Sentado na mesa da loja de conveniência de um posto de combustíveis, onde rotineiramente costuma tomar café da manhã e ler os jornais do dia, o aposentado Ruben Sérgio Borba, nos recebe para a entrevista. Aos 86 anos, o ex-vereador, que foi presidente da Câmara de Vereadores e secretário Municipal da Fazenda, faz uma viagem ao passado para recordar grandes momentos que vivenciou como jogador de basquete do Corinthians, onde sagrou-se pentacampeão municipal e foi decisivo no lance que decretou o primeiro título estadual do tricolor santa-cruzense em 1958.
Na história, os primeiros registros de competições de basquete no Rio Grande do Sul indicam que o primeiro campeonato foi realizado em 1923 com a disputa da Liga Porto-Alegrense de basquete, que teve três edições, sendo a Associação Cristã de Moços (ACM) como primeira campeã e o Tamandaré como bicampeão, em 24 e 25. Entre 1927 e 1939 foi criada a Liga Atlética do Rio Grande do Sul (Largs), em que consta como campeões o Internacional, com cinco títulos, Fussball Porto Alegre, com três títulos, São Geraldo, com três títulos, ACM, com um título, e Grêmio, com um título.
O basquete santa-cruzense começa a ter os primeiros registros em nível estadual a partir dos anos 40 com a disputa dos campeonatos organizados pela Federação Atlética do Rio Grande do Sul (Fargs). Em 1942, o Corinthians obteve o vice-campeonato estadual em certame que teve o Internacional como campeão. Em 1946 foi a vez da Sociedade Ginástica obter o vice em campeonato novamente vencido pelo colorado porto-alegrense. A competição foi disputada até 1951 e teve o Cruzeiro, de Porto Alegre (cinco vezes), Internacional (quatro vezes), Fussball Porto Alegre (duas vezes) e Corinthians, de Santa Maria (uma vez) como campeões.
A partir de 1952, a Federação Gaúcha de Basquete começou a organizar o Campeonato Estadual de Basquete Adulto Masculino, que totaliza 70 edições até 2020. Ruben Borba conta que nos primeiros anos do estadual, o campeão da Liga Municipal de Santa Cruz representava a cidade no estadual, que era realizado em sede única. Ele lembra que o Corinthians sagrou-se pentacampeão municipal (1954 a 1958) e representou a cidade no estadual. Borba destaca que o time formado por Walter Lauscher (Vermelho), Bileco, Nino, Klemm e Borba fizeram história na época. “Eram cinco jovens que jogaram juntos por seis anos. Jogávamos por amor, pois gostávamos do clube e do basquete. Fomos pentacampeões da cidade derrotando a Ginástisca”, lembra Borba.
Em 1954, em Rio Grande, o Corinthians foi vice-campeão estadual em competição vencida pelo Cruzeiro, de Porto Alegre, em partida final vencida pelos porto-alegrenses por três pontos. Em 1955, com a desistência de Pelotas em sediar o estadual, Borba lembra que Santa Cruz do Sul sediou o estadual para marcar a inauguração do ginásio tricolor. “O ginásio do Corinthians foi inaugurado com o estadual. Perdemos o Vermelho, que se machucou no primeiro jogo e finalizamos em terceiro lugar”, conta. A competição em Santa Cruz foi vencida pelo Grêmio com o Corinthians, de Santa Maria, como vice-campeão.
Em 1956, o estadual foi disputado em Santa Maria, com o Corinthians, de Santa Cruz, tido como favorito ao título, mas após um jogo disputado com o Grêmio, decidido em três prorrogações, a equipe santa-cruzense acabou sendo derrotada. Em protesto contra decisões da arbitragem, o time titular do Corinthians não foi mais escalado, com os reservas da equipe santa-cruzense concluindo a participação. Em 1957, o estadual foi realizado em Rio Grande com a participação de 16 equipes. Borba lembra que no primeiro jogo, o Corinthians derrotou o Internacional e se encaminhava para o título. “Enfrentamos o Corinthians, de Santa Maria, e se a gente perdesse, colocava o Inter novamente na disputa. Sofremos 13 faltas técnicas da arbitragem. Uma delas, o nosso pivô, que era alto, ficou com a bola e o jogador deles, de menor estatura, tentava pegar a bola. O juiz deu falta técnica contra nós e me disse que o nosso jogador estava menosprezando o adversário. Perdemos aquele jogo por três pontos e depois Santa Maria venceu o próprio Internacional e sagrou-se campeão naquele ano”, lembra.
laureados do Corinthians pelo título estadual de 58 – Divulgação
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Em 1958, novamente o Corinthians sediou a disputa do estadual de basquete em Santa Cruz do Sul e com apoio do seu torcedor, o tricolor não deixou o título escapar. Ele lembra que o Corinthians trouxe Nelson Tech, que era considerado um dos melhores pivôs da época, para agregar ao time. Borba conta que o jogo decisivo foi contra o Internacional e lembra o momento que decretou a vitória e o primeiro título estadual do Corinthians. “Naquele tempo não valia cesta de três, só de dois pontos. O jogo estava disputado ponto a ponto. Quando faltava seis segundos, estávamos perdendo por um ponto. O Fernando Schulte entrou no time e faltando pouco segundos, ele me entregou a bola. Eu tinha a opção de dar o passe no pivô, mas a marcação fechou e clareou para mim. Arremessei a bola na linha de dois pontos. A bola saiu da minha mão e caiu certeira na cesta faltando dois segundos. Vencemos o Inter por um ponto e conquistamos o estadual de 58”, recorda ele.
Com a conquista do título estadual, o Corinthians era o favorito para vencer o Citadino, e possuía uma invencibilidade de cinco clássicos sem perder para a Ginástica. Em 59, os dois rivais se enfrentaram e a Ginástica acabou quebrando o tabu ao derrotar o tricolor no Ginásio do Corinthians. “Entramos de salto alto por ser campeão estadual e perdemos para eles dentro do nosso ginásio. O GI-CO era um clássico com duas torcidas fanáticas. Quem era do Mauá e Santa Cruz torcia para a Ginástica e quem era do São Luís e Avenida, torcia para o Corinthians. Dentro da quadra era guerra, mas fora éramos todos amigos”, diz Borba.
Borba, que atuava como ala, lembra com carinho do time do Corinthians nos anos 50 com Vermelho, Bileco, Nino, Klemm, Nelson Tech, Borba, Fernando Schulte, Gilberto, Laurinho, Ipojuca e Dummer. Paulo Eich foi o presidente tricolor e Raul Bartolomay o diretor de basquete. “É uma história que ninguém apaga. Todos foram grandes companheiros e marcaram época pelo Corinthians”, finalizou o ex-jogador. (Com informações publicadas nos jornais Folha da Tarde, de 26 de outubro de 1958 e Folha Esportiva, de 30 de dezembro de 1958).