Início Colunas Tomate cru

Tomate cru

Todos vimos estarrecidos o lateral colorado Fabrício ser vaiado pela própria torcida no jogo contra o Ypiranga, fazer gestos obscenos em direção à arquibancada e, após ser expulso, perder a cabeça, tirar a camisa e jogá-la no chão. Fabrício atacou algo sagrado! Uma camisa de um time não é uma camisa como qualquer outra, mas um manto sagrado que deve ser respeitado. E quem desrespeita camisa de time não é digno de perdão. Prova disso é que até o presidente Vitorio Piffero o desamparou: “Fabrício machucou o torcedor!”.
Mas o que dizer dos torcedores que aparecem nas imagens xingando o jogador? “Eu só disse vai ‘tomate cru’”, justificou um deles. Os torcedores não machucaram o Fabrício?
Ao assistir a cena, eu chorei. Quando era atleta, fui vaiado várias vezes. Mesmo tendo sido um jogador habilidoso com a bola nos pés, eu não tinha muita força física e isso irritava os torcedores que gostam de um jogo pegado. Eu sei que, ao contrário de outros esportes, as vaias fazem parte do futebol. O torcedor se acha no direito de vaiar, xingar e ofender um ser humano que, por algum motivo, não está correspondendo às suas expectativas.
Já pensou se em outras profissões fosse assim também? Como seria se um vendedor que não consegue alcançar os objetivos traçados, fosse recebido com vaias ao chegar à empresa? Ou se uma professora entrasse em sala de aula e fosse vaiada pelos alunos? A verdade é que, num mercado cada vez mais competitivo, independentemente de nossos problemas pessoais, temos que ser os mais inteligentes, os mais bonitos, os mais rápidos… o tempo todo. Ah, e ainda arranjar um jeito de manter a cabeça no lugar se alguém nos tirar do sério.
Conta-se que um homem foi a júri por ter agredido um vizinho. Seu advogado iniciou a sua defesa:
– Exmo. Sr. juiz, senhores jurados e público presente… Exmo. Sr. juiz, senhores jurados e público presente… – e repetiu sua apresentação várias vezes até ser interpelado pelo juiz:
– Sem mais delongas, senhor, já estou ficando irritado!
De imediato o advogado respondeu.
– Exmo. Sr. juiz, veja como o senhor se irritou porque repeti algumas vezes minha apresentação. Imagine, então, meu cliente que ficou ouvindo por anos seu vizinho passar em frente à sua casa e lhe mandar “tomate cru…”
O réu foi absolvido.