Aviso na parede da igreja: “Por favor, não deixe seus pertences largados nos bancos para não dar margem às pessoas imaginarem que eles são uma resposta às suas orações”. Será que não se pode confiar em mais ninguém?
Antes dos protestos do dia 15, eu estava batendo um papo com um amigo, empresário bem-sucedido e que admiro bastante, sobre a corrupção deslavada no Brasil, quando ele me disse: “Sérgio, todo homem tem seu preço”.
Não consegui tirar isso da cabeça. Se todos têm um preço, então em quem podemos colocar nossa confiança – e esperança -? Será que o “fio de bigode” e a vergonha na cara viraram coisas do passado? E se é verdade que todos têm seu preço, eu, ele – e você – também temos. Será?
Em 1978, o senador Paulo Brossard afirmou: “Democracia neste país é relativa, mas corrupção é absoluta”. Em 1992, Mario Amato, presidente da Fiesp, confessou: “Todos nós somos corruptos”. E em 1988, o presidente Lula – quando ainda não nomeava ministros – ironizou: “No Brasil, quando um pobre rouba vai para a cadeia, mas quando um rico rouba, vira ministro”.
Mas as coisas não foram sempre assim. Houve uma época em que o Brasil tinha o café como seu principal commodity de exportação. Porém, um dia chegou aos ouvidos do então presidente Getúlio Vargas a notícia de que o produto estava sendo contrabandeado para o lado paraguaio. Rapidamente, o presidente buscou nas fileiras das forças armadas um coronel amigo de confiança e o transferiu para a fronteira com o Paraguai para estancar o contrabando – missão que foi cumprida com sucesso.
Passados alguns meses, eis que o tal coronel procurou Getúlio Vargas:
– Meu caro presidente, gostaria que me retirasse imediatamente daquele comando de fiscalização de fronteira com o Paraguai.
– Posso saber qual o motivo?
– Eles estão chegando ao meu preço…
Que meu amigo me perdoe, mas eu preciso continuar acreditando que ainda hoje há pessoas que não se vendem por dinheiro algum – você, com certeza, é um deles. Do contrário, perco a esperança no ser humano!