Fabrício Goulart
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Após dias de caos no Rio Grande do Sul, que até ontem à tarde contabilizava 41 mortos, 3.046 pessoas desabrigadas e 7.781 desalojadas em razão das enchentes, uma onda de solidariedade tomou conta do Estado. Em Santa Cruz do Sul, as arrecadações começaram na quarta-feira, dia 6, antes do Feriado do Dia da Independência e seguem mobilizando a comunidade. Colchões, roupas de cama, água, alimentos não-perecíveis e fraldas descartáveis estavam entre os materiais já destinados à região vizinha do Vale do Taquari – a mais atingida pela tragédia.
O governo federal reconheceu na quinta-feira o estado de calamidade pública de municípios do Rio Grande do Sul afetados pelas chuvas intensas. Conforme balanço divulgado pela Defesa Civil estadual, são 83 municípios afetados. No total, 123.268 pessoas foram atingidas e 25 ainda seguem desaparecidas. Das mortes registradas, a maioria, 15, foi registrada em Muçum, município de menos de 5 mil habitantes, que teve 85% de sua área afetada.
Divulgação/Marcelo Caumo
Muçum foi justamente um dos municípios que recebeu auxílio de Santa Cruz do Sul, juntamente com Cruzeiro do Sul. Na manhã de quinta, a prefeita Helena Hermany contatou o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, para buscar orientações sobre as reais necessidades daquela região, e de como proceder na distribuição dos materiais arrecadados.
Até às 20h de quarta-feira, o município havia arrecadado a quantia de três caminhões de doações. “Temos aqui caminhões de várias empresas de Santa Cruz que estão nos auxiliando. A orientação é para que as pessoas tragam para cá, no Palacinho, que não levem direto aos municípios atingidos, por não terem estrutura e logística para o recebimento das doações”, salienta.
A maior necessidade, no momento, seguem sendo produtos de limpeza, como alvejantes, baldes, vassouras, rodos e pás, para que as pessoas atingidas possam limpar e higienizar suas residências. Também é solicitada a doação de roupas íntimas e produtos de higiene pessoal. As doações podem ser entregues no Palacinho da Praça da Bandeira até o próximo domingo, dia 10.
Ontem, 65 voluntários de Santa Cruz do Sul partiram pela manhã com destino a Roca Sales, outra das cidades mais afetadas pelas cheias no Vale do Taquari. O primeiro ônibus, disponibilizado pela empresa Viação União Santa Cruz, partiu da Praça da Bandeira às 7h, com 45 passageiros. O segundo transporte foi disponibilizado pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), levando mais 20 pessoas da comunidade.
Agência Invistanasuaimagem
De acordo com a coordenadora da ação, Adriele Vargas, da Secretaria de Desenvolvimento Social, a maioria dos voluntários é de Santa Cruz, mas conta também com integrantes da cidade vizinha de Vera Cruz. Entre as pessoas que se dispuseram a ir até o Vale do Taquari, conforme informações do Executivo, estava a manicure Angélica do Nascimento, de 33 anos.
Em plena sexta-feira, dia em que geralmente realiza o maior número de atendimentos a domicílio, abriu mão do trabalho para fazer uma boa ação. “Fiquei comovida com o que aconteceu com aquelas famílias. Estou indo para poder ajudar no que for preciso, ajudar o próximo faz bem”, disse, ela que integra o grupo Unidos do São João, do bairro de mesmo nome, de Santa Cruz do Sul.
Sílvio Ávila/AFP/Metsul Meteorologia
Previsão de mais chuva
Após uma trégua das chuvas, o tempo voltou a ficar instável no final da quinta-feira, e deve se estender até o sábado. Conforme informações divulgadas pela MetSul Meteorologia, uma frente fria avançou pelo Rio Grande do Sul e os demais estados do Sul, o que possibilita um elevado risco de chuva e temporais isolados com vento forte e granizo. A frente trará chuva nos três estados do Sul, no Nordeste da Argentina e o Paraguai.
No Vale do Taquari, a chuva pode ser forte a torrencial por curto período e deve causar alagamentos. Contudo, segundo a Metsul, não será suficiente para gerar repique de cheia onde os rios baixam, embora preocupe o risco de temporal em alguns pontos com vento forte.
A frente fria se desloca muito rapidamente e em uma forma de linha bastante organizada, com ar muito quente em sua dianteira, o que favorece um elevado risco e potencial de vento forte.
Caixa libera saque do FGTS para atingidos
A Caixa Econômica Federal liberou o saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) por calamidade aos trabalhadores residentes nas localidades atingidas pela tragédia climática. É necessário que o trabalhador tenha saldo na conta do fundo e não tenha realizado outro saque pelo mesmo motivo há menos de 1 ano. O valor máximo para retirada é de R$ 6.220.
O Governo Federal já reconheceu a situação de calamidade pública do Estado para viabilizar o benefício. As prefeituras, agora, deverão declarar ao banco as áreas que foram afetadas pelo desastre. A população poderá realizar o saque do FGTS de forma digital por celular ou pelo aplicativo FGTS, sem a necessidade de comparecer a uma agência bancária.
Ao fazer solicitação, o beneficiário poderá indicar uma conta do próprio banco ou de qualquer outra instituição financeira para receber os valores, sem nenhum custo.
Rodovias bloqueadas
As fortes chuvas provocaram danos e alterações também no tráfego das rodovias gaúchas. Até ontem, de acordo com informações do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), dez trechos estavam com bloqueios totais ou parciais em seis rodovias. Duas pontes foram destruídas pelas chuvas, na ERS-448, entre Farroupilha e Nova Roma do Sul, e na ERS-431, em Bento Gonçalves, no limite com São Valentim do Sul.
A Secretaria de Logística e Transportes, por meio das equipes do Daer e da EGR, trabalha para desobstruir as rodovias o mais rápido possível, de maneira a garantir o tráfego de veículos e pedestres – e também para que as doações possam chegar às populações dos municípios atingidos pelas chuvas.
Rio das Antas
Em Bento Gonçalves, moradores da Linha Alcântara, no Distrito de Faria Lemos, alegam que a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) teria aberto comportas e causado a inundação da região – que teve cerca de 40 casas destruídas. A Procuradoria-Geral do Município deu prazo de 48 horas para que a empresa esclareça o que de fato aconteceu. O rio teria começado a se elevar rapidamente na segunda-feira, dia 4.
