Durante os últimos 50 anos, a superfície do solo destinada para uso agrícola cresceu de 561 a 741 milhões de hectares no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O Brasil, com seus 157 milhões de hectares de área disponíveis para agricultura, tem todas as características geoclimáticas e predestinação natural para ser o celeiro global da produção de alimentos do mundo. No entanto, é imprescindível que os brasileiros valorizem esta vocação. Preservar os recursos naturais é a premissa mais desafiante, sem a qual não haverá evolução ambiental, econômica e social, princípios fundamentais da sustentabilidade. Somente processos sustentáveis são eficazes na manutenção das demandas atuais e garantia de futuro a quem nos suceder nesta trajetória.
O alerta para reforçar os cuidados com o solo é tão premente que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estabeleceu 2015 como o Ano Internacional dos Solos. Um grupo de trabalho, chamado Aliança Mundial pelo Solo, foi criado para promover ideias e iniciativas em prol da preservação e recuperação dos solos do mundo, cada vez mais requisitados por conta do crescente aumento da demanda mundial por alimentos.
Segundo a FAO, a América Latina e o Caribe têm as maiores reservas de terras cultiváveis do mundo, especialmente em áreas de agricultura familiar. Em todo o planeta, estima-se que 33% das terras estão degradadas, por razões físicas, químicas ou biológicas, o que é evidenciado em consequência da redução da cobertura vegetal, da diminuição da fertilidade, da contaminação do solo e da água e, devido a isso, no empobrecimento das colheitas. Mundialmente, 12% das terras são utilizadas para cultivos agrícolas (1,6 bilhões de hectares); 28% (3,7 bilhões de hectares) correspondem a florestas; e 35% (4,6 bilhões de hectares) correspondem a pastagens e outros sistemas florestais.
Vista com bons olhos pela indústria de tabaco, a preservação do solo e o uso de práticas conservacionistas promovem a sustentabilidade no meio rural. Processos não sustentáveis passam a ser inadmissíveis no contexto agrícola atual, uma vez que degradam os recursos naturais. Somente as boas práticas agrícolas são capazes de preservar e melhorar o cenário ambiental, permitindo a produção responsável e segura de produtos oriundos da agricultura.
O setor de tabaco tem investido recursos consideráveis em pesquisa, recomendação e assistência técnica para desenvolver ações de conservação do solo e da água nas regiões produtoras. Dos 162 mil produtores de tabaco da Região Sul do País, mais de 40% já utilizam práticas de conservação em suas lavouras. A informação é do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) que comemora este avanço em sustentabilidade por ocasião da passagem do Dia Nacional da Conservação do Solo, na próxima quarta-feira, 15 de abril. No Brasil, dos 157 milhões de hectares cultiváveis (57 milhões em uso e 100 milhões de pastagens degradadas), apenas 32 milhões utilizam o sistema de plantio direto, segundo dados da Federação Brasileira do Plantio Direto e Irrigação (Febrapdp), o que coloca o tabaco em posição de destaque no comparativo com a maioria das demais cadeias produtivas.
“Certamente há ainda muito a fazer, mas os progressos alcançados são expressivos e reconhecidos. As frequentes auditorias determinadas pelos programas de responsabilidade social dos nossos clientes representam um testemunho inquestionável destas ações”, afirma o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke.
Para o futuro, o executivo acredita que será cada vez mais frequente o emprego de práticas conservacionistas, como o uso de plantas de cobertura e procedimentos mais sustentáveis de preparação do solo, incluindo-se nisso os sistemas de cultivo mínimo e plantio direto. “Observa-se uma consciência cada vez maior por parte dos responsáveis técnicos e dos produtores em relação à necessidade de substituição das práticas tradicionais. Ao utilizar sistemas de cultivo que protegem o solo, o produtor reduz a demanda de mão de obra, devido à menor necessidade de revolver a camada arável do solo, como ocorre no sistema convencional de cultivo”, enfatiza.
