Cerca de 100 pessoas participaram, no dia 29 de junho, do 6º Seminário ampliado de integração e reflexão com parceiros do Programa de Aprendizagem Profissional Rural do Instituto Crescer Legal. Com objetivo de compartilhar conhecimentos e estratégias, o seminário chegou a sua sexta edição com o tema “Saúde mental no ambiente de aprendizagem: como promover o cuidado”.
Estiveram presentes parceiros das áreas da Educação, Assistência Social e Saúde nos municípios que sediam ou se relacionaram com o Programa de Aprendizagem Profissional Rural do Instituto Crescer Legal. Representantes de Agudo, Canguçu, Cerro Branco, Novo Cabrais, Paraíso do Sul, Progresso, Rio Pardo e São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul, participaram da programação realizada no Santa Cruz Country Club, em Santa Cruz do Sul (RS).
O diretor presidente do Instituto Crescer Legal, Iro Schünke, abriu o encontro agradecendo a presença dos parceiros e associados presentes. “O sucesso do Instituto está muito relacionado às parcerias que temos feito e todos os que estão presentes aqui tem a sua contribuição nas oportunidades geradas aos adolescentes do meio rural”, enfatizou Schünke.
A agenda seguiu com a palestra da professora e psicóloga Márcia Marchezan, que abordou “A escuta enquanto ferramenta pedagógica na construção de laços em contextos de aprendizagens.” A palestrante trouxe dados alarmantes: segundo dados oficiais, a prevalência de transtornos mentais nas crianças e adolescentes subiu de 13%, em 2013, para cerca de 25% em 2021.
Segundo a palestrante, a saúde mental das crianças e dos jovens está em crise e, para assegurar que sejam criados espaços para dialogar sobre ela, precisamos nos afetar por meio da escuta. “Os adultos são responsáveis pelo bem-estar das crianças, pela sua educação e pelo seu desenvolvimento, portanto, precisam suprir suas necessidades, e para isso precisam saber o que elas estão sentindo. Tanto por parte dos educadores quanto dos familiares, essa escuta precisa ser efetiva. Quando escuto o outro, estou dizendo: tem lugar em mim para você”, destacou.
Márcia Marchezan também tratou de temas delicados e presentes na vida escolar como bullying e automutilação. “A vida é feita de emoções, positivas e negativas. As redes sociais valorizam o imperativo da felicidade e isso afeta muito os jovens que não estão acostumados às frustrações e à tristeza. A fala é como damos vazão à dor e a palavra não pode estar ameaçada, sobretudo na aprendizagem e, em especial, com o público jovem. Vamos deixar a palavra circular e fazer a escuta com ética e respeito”, refletiu.
Ainda na parte da manhã, a coordenadora de desenvolvimento de projetos, Graziele Pinton, e a orientadora pedagógica, Taciane Velazquez, apresentaram ao grupo o case “Aprendizagem Profissional Rural: uma estratégia de cuidado com a juventude rural” e, juntamente com educadores e egressos, falaram sobre as vivências praticadas pelo Programa de Aprendizagem Profissional Rural, que já beneficiou 741 jovens rurais do Rio Grande do Sul desde 2016, e que atualmente envolve 160 jovens gaúchos e catarinenses.
Segundo elas, durante o curso os jovens são estimulados a refletirem sobre quem são com o levantamento de memórias afetivas. Também são estimulados ao trabalho em equipe e à criatividade, além da promoção de responsabilidade. Refletem sobre sonhos, metas, expectativas, e são diariamente incentivados à fala e à escuta, algo que lhes potencializa o vínculo e as habilidades de relacionamento. Elas destacaram algumas das metodologias utilizadas e que atuam na saúde mental dos aprendizes, como a aprendizagem entre pares, com empatia e colaboração, além do estímulo às habilidades socioemocionais, que faz com que os jovens desenvolvam habilidades importantes como o pensamento criativo, a comunicação positiva, a cooperação, a autoconfiança e o respeito ao semelhante e ao ambiente.
Os educadores sociais Adriano Emmel e Tagiani Brizola Goulart abriram a programação na parte da tarde falando sobre o Programa de Boas Práticas de Empreendedorismo para a Educação, que atualmente está em sua quarta edição e conta com a participação de 26 professores, de 12 escolas rurais de São Lourenço do Sul e Rio Pardo. A iniciativa consiste em compartilhar ferramentas metodológicas testadas e aprovadas pela equipe pedagógica do Programa de Aprendizagem Profissional Rural com o objetivo de oportunizar aos participantes, profissionais da área da educação, a ampliação dos conhecimentos para atuação empreendedora na educação. A professora Iloni Maria Radtke Iven, que participou do programa no ano de 2022, em Canguçu, e a parceira da Secretaria de Educação do Município de Canguçu, Lauceni Tessmann Lourenço, deram seus depoimentos ao grupo, elogiando a iniciativa que foi construída em conjunto com o município que sediou as três primeiras edições.
Na sequência, a gerente do Instituto, Nádia Fengler Solf, a educadora Maria da Graça Lucas Vieira e a egressa Chaiane Römer Völz falaram sobre o programa Nós por Elas – A voz feminina do campo, juntamente com a professora Carmen Lucia de Lima Helfer, a ex-reitora da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e uma das fundadoras e conselheiras do Instituto. Realizado desde 2017 em parceria com a Unisc, a ação soma seis edições e 23 boletins de rádio produzidos por 43 jovens, sobre temas sensíveis à realidade feminina no campo.