Estamos na Semana Santa. É a semana mais importante do ano para quem professa a fé cristã. Por isso, ela é diferente de todas as outras semanas.
Muito desejaria eu que fosse uma semana de “trégua” sobre notícias de violência e corrupção. Que o noticiário primasse por notícias de vida e de superação da indiferença.
Desejaria que nesta semana não me fosse exigido ler relatos cheios de ódio e de vingança, ao tipo dos gritos dos fariseus enfurecidos diante de Pilatos pedindo a morte de Jesus: “Fora com Ele! Crucifica-o! Crucifica-o!”
Que fosse uma semana dedicada ao exame de consciência pessoal, onde, em vez de só jogar pedras de ira pudéssemos avaliar a nossa parcela de culpa (será que eu sou totalmente inocente?). Uma semana onde, “em vez de nos preocuparmos com a palha que existe no olho do irmão”, pudéssemos “enxergar a trave que está em nosso próprio olho” (Mt 7,3)..
Que fosse uma semana onde mais pessoas procurassem se identificar com Verônica, que ofereceu uma toalha para Jesus enxugar o rosto ensanguentado enquanto carregava a cruz até o Calvário. Pessoas que se identificassem com Simão Cirineu que ajudou Jesus a carregar a cruz. Pessoas que tivessem a atitude do apóstolo João e de Maria Santíssima, que, apesar de não poderem tirar Jesus da cruz, permaneceram ao seu lado na hora da agonia.
Que fosse uma semana onde a atitude de Judas Iscariotes, que vendeu Jesus por trinta moedas de prata, servisse de motivação a não vendermos a nossa consciência em troca de alguns parcos favores políticos ou econômicos. Que esta atitude nos alertasse a não nos prestarmos para servir de testemunhas falsas só para ver o vizinho numa pior.
Que a cerimônia do Lava Pés na quinta-feira santa não se restringisse a um simples teatro, mas que fosse uma convocação a fazermos o mesmo que Jesus fez: “Compreendeis o que vos fiz? Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros” (Jo 13,14). E, mais do que isto, que a repetição do gesto de Jesus nos provocasse a cumprir o seu testamento: “O que vos mando, é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15,16).
Aliás, a cerimônia do Lava Pés deste ano nos aproxima da Campanha da Fraternidade, onde afirmamos a nossa disposição, como Igreja e como cristãos, a nos colocar a serviço da sociedade. Isso porque conservamos diante dos olhos o cartaz da Campanha da Fraternidade, onde visualizamos o Papa Francisco lavando os pés de um fiel na quinta-feira santa de 2014. A frase motivadora do gesto é uma afirmação de Jesus: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). Nós, os cristãos, devemos reafirmar o nosso compromisso na construção de uma sociedade onde “justiça e paz se abraçarão”.
Desejaria muito que as celebrações da Vigília da Páscoa na noite do Sábado Santo, pudessem refletir a alegria estampada no rosto das duas Marias quando receberam a notícia do jovem sentado no lado do túmulo de Jesus: “Ele ressuscitou. Não está aqui” (Mc 16,6).
Que esta seja a semana onde “o amor e a caridade se robustecem”. A semana onde a preocupação pela vida ganha unanimidade! A semana onde o ódio e o rancor se transformam em amor e perdão.
Aí sim, a Páscoa será a Festa da Vitória e, conforme proclamação da noite da Vigília do Sábado Santo, poderemos “escutar, reboando de repente, o aleluia cantado por todo povo”.
Votos de frutuosa Semana Santa e feliz Páscoa da Ressurreição!
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