Guilherme Athayde
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A época de fim de ano é recheada de comemorações: festas de encerramento de ano nas empresas, clubes sociais, reuniões familiares para celebrar a chegada do Natal e Revéillon. Mas pode ser um período turbulento para quem sofre de algum tipo de transtorno em sua saúde mental, como depressão e ansiedade.
Recheados de preconceitos por parte da sociedade, transtornos mentais são doenças incapacitantes que alteram significantemente a vida das pessoas, fazendo com que tarefas que são normais à maioria da população, como trabalhar e relacionar-se com a família e amigos, tornem-se um verdadeiro pesadelo para quem sofre deste tipo de distúrbio.
Segundo a Organização Pan Americana de Saúde, mais de 300 milhões de pessoas em todo o Planeta sofrem com algum transtorno como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), e doenças relacionadas à saúde mental. É consenso entre profissionais da saúde mental que a chegada do fim de ano tem o poder de afetar ainda mais quem já tem algum tipo de pré-disposição a essas doenças, por se tratar de um período de avaliação do ano que passou, e projeção do futuro com o ano que está por começar, como explica o médico psiquiatra Fernando Godoy Neves.
“Não necessariamente que aumentam os casos de depressão, os casos já existem. O que acontece é que por toda a questão do final do ano, todo o simbolismo envolvido no Natal, Ano-Novo, de festas familiares, confraternizações, das famílias estarem juntas, amigos, a gente vê as redes sociais tendo muitas postagens neste sentido. Então, isso mobiliza as pessoas que não estão bem, então, a partir do que elas estão vendo elas fazem uma comparação que é inevitável, a rede social é muito nociva nesse sentido, na questão das comparações e isso afeta muito os jovens, por isso temos visto uma piora gigantesca da saúde mental de jovens”.
Solidão e rede social podem ser gatilhos para crises
O Dr. Fernando Neves realiza um trabalho importante de prevenção com seus seguidores em sua rede social no Instagram: @drfernando.neves. Ele faz um alerta para que as pessoas evitem as comparações entre o que se passa na internet e o que de fato é a realidade.
“A gente vê que quem vai postar, posta um brinde, um restaurante legal, uma vista legal. Ninguém vai postar comendo feijão com arroz, tomando um copo d’água. Ter em mente que aquilo não é sempre a verdade absoluta. Todos têm seus problemas, mas, na hora da foto, está todo mundo sorrindo. Tome cuidado com o aspecto da comparação que as redes sociais implicam e siga seu tratamento”.
O profissional esclarece que vivemos uma época da humanidade com os jovens mais adoecidos mentalmente do que nunca.
“As pessoas acabam piorando por observarem tudo isso: as confraternizações, festas, momentos felizes. Tem o aspecto do fim de ano, de fazer o fechamento do ano, de ver como foram as conquistas, evoluções, isso acaba colocando um peso nessa situação para as pessoas, que a pessoa que não está legal, não conseguiu muitas coisas esse ano, que teve alguma infelicidade, alguma situação excepcional. Ela vai ver a outra pessoa que casou, que teve filho, conquistou isso ou aquilo. E a pessoa que passou por uma série de dificuldades vai ter também esse aspecto de ver que não está finalizando o ano como gostaria. Tudo isso pesa”.
Ficar sozinho pode ser um incentivador para ampliar a infelicidade de quem já está deprimido, completa o Dr. Fernando:
“Por isso existe uma associação destas datas familiares, simbólicas e importantes, ter mais casos de procura à emergência, tentativas de suicídio e suicídios de fato. O conselho que eu daria neste momento: o principal – quem está em tratamento, segue o tratamento. Não pare o tratamento. Neste momento pode parecer que tudo está errado, que nada dá certo e sua vida é a pior de todas. Mas não pare o tratamento. Se não está bem, fale com seu médico, ou, na pior das hipóteses, vá para uma emergência. Aqui no Hospital Santa Cruz nós temos avaliação, sobreaviso de psiquiatria no SUS”, alerta o médico psiquiatra, que, além do trabalho nas redes sociais, atende em Santa Cruz do Sul na Marechal Deodoro, 949, Sala 5050 do Centro de Saúde, telefones (51) 996448324 e 21096988.
Álcool e outras drogas ilícitas também são fatores que podem abalar a saúde mental. É importante esclarecer com seu médico se o remédio que a pessoa está fazendo uso coloca restrições ao consumo de bebidas alcoólicas:
“Para quem não está bem de alguma doença mental, como qualquer outra droga, cocaína, maconha, crack, etc; faz a doença piorar. Consumir álcool pode fazer a depressão, um transtorno de ansiedade, ou um transtorno de humor bipolar, piorar. O álcool diminui nossa censura, e com isso podem vir pensamentos ruins, momentos ruins, isso favorece conflitos. São comuns conflitos familiares nesta época, as coisas não resolvidas, situações antigas, sentimentos, ranços e divergências e aí começa uma briga familiar. É muito comum acontecer. Não está bem? Vá pra cama! Amanhã é um novo dia. Tem dias que só precisam acabar. Amanhã é um novo dia, e vamos de novo”, ressalta.
Postos de saúde são a porta de entrada para o tratamento na rede pública
Santa Cruz do Sul possui uma rede de atendimento para a saúde mental que começa nas Unidades Básicas de Saúde. Quem precisa de atendimento pode ir direto no posto mais próximo da sua residência para receber o encaminhamento para um tratamento adequado.
Casos mais graves são tratados via Centros de Atenção Psicossocial (CAP’s). São três unidades no município: o Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Adolescência (CAPS IA), na Rua Presidente Rodrigues Alves, 729, bairro Goiás, o CAPS II, Rua Venâncio Aires, 307, no Centro, e Centro de Atenção Psicossocial III – Álcool e Drogas (CAPS AD), Rua Capitão Fernando Tatsch, 228, no Centro.
Em caso de emergência, a prefeitura recomenda a procura pelo Pronto-atendimento: UPA do bairro Esmeralda, na Rua Carlos Swaroswky, 850, o PA do Hospital Santa Cruz, na Fernando Abott, 174, Centro, e a Casa de Saúde Ignez Moraes – Hospitalzinho, Rua João Rabuske, 12, Bairro Santa Vitória, às margens da BR 471.
FIQUE LIGADO:
Não espere os sintomas da depressão afetarem sua vida significativamente para pedir ajuda. Muitas vezes aquele cansaço ou tristeza que permanece por muito tempo pode estar relacionado ao início de algum distúrbio de saúde. Um dos principais perigos é o diagnóstico tardio, quando o paciente já sofreu grandes perdas em sua vida como uma demissão no trabalho ou turbulências nos relacionamentos, e, em casos mais graves, tentativas de suicídio. Aqui vão algumas dicas de especialistas para que podem auxiliar quem estiver passando por um período difícil.
– Procure ajuda. Seu profissional de saúde ou médico local são um bom lugar para começar
– Converse com alguém de sua confiança sobre seus sentimentos
– Faça exercícios regularmente, mesmo que seja apenas uma curta caminhada
– Mantenha bons hábitos alimentares e de sono regulares
– Evite ou restrinja a ingestão de álcool e abstenha-se de usar drogas ilícitas; estas podem piorar a depressão
– Emergência? Procure o pronto-atendimento de sua cidade, ou ligue grátis para o telefone 188 para falar com um atendente do Centro de Valorização da Vida (CVV)