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Suspeito de latrocínio é indiciado

Luana Ciecelski

O delegado Miguel Mendes Ribeiro Neto apresentou o inquérito que será enviado ao Ministério Público

 

Luana Ciecelski
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A 2ª Delegacia de Polícia (DP) de Santa Cruz do Sul chegou à conclusão de pelo menos parte do mistério que envolvia o sumiço e a morte do comerciante João Carlos Heck, de 50 anos, que foi morto na madrugada do domingo, 1º de junho de 2014. Morador de Linha João Alves, João veio a Santa Cruz para uma festa no salão Fortaleza, localizado na rua Barão do Arroio Grande, e desapareceu quando saiu para guardar o casaco de um conhecido no carro. Ele não voltou para a festa e seu corpo foi encontrado no interior de Vera Cruz três dias depois, escondido em um matagal, próximo de uma estrada de chão, morto com três disparos de arma de fogo. No entanto, um dos dois possíveis assassinos de João já foi identificado e a polícia afirmou em coletiva de imprensa na manhã dessa sexta-feira, 31 de outubro, que o crime trata-se de um latrocínio, roubo seguido de morte.
No dia em que João desapareceu, a Brigada Militar de Vera Cruz chegou a encontrar seu carro abandonado próximo ao local onde mais tarde o corpo seria encontrado, no entanto, como nenhuma ocorrência de desaparecimento havia sido feita ainda, o veículo foi apenas recolhido administrativamente. No entanto, como a vítima não havia feito nenhum contato desde a madrugada daquele domingo, os familiares começaram a estranhar, e na segunda-feira, 2 de junho, registraram a ocorrência do desaparecimento.
Só então, foi feita a associação do carro que havia sido encontrado em Vera Cruz com o desaparecimento da vítima. E na terça-feira, 3 de junho, buscas foram realizadas no local e o corpo foi encontrado.
O que se seguiu então foi um longo processo de investigação. Logo descobriu-se que na noite do sumiço de João, um morador de Vera Cruz passou pelo carro abandonado na estrada e parou para ver o que era, momento em que dois homens o abordaram, deram uma paulada em sua cabeça e o colocaram dentro de seu próprio veículo. Em seguida, o carro foi conduzido até a RS-412. Não se sabe para onde eles levariam a vítima ou qual era a intenção, mas ela não pode ser concluída, pois um dos sequestradores que estava conduzindo o veículo acabou perdendo o controle do carro em um quilômetro próximo à parte de trás do autódromo de Santa Cruz, e os indivíduos que haviam sequestrado a segunda vítima, acabaram tendo que abandonar o segundo veículo e a segunda vítima e pedir socorro na estrada.
Um dos indivíduos então abordou um carro de Vera Cruz onde seguia uma família e pediram carona para ir até Santa Cruz, no entanto, o carro já estava cheio e não havia espaço para os dois rapazes – a segunda vítima seria deixada no local sob a alegação de estar bêbado. Eles acabaram não tendo êxito na carona e tiveram que abandonar o plano, no entanto, a família teria um papel fundamental na investigação posteriormente.

A carteira que estava no carro

Outro fator importante e que auxiliou na descoberta do autor do crime, foi uma carteira encontrada dentro do carro de João na madrugada de domingo. Familiares da vítima não reconheceram como sendo dele e a carteira foi cuidadosamente analisada pela polícia. Dentro foram encontrados números de telefone. O proprietário de um desses números acabou auxiliando também na investigação.
Num primeiro momento, segundo o delegado Miguel Mendes Ribeiro Neto, foram feitas várias tentativas de ligação para esse número, e foram adquirindo informações sobre o proprietário, até que se descobriu que ele não poderia ter envolvimento no crime. “O proprietário do número era um prestador de serviços de uma empresa de telecomunicações. Em determinado momento da investigação nós nos sentimos seguros para explicar como tínhamos chegado ao seu número e o chamamos para prestar depoimento. No início ele resistiu, o que é normal, já que se trata de uma morte, mas ele acabou colaborando com a polícia”, explicou Miguel.
Durante o depoimento, os policiais souberam que em meados de maio o homem acabou tendo sua maleta de ferramentas furtada de dentro de dentro de seu carro, quando trabalhava no bairro Bom Jesus. Na tentativa de recuperar a maleta, o homem acabou conhecendo um morador do bairro que se ofereceu para ajudar a encontrar as ferramentas. Foi então que o funcionário escreveu seu telefone em um papel e entregou ao morador para que ele ligasse caso a maleta fosse encontrada.

