Luísa Ziemann
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Não são somente gremistas e colorados que vivem uma grande rivalidade no mundo do futebol em Santa Cruz do Sul. A dupla Ave-Cruz movimenta a cidade e tanto Avenida como Santa Cruz são os times do coração de muitos moradores apaixonados pelo esporte. Neste ano, os dois clubes do município vivem momentos bem distintos. Após conquistar o acesso à elite do futebol gaúcho, o Periquito tem como principal objetivo garantir uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro. Já o Galo disputará a Divisão de Acesso, com o sonho de voltar a figurar entre os principais do Estado.
Depois de três árduas temporadas na Divisão de Acesso, o Avenida está de volta à elite estadual. Vivendo uma boa fase e novamente entre os maiores do Rio Grande do Sul, este ano a meta é não somente se manter na Série A1 Divisão Especial mas também brigar pela taça do Campeonato Gaúcho. Outro objetivo do clube alviverde é voltar a marcar presença nas competições nacionais: a Série D e a Copa do Brasil.
A equipe que compõe o quadro da nova temporada teve 12 novas contratações e a permanência de remanescentes das últimas campanhas. Entre os novos atletas, nomes como Wesley Pionteck, que passou por clubes como ABC, Bragantino e Santos, e Guilherme Garré, ex-ABC, Figueirense, Santo André e Botafogo. Para dar continuidade ao trabalho que levou o Periquito à primeira divisão, a direção apostou no retorno de Márcio Nunes, figura bem conhecida dentro dos Eucaliptos, responsável pelo comando da equipe nas últimas duas temporadas, e na permanência de oito jogadores. O goleiro Rodrigo, o lateral Lucas Lopes, os zagueiros Micael e Jessé, os volantes Jhonata e Rafael Carrilho e os meias Jefferson e Alexandre estiverem presentes no Acesso de 2022.
A formação de uma equipe mista, com jovens e experientes, pode render bons frutos. Nas cinco partidas realizadas na pré-temporada, o Nida venceu Aimoré e Juventude por 1 a 0 e fez 3 a 0 em um selecionado de atletas de Santa Cruz e Cachoeira do Sul. Além disso, empatou com Grêmio sub-20 (sem gols) e Brasil de Pelotas (1 a 1). Na estreia no Gauchão, no último domingo, 22, contra o Novo Hamburgo, no Estádio do Vale, empate em 0 a 0. Amanhã, às 19h, o Periquito recebe o Internacional no Estádio dos Eucaliptos e tem um grande desafio pela frente. A disputa, porém, não amedronta a torcida alviverde.
Para Chico Koppe, que é torcedor do Periquito desde que nasceu, visto que seu pai, Evaldo, foi um dos fundadores e primeiro presidente do clube, esse será um grande ano para o clube. “Em questões de conquistas, sabemos que será mais difícil porque o nível da competição é muito maior”, pondera. “Sempre que o Avenida disputa a primeira divisão, passa por algumas dificuldades, como todos os clubes do interior do Estado. Mas o time está no mesmo patamar dos demais, não vai voltar a cair este ano. Sabemos que é diferente de quando disputamos a Série A2, onde o clube é sempre candidato a ser campeão ou vice.”
Na opinião do avenidense, a diretoria alviverde fez boas contratações. “Ano passado ficou nítido que o Avenida tem uma ótima defesa. Reforçaram ainda mais essa defesa, contrataram outro bom goleiro. Até mesmo o ataque, que não era tão positivo, também foi bem reforçado”, avalia. “Vamos ver se essas contratações vão dar certo, mas elas foram bem feitas. É um campeonato muito curto, de apenas 11 jogos, onde cada jogo se torna decisivo.”
A última aparição do Avenida, tanto no Gauchão como em competições nacionais, foi em 2019. Naquela temporada, o Periquito viveu uma mistura de sensações, com rebaixamento no Estadual e uma campanha histórica na Copa do Brasil. O time, que era comandado por Fabiano Daitx, eliminou o Guarani de Campinas na primeira fase e chegou a abrir 2 a 0 de vantagem sobre o Corinthians em São Paulo na etapa seguinte, mas acabou sofrendo a virada e foi eliminado com derrota por 4 a 2. Mesmo com o revés, a partida é um marco histórico para o clube.
Para alvinegro, momento é de arrumar a casa
No ano passado, o Santa Cruz foi eliminado pelo Esportivo nas quartas de final da Divisão de Acesso e deu adeus ao sonho de retornar para elite do futebol gaúcho. Como a Série A2 inicia somente após o Gauchão, o Galo vai aproveitar os primeiros meses de 2023 para colocar ordem na casa. Já em setembro do ano passado a direção do clube anunciou a comissão técnica para a nova temporada.
Quem comandará a equipe é Daniel Franco, de 51 anos. Natural de Butiá, na Região Carbonífera do Estado, ele foi lateral-esquerdo e esteve no elenco do Internacional em 1992, quando o Colorado foi campeão gaúcho e da Copa do Brasil. No Santa Cruz, Franco teve passagem como jogador em 2003. Sua carreira como treinador iniciou em 2015 e, desde então, já passou por Novo Hamburgo, União Frederiquense, Lajeadense e São Luiz. O novo técnico irá atuar juntamente com o auxiliar Rodrigo Soares da Rosa e o preparador físico Rogério Trentin.
Para o fanático pelo Galo Irineu Roesch, de 77 anos, o clube deve encarar o desafio da Série A2 de cabeça erguida, focado no retorno ao primeiro nível. “É claro que o torcedor vai viver a expectativa de garantirmos o acesso, o que eu acredito que vá acontecer. Temos plena capacidade para isso”, acentua Roesch, que atualmente ocupa o cargo de assessor da presidência no clube e auxilia nas decisões quando consultado.
Ele explica que, pelo calendário da equipe iniciar somente daqui dois meses, ainda é cedo para opinar sobre as necessidades de contratação. “Alguns jogadores já foram contratados, mas o Departamento de Futebol ainda vai fazer uma avaliação do que o clube precisa buscar. Antes de abrir a temporada, ainda é muito prematuro opinar.”
Mas o torcedor, que há pelo menos 70 anos se diz apaixonado pelo clube e contabiliza 25 anos de mandatos dentro do mesmo, está confiante de que 2023 será um ano de vitórias. Talvez sofridas mas, ainda assim, vitórias. “No futebol não existe nada fácil. Cada rodada é um novo desafio, é uma nova história. Em um campeonato como esse não há tempo a ser perdido, é preciso trabalhar focado em buscar seus objetivos.”
Enquanto o time não entra em campo, o clube trabalha internamente. Direção e comissão técnica já fazem avaliações de atletas e projetam a equipe que irá disputar o campeonato. Sem jogos acontecendo, o Galo também aproveita o espaço de tempo para fazer manutenções na estrutura do estádio, como no refeitório e no gramado.
Além disso, o Centro Esportivo Santa Cruz deve iniciar suas atividades no próximo mês. A organização não governamental atua juntamente com o Galo na formação e revelação de talentos na escolinha e nas categorias de base. A ONG é captadora de recursos, um mecanismo do clube para instrumentalizar a base. O centro esportivo injeta os recursos e os atletas, que têm entre 6 e 17 anos, jogam em nome do clube, que é a entidade federada para participar das competições oficiais.