Sabe Facebook? Sim, essa coisa da gente aparecer pros outros e vasculhar a vida alheia. Pois é, eu faço parte. E isso tem me deixado deprimido. Desde que descobri que é possível “cutucar” as pessoas pelo Facebook, fico esperando, e até hoje… nem uma cutucadinha. Nadica de nada. Espero em vão todos os dias e… nenhuminha. Outra coisa: quando tô a fim de um prato chique, não vou ao restaurante – abro o Facebook e fico ali, enchendo os olhos. E isso sem correr o risco de entalar uma espinha de peixe na garganta. Praia, eu? Pra quê? Eu já fico bronzeado só de acompanhar as férias dos outros pelas postagens das fotos. Outra coisa: se eu for pra praia é capaz de chover. Pelas fotos dos outros, quando eles vão nunca chove. É só alegria. E quando pescam então… quase sempre o peixe tem no mínimo a metade do tamanho do pescador. Tô começando a achar que lambari é mais um desses peixes em extinção. Tô por lançar uma campanha no Face: “SOS Lambari”. Tem também a coisa da forma física. Todo mundo é sarado. Barriga de tanquinho. Rrrzzz… que óóódio!
Essa coisa de Facebook, Instagram e redes afins tem me feito pensar que só eu adoeço, e que só meus parentes morrem. Não que eu poste esse tipo de coisa, mas fico de olho nos usuários mais assíduos. Tenho descoberto no Face a enorme quantidade de filósofos que existe. Gente que eu nunca imaginava que seria, e a pessoa é. Às vezes coincide a filosofada de um com a do outro, mas coincidências acontecem, e com frequência! Deve ser confluência de pensamentos, a mesma energia difusa no ar, quase telepatia. E tem essa coisa de compartilhar. É por um triz que compartilho e espartilho não são a mesma palavra. É só por uma sílaba. Com medo de ser mal entendido (tá loco!), prefiro dizer: “Posso partilhar teu post?”. E é curtição pra todo lado. Coisa boa! Também curto tudo, de pesquisa no cosmos a unha encravada. Aliás, eu acho que nenhum dos meus amigos têm unha encravada, nunca postaram isso. Ou será que eles nunca me cutucaram pelo Facebook pra eu não descobrir que eles têm?
E você? Você entra todos os dias no Facebook, Instagram, Twitter, ou qualquer outro especulador da vida alheia? Não, não precisa ficar vermelho. É normal. Ou melhor, é comum. Você sofre de um mal que afeta 70% da população mundial atualmente, sabia? Já ouviu falar em FOMO? É a sigla da expressão “Fear Of Missing Out” que, numa tradução livre do inglês, significa medo de estar perdendo alguma coisa. O pesquisador inglês Andrew Przybylski, cientista social da Universidade de Oxford e líder de um grupo de estudos sobre o tema, definiu FOMO como “o desejo de permanecer continuamente conectado com o que os outros estão fazendo. Desejo esse que surge por um sentimento de apreensão e uma constante preocupação de que os outros estejam vivenciando experiências mais gratificantes que as nossas”. Ele disse que a maioria de nós hoje sofre dessa síndrome, caracterizada por três sintomas principais: 1) ser incapaz de se desconectar; 2) sentir-se muito incomodado por não saber o que os outros estão fazendo; 3) ficar deprimido por não participar de algo que considera a última bolacha do pacote.
O filósofo francês Montesquieu (1689-1755) disse já no século 18: “Se quiséssemos apenas ser felizes, seria fácil. Mas queremos ser mais felizes que os outros, o que quase sempre é difícil, já que pensamos que eles são mais felizes do que realmente são”.
Você quer saber se eu vou continuar no Facebook investigando a vida alheia? Claro que vou. Mas só um pouquinho, porque não quero deixar de aproveitar a minha.