Durante essa semana, o Brasil foi sacudido com a possibilidade do ex-presidente Lula estar, novamente, elegível. Isso porque o ministro do STF, Gilmar Mendes, retomou o julgamento acerca da suspeição do ex-juiz Sergio Moro. Não fosse o voto de outro ministro, Kassio Nunes, a direita brasileira teria amargado a sua pior semana desde a reeleição de Dilma contra Aécio Neves.
Logo vieram os argumentos de que o País não precisa de um 2º turno entre Lula e Bolsonaro. O mercado reagiu operando em baixa e os jornais preocupados com o possível retorno do ex-presidente. Afinal, será que o País está pronto para a dita ‘polarização’ que tantos analistas apontam como o principal obstáculo para uma sociedade saudável e democrática?
Não há precisão histórica para se dizer quando surgiu esse tal de Risco Lula. Podemos arriscar que começou quando as greves do ABC paulista, lideradas por um metalúrgico barbudo, colocaram medo em uma ditadura militar que se arrastava para o seu fim. Desde então, o Risco Lula esteve presente como uma ameaça constante ao futuro do Brasil. É por isso que em 1989 sequestraram o empresário Abílio Diniz usando a camisa do PT. Naquele mesmo ano, a Rede Globo editou o último debate entre Fernando Collor de Melo e Lula, favorecendo Collor. Tudo em nome do grande temor dessa figura.
O Brasil começava a consolidar uma democracia ainda frágil quando em 1998 não foi realizado nenhum debate eleitoral. Essa medida beneficiou o candidato à reeleição, Fernando Henrique Cardoso, e livrou o País d’Ele. Neste ponto do texto, não preciso nem me referir ao culpado, pois o leitor é esperto e já compreendeu a ameaça. Porém, não é possível evitar algo que em algum momento vai acontecer. Em 2002, lá estava ele de novo. O Risco Lula. Uma ameaça definitiva, afinal, como em mais uma das ocasiões, ele aparecia à frente de todos os outros adversários na corrida eleitoral.
Naquele mesmo ano, mesmo com os temores do mercado, com a incerteza do empresariado, da classe média que acreditava que teria que dividir seu apartamento com outras famílias, Lula foi eleito presidente da República. A ironia? Para o grande empresariado, o mercado financeiro e a classe dominante, a vida mudou muito pouco diante do estardalhaço que foi feito por tanto tempo. Privilégios continuaram existindo para as elites, os grandes ganharam dinheiro e o Brasil se tornou a 6ª maior economia mundial.
O que mudou, então? Algo que nem mesmo o dinheiro pode pagar! A população mais pobre deste País, para além da qualidade de vida e da melhoria de suas condições financeiras pode, finalmente, sonhar. Sonhar? É, sonhar! Sonhar com uma vida melhor, ter esperança de ver seus filhos entrando na universidade e ganhando o primeiro diploma da família. Muita gente viajou para o exterior, muita gente pôde comprar a sua casa através dos financiamentos de governos petistas. Emprego pleno, gente fazendo mestrado e doutorado. Gente fazendo planos, criando sua própria empresa. Como disse Caetano: “Gente é para brilhar, não para morrer de fome”. O Risco Lula significa permitir que pessoas humildes saibam que têm sonhos e podem realizá-los. O Risco Lula é de que uma classe dominante tenha que olhar no olho do mais pobre, pois este não anda mais com a cabeça baixa e sim de cabeça erguida. Portanto, ao fim deste texto é preciso perguntar: que risco é esse todo de permitir que direitos básicos e elementares sejam respeitados? Que ameaça extraordinária é garantir que todos tenham os mesmos direitos? Para as elites que nunca viram a geladeira vazia ou os pais desempregados, que nunca tiveram que se preocupar com o amanhã, eu vos digo: o Risco é enorme! Pois bem, esse Risco está de volta.