Um dos precursores do basquete escolar de Santa Cruz do Sul e que contribuiu para escrever a história vencedora de uma das escolas públicas mais tradicionais do Município. Já aposentado das quadras e da vida escolar, o professor José Antonio Paranhos Luz, o Zé Luz, trabalhou durante 32 anos na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira, educandário em que se tornou uma das principais referências na formação de crianças e jovens, que através da prática do basquete, tiveram a oportunidade de receber bolsas de estudos e construir carreira no esporte por consequência do trabalho realizado com dedicação e perseverança, e que transformou o educandário como um dos principais vencedores na disputa da modalidade em competições estudantis.
Zé Luz conta que começou a vivenciar o basquete nos anos 50 e 60, quando acompanhou os clássicos GI-CO (Ginástica x Corinthians) e assistiu ao jogo que deu o primeiro título estadual do Corinthians em 1958. Sobre suas inspirações da época, ele lembra dos ex-jogadores Nelson Tech, do Corinthians, e Raul Gerhardt, da Ginástica. “O Nelson Tech foi o jogador de basquete mais técnico que teve em Santa Cruz, pelo seu estilo de jogo. Ele era elegante para jogar. O Raul Gerhardt era ágil e rápido e com uma mão muito certeira. Para mim, Nelson Tech e Raul Gerhardt tiveram as principais qualidades e deram o impulso para o basquete antigo de Santa Cruz”, recorda.
Ex-jogador da Ginástica, Luz também passou a ser treinador da equipe nos anos 70. Formado em Educação Física, em 1984, o professor iniciou as suas atividades com o basquete escolar no Colégio Mauá, onde trabalhou por um ano. A partir de 1985, ele ingressou na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira, dando início à sua trajetória. Ele destaca que nos primeiros anos teve dificuldades para desenvolver o esporte e que contou com o apoio de dois diretores do educandário. “Eu não teria feito nada disso na Ernesto se não fossem duas pessoas. Anildo Betim, diretor que incentivou o basquete e que me disse para ficar 20 horas só com treinamentos de basquete, porque os alunos gostavam e que eles precisavam viajar e conhecer o mundo. Muita gente reclamou, mas eles não contavam o treinamento como aula e que ocorria todos os dias, inclusive aos sábados e domingos, que passava do meu horário. Depois tive o apoio do diretor Erno Kuhn, que por 15 anos me apoiou e, através dele, conseguimos colocar a Ernesto Alves participando do Campeonato Brasileiro Escolar”, destaca o professor.
MAIS DE CEM TÍTULOS ESTUDANTIS
Responsável por orientar crianças e jovens nas categorias escolinha, mirim, infantil e juvenil masculino e feminino, Zé Luz passou a participar de competições escolares com as equipes do educandário. Em 1989, a equipe venceu a final estadual dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs) e disputou pela primeira vez os Jogos Escolares Brasileiros (Jebs). “No início disputava os Jergs com escolas públicas e particulares juntas, em que tínhamos que passar pela regional com escolas de Santa Cruz, depois as fases inter-regionais e a final estadual. O pessoal já se surpreendeu quando a Ernesto Alves foi campeã estadual e depois conquistamos por sete anos”. Ele destaca que a fase local era a mais difícil. “Santa Cruz era pesado, pois tínhamos o Mauá, São Luiz, o Goiás e o Colégio Sagrado Coração de Jesus, sendo grandes clássicos e decididos no detalhe”, lembra.
Sobre um jogo marcante, ele destaca a conquista do primeiro título estadual da escola, na categoria juvenil masculino em 1990. “Tive um jogo com uma escola de Caxias, onde fizemos a final dos Jergs. Eu estava com cinco equipes de outras categorias, em outra final e cheguei no segundo tempo para dirigir a equipe. Estávamos perdendo o jogo e conseguimos corrigir. Houve empate, fomos para a prorrogação sem os nossos melhores jogadores que tinham saído por cinco faltas, assim, como os titulares dos adversários. Foi um jogo de reservas na prorrogação e os reservas da Ernesto Alves conseguiram vencer e conquistar o título estadual com vitória por um ponto marcado por um pivô, que estava desde o mirim e se consagrou naquela partida”.
A conquista abriu uma série de títulos do treinador, que segundo seus cálculos, obteve mais de 100 conquistas estudantis pela escola. “Foi muito difícil, fruto de muito treino e dedicação, mas conseguimos os melhores resultados e certamente eu fui o professor com o maior número de títulos escolares no Estado. Isso é disparado. Passa de cem títulos para mais, em várias competições, só de basquete escolar”, destaca.
Luz salienta ainda a colaboração do Projeto Cestinha, onde muitos alunos treinavam e disputavam o estadual, o apoio da Unisc e da equipe de trabalho formada com auxílio de Clóvis Junior, que era fisioterapeuta e ajudava nos treinamentos, e Sergio Einloft, que trabalhou por cinco anos na Ernesto Alves. “A partir da organização do Sérgio, o projeto cresceu e consegui organizar melhor, atuando mais como diretor, mas seguia como treinador. Chegamos a ter 120 alunos treinando basquete fora do horário de aula na Ernesto Alves.
Com as conquistas estaduais dos Jergs, a Ernesto Alves participou dos Jogos Escolares Brasileiros por vários anos. A equipe também revelou vários jogadores, que devido às competições nacionais receberam convites e bolsas de estudos para defender outras escolas do País. O professor cita, como exemplo, os ex-alunos Ivan Pohl, Guilherme Teichmann, Audrey Parisotto, Icaro Parisotto, Lucas Brito, Vini, Paulão, Micão, entre outros, e as meninas, Bruna Ericson, Evelyn Barbian, Tize Russo, entre outras atletas. “Fui para vários campeonatos brasileiros escolares e para mim não era vantagem o Brasileiro, porque eu perdia atletas. Eu chegava no Brasileiro e se perguntavam, mas como uma escola pública participava? Não era comum uma escola pública, pois a maioria dos participantes eram escolas particulares e havia muitos olheiros que ofereciam bolsas de estudos para que nossos atletas fossem estudar e jogar por escolas de outros estados”, conta Luz, se referindo sobre o fato de vários alunos santa-cruzenses receberem bolsas de estudos para estudar, jogar e residir em outros estados, e fora do País, com vários construindo carreira no basquete.
Luz salienta que após a sua aposentadoria, o projeto de basquete da Escola Ernesto Alves não teve sequência no educandário. Ao avaliar a importância do esporte no âmbito escolar, Zé Luz salienta que é preciso trabalhar com amor, dedicação e incentivo para alcançar os resultados. “Se fosse dada a verdadeira importância, o Brasil seria uma potência no esporte em qualquer modalidade. Só tenho a agradecer a todos que participaram. Tenho amizade com muitos alunos até hoje, pois foram momentos marcantes e que jamais serão esquecidos”, finalizou.