O dia do crime

Cerca de duas semanas depois de a maleta ser furtada, já na noite do dia 31 de maio, quatro horas antes do sumiço de João, o prestador de serviços recebeu uma ligação a cobrar do morador do bairro Bom Jesus, avisando que a maleta tinha sido encontrada e que eles deveriam se encontrar em um lugar pré-determinado para que o objeto fosse devolvido. O homem foi até o bairro, mas chegando ao local combinado ficou com medo e resolveu ir embora sem a maleta. No entanto, antes de ir, viu o homem com quem tinha conversado duas semanas antes, vestindo uma jaqueta azul celeste com um símbolo do Grêmio. Ele contou isso à polícia, e foi então que percebeu-se que o morador do bairro Bom Jesus era um forte suspeito, pois a família que havia prestado socorro na RS-412 também relatou que um dos indivíduos, o que dirigia o carro, vestia uma jaqueta azul celeste com um símbolo do Grêmio.
A partir disso, a polícia pediu o extrato das ligações do celular do funcionário da telefônica e o número que havia ligado a cobrar para marcar o encontro foi descoberto, assim como o nome de quem havia ligado. Nesse meio tempo, os policiais também descobriram a residência onde morava o homem para o qual o funcionário da empresa de telecomunicações havia entregue seu número. Era a mesma pessoa. Um usuário de crack, sem residência fixa, identificado como Carlos Alberto Rodrigues, de 23 anos, que já estava preso por envolvimento no latrocínio que aconteceu em Monte Alverne no dia 16 de julho, um mês e meio depois da morte de João.

O reconhecimento

O passo seguinte foi fazer o reconhecimento. A família que havia prestado socorro na madrugada em que João foi morto foi chamada e reconheceu o suspeito facilmente, através da aparência física e da voz – ele falava arrastado, com jeito malandro e com sotaque germânico – como sendo o homem que lhes pediu carona naquela noite.
Outros fatores fundamentais para o desenvolvimento do caso foram os depoimentos de familiares do acusado. Eles afirmaram que por ser viciado, ele seria uma pessoa capaz de qualquer coisa, que a carteira encontrada no carro de João era muito parecida com a do suspeito e que há cerca de quatro anos a família morou na localidade no interior de Vera Cruz onde o corpo de João foi ocultado, e que por isso ele conheceria muito bem a região.

O latrocínio

Em seu depoimento, o indiciado, negou envolvimento com o latrocínio que vitimou o comerciante. No entanto, ele admitiu que recebeu o número de telefone do prestador de serviços, que fez a ligação combinando o encontro com o mesmo na noite do crime, que estava com uma jaqueta azul celeste do Grêmio naquela noite e que costumava frequentar o salão de festas Fortaleza. No entanto, ele alega que a jaqueta havia sido temporariamente emprestada e que após esperar pelo encontro, se dirigiu para um local para consumir drogas e que só teria acordado na manhã seguinte, sem se lembrar do que teria acontecido na noite anterior.
O delegado Miguel, tendo como base os depoimentos de outras pessoas que estavam na festa no dia 1º de junho, acredita que os dois assaltantes foram até o local apenas para roubar alguém, mas que terceiros podem ter saído mais ou menos na mesma hora e que por medo de serem vistos os indivíduos tenham acabaram obrigando João a entrar no veículo. Em seguida poderiam ter facilmente perdido o controle emocional diante de uma negativa de João ao roubo, que acabou em latrocínio.

O próximo passo

O inquérito que possui mais de 500 páginas e que indicia Carlos Almeida agora será encaminhado ao Ministério Público, e se condenado, o jovem criminoso responderá por latrocínio e roubo consumado triplamente qualificado. Além disso, mesmo estando preso, a segunda DP pedirá que Carlos permaneça preso preventivamente. “Ele é uma pessoa perigosa. Ele deve permanecer preso”, afirmou Miguel.
Além disso, as buscas pelo segundo envolvido no latrocínio vão continuar. A polícia pede, inclusive, que se alguém tiver qualquer informação, entre em contato com a Polícia Civil através dos telefones (51) 3715-8361 ou 197. O anonimato é garantido.