A narração oral existe desde que o homem é homem. Contamos histórias todos os dias, histórias curtas, acontecimentos cotidianos, contos pessoais. Humberto Maturana, reconhecido neurobiólogo chileno, acredita que a transformação do cérebro humano está relacionada com a linguagem. O peculiar do humano, diz ele, “não está na manipulação, mas na linguagem e no seu entrelaçamento com o emocionar”.
O fato é que somos seres linguajantes, orais. Há certas pessoas, porém, que se tornam brincantes de palavras. “Tenho necessidade de ver as palavras pularem do papel e se mexerem dentro das pessoas, de preferência na vida de todos os dias”, diz Regina Machado (2004).
Dia 20 de março é dia para celebrar com os brincantes de palavras, as histórias, a poesia, a oralidade. Isso mesmo, dia 20 de março é o Dia Internacional do Contador de Histórias. Não há uma explicação exata para esta data, porém, este dia, que é celebrado em todo o mundo, mas principalmente na Europa, coincide com o início da primavera no hemisfério norte e do outono no hemisfério sul, um período visto pelos povos antigos como místico.
Os primeiros registros do evento vêm da Suécia, onde em 20 de março de 1991 foi celebrado o Dia de Todos os Contadores de Histórias. Com o passar dos anos o movimento foi tomando força, tornando o evento conhecido internacionalmente como o Dia Mundial do Contador de Histórias. Em 2005 já eram 25 países a celebrar a data e hoje estima-se mais de 46 países, dos cinco continentes.
Como podem ver, em tempos de múltiplas tecnologias a arte de narrar histórias vai ganhando espaço na vida das pessoas. Espaço de encontro e encantamento. Ver as pessoas encantarem-se pelo livro e pela leitura não é o objetivo primeiro de um contador de histórias. Na verdade, este encantamento literário é uma consequência do nosso trabalho. O objetivo primeiro é promover o encontro, é abrir espaço para o lúdico, para o prazer, para a imaginação e para a criatividade na vida das pessoas.
O Dia Internacional do Contador de Histórias ainda é uma data pouco lembrada aqui no Brasil. Em Santa Cruz do Sul ainda não celebramos a data, mas nossa festa literária máxima, que é a Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, é um evento que vem valorizando a cada ano mais a arte da narração oral.
No Brasil, há muitas datas para celebrarmos a leitura, a literatura, o conto, a poesia. É preciso manter acesa a chama do encantamento literário, para que o sensível jamais deixe de fazer parte do ser/fazer humano.
Que a lembrança do Dia do Contador de Histórias possa mobilizar histórias adormecidas na lembrança de cada um de nós e que possamos neste dia compartilhá-las com alguém. Pais, avós, professores, bibliotecários, amigos, vamos brincar de contar histórias? Mesmo que uma história bem curta, uma brincadeira de trava línguas, uma cantiga de rodas. Cada um celebrando na medida em que sua voz alcança.
Este é o primeiro convite do ano. Quem sabe, até chegar a época das histórias natalinas já tenhamos descoberto o prazer de estar junto daqueles que gostamos, ou de fazer novos amigos, através do prazer e da arte de narrar, inventar e brincar com as histórias?! O convite está feito!!
*Professora Universitária e Contadora de Histórias