão etc. Nesse sentido, se desejamos, então já dispomos de um mecanismo propulsor básico que nos faz “levantar a bunda do sofá” e agir. Concorda?
Aluno: Analisando logicamente por esta perspectiva, posso dizer que sim.
Professor: Imagine agora se nosso cotidiano fosse marcado pelo bem estar constante, sem problemas, sem dificuldades, uma existência serena onde a paz reinasse soberana.
Aluno: Calma professor; isso já me soa um tanto utópico.
Professor: Justamente! Entretanto, vamos nos permitir ao menos neste momento, pensar nessa possibilidade: uma vida sem mal estar. Ora, se não sentimos mal estar é porque a falta de algo não pesa sobre nosso ‘espírito’. Se não sentimos essa falta, então, o desejo também não se manifesta com a intensidade da qual falávamos. Se não desejamos intensamente, então também não dispomos do mecanismo propulsor básico para nos fazer agir – quando falo, aqui, em agir, é no sentido de “proatividade”, ou seja, falo de um agir que não espera uma reação de ou a algo, mas toma iniciativa de ação.
Aluno: Entendo perfeitamente.
Professor: Pois bem. Assim, resumindo, o bem estar constante nos gera a acomodação em muito maior escala. Eu particularmente não gosto muito da palavra “acomodação”, pois me remete a outras, como “conformismo social”, “submissão”, “heteronomia”…
Aluno: O que o senhor está dizendo é que algumas doses de mal estar nos são necessárias, pois nos permitem o crescimento intelectual, cultural, social, político e moral. Estou certo?
Professor: Certíssimo. Entendeste bem. Tenho a convicção de que esse crescimento nos é imprescindível.
Aluno: Interessante – o senhor não aborda o tema pela via do pessimismo, como muitos fariam ao dizer que o mal estar é necessário. O senhor aborda justamente pelo viés oposto, o do otimismo.
Professor: Exato. Um otimismo mais “pé no chão”, eu diria, que implica aceitar as circunstâncias da vida não passivamente, mas ativamente, no sentido de utilizá-las para o nosso desenvolvimento progressivo. Isso me faz lembrar da célebre frase do poeta Oscar Wilde: “A insatisfação é o primeiro passo para o progresso de um homem ou de uma nação”. Trata-se de uma ética da compreensão, de uma arte da própria existência.