Segundo o assessor técnico da entidade, o engenheiro agrônomo, Darci José da Silva, nos últimos anos tem sido possível constatar um abandono progressivo das práticas tradicionais de preparo e manejo do solo, como a lavração, gradagem, excesso de cultivações e capinas. De forma concomitante, outras práticas conservacionistas mais eficientes estão sendo implementadas com êxito. Entre elas, a subsolagem, os cultivos de cobertura, os métodos de preparação do solo, as adubações mais racionais com base nas análises de solo e demandas culturais e outras boas práticas conservacionistas complementares (terraceamento e plantio em nível). “O essencial é manter o solo protegido o maior tempo possível. Solo desnudo estará sempre predisposto aos efeitos da erosão, acelerando sua degradação física, química e biológica”, explica.
Por meio do Sistema Integrado de Produção, produtores recebem orientações e participam de programas que os tornam ainda mais aptos e informados sobre o assunto. “A orientação técnica tem sido de inestimável importância na difusão destas tecnologias e um aliado permanente para o crescimento desta estatística. A expectativa é que mais produtores se mobilizem em torno da adoção destas boas práticas agrícolas, benéficas não apenas para o solo e o meio ambiente, mas para o próprio produtor, uma vez que a mão de obra também diminui”, afirma o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke.
ENTENDA
No cultivo mínimo, o produtor mobiliza o mínimo possível o solo, protegendo parcialmente a sua superfície com resíduos da cultura anterior ou a biomassa resultante dos cultivos de cobertura, com o objetivo de diminuir os riscos de erosão. O plantio direto na palha é o sistema de cultivo mais eficiente na proteção do solo. Consiste em evitar o revolvimento do solo, preservando integramente a palhada dos cultivos de cobertura sobre a sua superfície. Além do aspecto conservacionista, esta tecnologia propicia redução no uso de combustíveis fósseis, redução na mão de obra e aumento da rentabilidade do produtor através da redução de custos. Trata-se de um sistema já consagrado e amplamente utilizado no Brasil, inclusive no cultivo de tabaco. O Brasil é, atualmente, uma referência mundial no desenvolvimento e uso desta tecnologia. Alguns produtores que continuam utilizando o sistema convencional de preparo do solo adotam outras práticas conservacionistas como terraceamento, cultivos de cobertura e plantio em nível, que funcionam como mecanismo de proteção em relação ao escoamento das águas das chuvas, reduzindo a sua velocidade e seu potencial erosivo. Outra forma de proteger o solo é através da preservação da mata ciliar, localizada no entorno de nascentes e nas margens dos cursos d’água. Além disso, como o tabaco é uma cultura sazonal, permitindo um cultivo sucessivo, as empresas incentivam o plantio de outras culturas, como o milho e o feijão após o tabaco. Esta prática possibilita a redução das populações de pragas e doenças, o reaproveitamento dos resíduos de fertilizantes, constituindo-se em fonte complementar de alimentação e renda das propriedades.
PROGRAMA MICROBACIAS
Para embasar o trabalho contínuo de orientação aos produtores integrados, o SindiTabaco desenvolve desde 2005 o Programa Microbacias, em conjunto com duas universidades federais. Os estudos de análise de concentração de sedimentos na água e avaliação da atividade biológica do solo são realizados na Microbacia do Arroio Lageado Ferreira, em Arvorezinha. As ações têm como objetivo principal a avaliação do impacto das atividades agrícolas e de ocupação das terras sobre o solo e os recursos hídricos. Nestes locais, o manejo do solo foi modificado sensivelmente com a introdução gradual de práticas conservacionistas como o cultivo mínimo, o plantio direto, o uso de plantas de cobertura, dentre outras práticas. A experiência obtida no monitoramento de bacias hidrográficas mostra que as práticas de manejo e conservação do solo e água apresentam grande eficiência na redução dos problemas ambientais (erosão, empobrecimento do solo, susceptibilidade às secas, contaminação da água, assoreamento e enxurradas).
Divulgação/RJ