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Rivellino e o "tripé" do meio-campo

O “Esporte Espetacular” do último domingo apresentou uma entrevista com Roberto Rivellino, que completava 70 anos. Por coincidência, no fim de semana anterior, eu assisti ao primeiro tempo de Brasil x Itália, final da Copa do Mundo de 1970, via Youtube. Em 2014, escrevi um editorial aqui no Riovale com o título “Futebol relativo”. Estabeleci um paralelo entre a Seleção Brasileira de 1970, a Seleção de 1982 e o Barcelona de tempos recentes. Entre estes times, há pelo menos um aspecto em comum: a presença de um grande camisa 10. Pelé, Zico e Messi, respectivamente.
 

A Seleção de 1982 apresentava, ao meu ver, sob o ponto de vista tático, uma desvantagem no meio-campo. Jogadores de meio-campo realmente característicos, ela só tinha dois: Toninho Cerezo e Falcão. Se Batista fosse titular da equipe, seriam três meio-campistas. Serginho Chulapa, centroavante, poderia dar lugar a Batista, proporcionando mais liberdade a Sócrates, Zico e Éder. Poderíamos ter, neste caso, um “tripé” de meio-campo: Cerezo pela direita, Batista centralizado e Falcão pelo lado esquerdo. Consistência em termos de marcação, com três jogadores de ótima qualidade técnica. Maior competitividade e resolutividade para lidar com o poderio ofensivo do adversário.
 

O tal “tripé” esteve presente tanto na Seleção de 1970 quanto no Barcelona vitorioso dos últimos anos.  Em 70, o Brasil tinha, na meia-cancha, Clodoaldo, Gérson e Rivellino. O “Riva” jogava pelo lado esquerdo de forma realmente estupenda, levava a bola “amarrada” em sua canhota, “coladinha” ao pé. Facilidade para o drible e o arremate, com bons deslocamentos pelo lado direito, como se comprova no primeiro tempo de Brasil x Itália. Clodoaldo, teoricamente, era o centromédio, o posicionamento inicial era este, mas ele avançava pelo lado direito da mesma forma que Rivellino fazia pela esquerda. Gérson ficava centralizado (no fim, seria ele o centromédio?),  de frente para o jogo no intuito de fazer seus ótimos lançamentos (sem falar que fez um belo gol no segundo tempo contra a Itália).
 

Na frente, jogavam Jairzinho, Tostão e Pelé. Jair era o atacante “de lado”, pela direita, assim como Éder fazia pelo lado esquerdo em 1982. Tostão ocupava o papel de Sócrates (curiosamente, aqui nos referimos a dois médicos e intelectuais, mas com diferenças dentro do campo, o “Tusta” mais centralizado e o “Doutor da Democracia Corinthiana” mais aberto pelo lado direito).
 

E o Barcelona? Observando o time atual, o “tripé” conta com Busquets centralizado, Rakitic pela direita e Iniesta à esquerda. Na frente, Neymar é o atacante “de lado” (pela esquerda) e Suárez seria algo próximo de Tostão, porém com mais velocidade e presença na área. O “Tusta” era tecnicamente superior (dribles desconcertantes, por exemplo), com uma inteligência tática de ocupação dos espaços invejável.

 

Nelson Treglia – interino