A solidão é um dos graves problemas de saúde das sociedades ocidentais de nossos dias. Um problema muito mais grave do que comumente se pensa, conforme pesquisas interdisciplinares conduzidas por John Cacioppo, que incluem análises genéticas, imunológicas, endocrinológicas, de representação cerebral, comportamentais, cognitivas, de psicologia social e sociológicas, relatadas no livro “Solidão: a natureza humana e a necessidade de vínculo social” (Ed. Record, 2010).
As consequências da solidão incluem infelicidade, dores, aceleramento do declínio físico, do processo de envelhecimento e do mal de Alzheimer, incapacidade de pensar com clareza, impacto sobre a função cardiovascular, doenças cardíacas isquêmicas, doenças cerebrovasculares e circulatórias, respiratórias, gastrointestinais e câncer. Está em pé de igualdade com pressão alta, obesidade, falta de exercício e tabagismo como fator de risco para doenças e morte precoce. Aparece associada ao consumo de álcool, de comidas engordativas, à incidência de divórcios e a problemas de relacionamento familiar.
A solidão associada à doença não é o estar só por alguns momentos, que é muito comum e faz parte da vida. A solidão que produz doença e infelicidade é de outra natureza: ela se caracteriza pela ausência de vínculos sociais significativos, ou seja, provém da ausência de vínculos que tenham um significado para a pessoa. Para evitá-la ou enfrentá-la não basta apenas estar ao lado de outros e ter muitos contatos superficiais. São necessárias conexões de alguma profundidade. Importa a qualidade das relações que estabelecemos.
Quando não temos vínculos significativos sentimos dor, uma “dor social”. Cacioppo assegura que essa expressão não é apenas de uma metáfora. Imagens feitas por ressonância magnética mostram que a região do cérebro que se ativa quando experimentamos a rejeição é a mesma região que registra as reações emotivas à dor física. E assim como a dor física nos avisa sobre perigos físicos, a dor social é sintoma de que algo não vai bem e um aviso sobre os perigos de permanecer isolado. É um estímulo para nos fazer prestar atenção à importância dos vínculos sociais, a procurar os outros para renovar laços desgastados ou rompidos.
As pesquisas científicas sobre a solidão, relacionando-as à doença e à infelicidade, comprovam a clássica tese filosófica de que o homem é um animal social, um animal gregário que vive em grupo assim como outros animais, mas vive junto de um modo peculiar, em vista do desenvolvimento da nossa razão e emoção em níveis distintos de outras espécies. Fazemo-nos humanos uns aos outros pela linguagem, pela reflexão e pelas conexões emocionais.
As ciências trazem sempre novos argumentos em favor da ideia de que natureza é vinculação. Ao longo de milhares de anos, a espécie humana não evolui com base em “genes egoístas” e sim com base em genes solidários. A história de nossa evolução é a história de círculos sociais cada vez mais amplos de cooperação social.
Os cientistas reforçam a sabedoria popular: viver em comunidade e ter amigos são pilares da vida saudável e feliz.