Tivemos 1.726 mortes em 24 horas no dia de ontem. Ou seja, uma morte a cada 50 segundos no pior momento da pandemia no Brasil. O Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, alugou contêineres para acomodar vítimas da Covid-19. Fevereiro foi o mês com o maior número de mortes no Brasil.
Em apenas 28 dias, 30.484 pessoas perderam as suas vidas. Todas elas tinham família, sonhos, esperanças. Todos mereciam um tratamento digno, poder viver e voltar para o acolhimento de seus entes queridos. O adeus nem mesmo foi possível.
Diante deste cenário, é plausível pensar que as autoridades estariam alarmadas, tristes, enlutadas e não medindo esforços para evitar mais mortes, não é? Pois bem, não é o que acontece no Brasil.
Um dia após recorde diário de mortes por Covid-19, Bolsonaro diz que ‘criaram pânico’. Enquanto tudo isso acontece, na Bolsolândia, o governo está mandando uma comitiva para Israel, que está vencendo a pandemia graças à vacinação em massa da população. Mas o motivo da visita é outro: o incrível spray nasal, ainda sem eficácia comprovada. Do qual nem Israel faz propaganda. É isso mesmo?
Mas não para por aí. Lembram do Pazuello, o especialista em logística? Ele mandou 78 mil doses de vacina ao Amapá, que deveriam ser enviadas ao Amazonas, que recebeu somente 2 mil. Além do claro sinal de incompetência, esse tipo de erro vai custar vidas.
Agora, você deve estar se perguntando: mas por qual motivo criticar novamente Bolsonaro, Pazuello e tantos outros? Em momentos difíceis como estes que vivemos, acabamos descobrindo se os discursos eleitorais são verdadeiros ou não. Se os gestores públicos estão preocupados com a vida da população ou com o desgaste de tomar medidas que defendam a vida. Se os ditos políticos que tanto se dizem pró-família tradicional realmente se importam com todas as famílias ou somente com as suas.
Ao pensar na resposta para todas essas perguntas, não consigo deixar de pensar que estamos abandonados à própria sorte. Prefeitos, governadores, mas, principalmente, deputados e presidente da República.
Estamos sozinhos em uma pandemia. Estamos sozinhos em meio a uma pandemia que mata mais de mil pessoas por dia. Estamos sozinhos em meio a uma pandemia enquanto o presidente da República não quer vacinas. Estamos sozinhos em meio a uma pandemia e o Ministério da Saúde não tem um plano emergencial de vacinação em massa.
Peço desculpas ao leitor que deve estar cansado de ver notícias sobre este assunto, seja nos jornais, na TV e em outros lugares. No entanto, não há como falar sobre outra coisa que não seja o medo, a tristeza e a insegurança que vivemos. Não há como não falar sobre o fato de o Brasil estar voltando ao mesmo estágio inicial da pandemia. Lembram? Lockdown, restrições ao comércio, número crescente de mortes. Hoje, o ciclo se repete. Um ano depois seguimos sem saber quando que essa situação vai passar. Hoje, eu não trago nenhum tipo de mensagem, informação válida ou algum pensamento que não seja a tristeza. Não há como escrever poesia, falar de amores, sonhos e esperanças enquanto esperamos sozinhos o fim de uma pandemia que os governantes não querem que acabe. Estamos sozinhos em uma pandemia.