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Thomé: 'Resistir para superar'

LUANA CIECELSKI
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Indicadores divulgados pela Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Rio Grande do Sul mostram que 2016 não foi um ano fácil para a saúde do Estado. Entre janeiro e novembro, 12,20% das instituições reduziram leitos, 41,46% enxugaram o quadro funcional – o que representa 4 mil demissões efetuadas -, 20,73% reduziram internações e 19,51% reduziram os atendimentos ambulatoriais e todas, sem exceção, possuem dívidas e déficits financeiros.

Para os hospitais da região, apesar de eles virem se mantendo, não foi muito diferente. Durante entrevista ao Riovale Jornal, o diretor do Hospital Santa Cruz (HSC), Vilmar Thomé, fez um balanço do ano que encerra e conta sobre as expectativas para 2017, garantindo que a instituição, apesar de todas as dificuldades, está resistindo e acredita em uma recuperação financeira. 

Thomé:

Como está a dívida do Hospital Santa Cruz? Como o hospital encerra o ano financeiramente?

O ano de 2016, em termos financeiros, foi muito parecido com o ano de 2015. 2015 foi um ano em que o déficit aumentou por conta da saída do Estado do processo de co-financiamento, o IHOSP, e isso fez com que os recursos diminuíssem. O município já tinha reduzido em 2014 e então continuamos com o déficit. Em termos operacionais, até ficamos equilibrados em 2016, mas tem uma dívida acumulada, né? Fica em aproximadamente R$ 1 milhão por mês de déficit financeiro. 

O que vocês estão recebendo efetivamente de repasses?

Do Governo Federal, o volume de recursos é baixo, mas ele tem vindo. Às vezes atrasa algumas semanas, alguns dias, mas ok. O grande problema é que a tabela SUS continua defasada, o que dificulta. Outro grande problema é que em relação ao Governo do Estado nós temos recursos e programas com alguns meses de atraso. Isso acarreta um problema adicional. Além do valor já ser baixo, ele ainda é irregular. 

E não tem expectativa de mudança para o ano que vem?

Expectativas, sim. Para o ano que vem, sim. O Governo Federal está fazendo um ajuste, o Governo do Estado está fazendo um ajuste. A questão é que não há nenhum compromisso formal com nenhum segmento. Nem saúde, nem segurança, nem educação. Áreas que eu acredito que deveriam ser protegidas nessa situação toda. Ajuste é uma coisa, cortes drásticos é outra bem diferente. Mas os hospitais, o sindicato dos hospitais, a confederação dos hospitais, todos nós vamos continuar insistindo nessa pauta, porque ela é uma pauta que acaba afetando a sociedade. 

Há pouco você falou de ajustes. Vocês estão acompanhando essas medidas propostas pelo presidente Michel Temer? Como veem elas?

Ah, com grande pesar. Não as medidas como um todo. Evidente que tem que ser feitos ajustes. Mas foi dito que saúde e educação não seriam afetadas. E não é bem assim que está acontecendo. Existe um risco de prejudicar ainda mais um setor que já vem sendo prejudicado há mais de 20 anos (saúde). Não é contra ajuste, não é contra reorganização. É que se coloca tudo no mesmo patamar, e a saúde e a segurança estão afetadas há muito tempo. É necessário aumentar os recursos nessas áreas. É só comparar os dados do Brasil com os de outros países da América Latina e vai se ver que no Brasil se investe menos por habitante em saúde do que em outros países da América Latina. 

Mudando um pouco de assunto agora, apesar de todas essas dificuldades o HSC não deixou de fazer reformas e investimentos, principalmente na infraestrutura. O que foi feito em 2016? Como isso está sendo feito?

Nós não abrimos mão da qualificação permanente das estruturas, das pessoas e dos serviços. Nós jamais abriríamos mão. Então nós tivemos diversos projetos que tiveram êxito, sucesso em 2016. Seja por apoio de clubes como Rotary, Lions, seja pelo Programa Amigo HSC que também está evoluindo, mas especialmente pelas emendas parlamentares. Nós conseguimos várias emendas e elas se destinam para investimentos especialmente em equipamentos, infraestrutura tecnológica para bloco cirúrgico, para as salas do bloco, para as UTIs, para as portas de entrada, para a Pediatria, para várias áreas do hospital. E um valor bem pequeno, bem menor, de recursos da própria instituição, que são as contrapartidas. Mas foram feitas inúmeras modificações. (Confira algumas no box). 

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Dentro de sua fala, Thomé ainda procurou ressaltar o cuidado permanente que a instituição tem com a estrutura de Ensino, voltada para diversos cursos, especialmente o de Medicina. Lembrou ainda que as dificuldades financeiras são em nível federal, mas que afetam especialmente o RS, porque nos demais estados o Governo Estadual consegue vir em socorro das instituições, coisa que não está acontecendo aqui, porque o Governo Estadual Gaúcho também se encontra diante de uma crise. 

Apesar de tudo isso, Thomé garantiu que o Hospital Santa Cruz se “mantém firme”, e pretende continuar resistindo. “Ontem ainda falei que um bom lema para nós gaúchos, e que é fácil de lembrar é o ‘RS: resistir e superar’ ou ‘Resistir para superar’, como a sigla do nosso Estado. É o que vamos fazer”.

Algumas das obras realizadas em 2016
– Reforma na Pediatria SUS – revitalização
– Sala de Espera do Caixa – reforma
– Reestruturação da Recepção convênios
– Ampliação da UTI Adulto
– Reestruturação de duas enfermarias ASF e um quarto isolamento que estavam desativados
– Criação da Sala de Saúde e Bem Estar para os funcionários
– Criação da Sala de Serviço e Relacionamento do Cliente (onde era antigamente o caixa)
– Transferência da Reabilitação Cardio Pulmonar para a Antiga Liga de Combate ao Câncer
– Término da sala de descanso e estudo dos residentes da Pediatria 
– Sala de descanso da UTI Adulto foi transformada em sala para paciente que faz
 hemodiálise

 

HSC em Números
– Número de atendimentos ambulatoriais (média): 16.461,08 atendimentos/mês
– Internações: 1.015,67 ao mês
– Cirurgias realizadas: 875,42 procedimentos/mês
– Partos: média de 165 ao mês
– Atendimentos pelo SUS (em %): 80%