Na semana passada, ao falar de duas situações claras de racismo que culminaram na morte de homens negros, eu me perguntei se algo pior do que isso poderia acontecer. Incrédulo, fui surpreendido esta semana com a declaração do apresentador Monark, no podcast Flow. Monark se disse favorável à legalização de um partido nazista. Mas esse não é um fato isolado: nossa sociedade está cada vez mais intolerante e o mundo dá claras amostras de que os extremos vieram para ficar.
Corrupção, retração econômica e desemprego crescente afetaram desde países como os Estados Unidos, Espanha, Grécia, Inglaterra, assim como também Argentina e Brasil. As classes trabalhadoras foram as mais afetadas com as políticas neoliberais de ajuste fiscal, que levaram os pobres a ficarem mais pobres. Estudiosos da comunicação enxergaram nesse processo uma oportunidade de politizar essa indignação em forma de discurso. Está aí a chave da eleição de líderes populistas da extrema-direita, como aconteceu no Brasil e nos Estados Unidos. Também explica o sucesso do Brexit e os problemas vividos pela comunidade europeia. Ao serem abandonados pelos partidos tradicionais, setores da classe trabalhadora e classe média se sentiram representados no discurso antissistema, empregado por Donald Trump, Bolsonaro, Boris Johnson, entre outros.
Nos Estados Unidos implodem casos de racismo e violência racial. Da mesma forma, supremacistas se sentiram confortáveis para sair do esgoto de onde moram ao serem empoderados pelo discurso de Trump. Aqui, no Brasil, o mesmo aconteceu após a eleição de Bolsonaro. Milicianos, matadores de aluguel e grileiros estão à vontade para matar, caçar ou destruir o meio ambiente. Mais precisamente, desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff vivemos um clima de terror. Para justificar o injustificável, foi construído um ambiente de derrocada. Houve grande contribuição do MBL, do PSDB e de diversos setores do agronegócio, empresariado, militares, mercado financeiro e industriais para abreviar o mandato de Dilma.
Resumidamente, para esse pessoal os fins justificavam os meios. O ódio ao PT e suas principais figuras, Lula e Dilma, transformou a nação de uma maneira surpreendente. Nivelando o debate político por baixo, com memes e acusações falsas, o PT foi criminalizado, assim como os movimentos sociais e qualquer bandeira progressista. Isso resultou nas condições ideais para a eleição de um candidato considerado antissistema, na contramão de tudo aquilo que havia na política brasileira.
É assim que chegamos ao Brasil de 2022, onde alguém com influência e uma enorme audiência como Monark dá uma opinião criminosa sobre um fato histórico. Ao lado dele, o deputado Kim Kataguiri, oriundo do MBL, também reproduziu falas grotescas sobre o nazismo. O episódio serviu para desnudar que o que há de pior e mais baixo existe em nosso País. Ainda que tenhamos uma amostra gratuita toda vez que Bolsonaro abre a boca, não deixa de chocar que alguém ainda não trate o holocausto como algo que deveria envergonhar a humanidade.
Há um velho ditado que é reproduzido de tempos em tempos na internet, que diz: “Se tem dez pessoas numa mesa, senta um nazista e ninguém se levanta, é porque tem onze nazistas na mesa”. Eu não me sentiria confortável ao sentar ao lado de Monark, Kim Kataguiri ou qualquer outra pessoa que reproduza pensamentos tão atrasados e vergonhosos. É triste que em pleno 2022 ainda seja preciso defender o óbvio.