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Registradores de momentos e eternizadores de histórias

Fotógrafos contam experiências com a arte de captar emoções

Foto: Freepik

Débora Dumke – [email protected]

As fotografias são memórias, com elas é possível reviver momentos especiais, voltar ao passado e, muitas vezes, se emocionar. É possível rever pessoas que já partiram, mas que continuam presentes no coração. O Riovale Jornal entrevistou os fotógrafos Junio Nunes e Marina Winck, ambos de Santa Cruz do Sul, para falar sobre seu amor pela profissão e a importância da fotografia impressa, como meio de relembrar o que já passou e que não voltam mais e os desafios.

Junio Nunes trabalhou 25 anos em televisão, e antes de deixar o cargo, acabou agregando a fotografia. Assim como o cinegrafista não pode perder o momento, na fotografia acontece a mesma coisa, mas é mais estático, pois é o momento congelado. Como o jornalismo sempre o vacinou como um todo, seja na área do esporte ou da ação, na fotografia não foi diferente. Nesses 25 anos trabalhou na RBS TV, produtoras de vídeos, assessoria de comunicação da Prefeitura de Santa Cruz do Sul e na Unisc. “Dentro da universidade já fui migrando para a fotografia. Então tudo que eu já tinha aprendido na RBS eu fui levando para lá, pois trabalhar na televisão foi de grande aprendizado, e tentei ajudar da melhor forma possível a universidade. Lá eu trabalhei na captação e depois na revelação das fotos em preto e branco”, destacou o fotógrafo.

Junio Nunes: “Nós contamos, criamos e registramos nossa história”
Divulgação/RJ

Ele ainda relembra com carinho das pessoas que já passaram pelo seu caminho. No início começou realizando fotos de calendários e fotos empresariais, que de certa forma continuam até hoje. O profissional não é formado em jornalismo e nem em fotografia, ele foi se aperfeiçoando com o tempo e ainda brinca “pela faculdade da vida”. Embora tivesse chance para isso, ele diz que se dedicou ao trabalho e poderia ter me formado e lecionado, mas quando tinham as conhecidas matérias externas, na universidade, em que quem tirava as possíveis dúvidas dos alunos eram os cinematográficos. “Claro que quem passa a didática é o professor, mas é um conjunto, para então chegar no resultado final”, reforçou.

A parte da fotografia chama muito a atenção porque ela foi entrando ao natural na vida do profissional. “Eu posso me orgulhar de uma coisa, que foi a migração do analógico para o digital, pois no analógico tinha que chegar com a foto pronta, não havia o photoshop. Atualmente vejo muitos profissionais nessa tentativa de erros e acertos, em que registra várias fotos para escolher a melhor, na época não tínhamos essa oportunidade”, lembrou Nunes. Um dia saiu de casa com 14 filmes coloridos e um preto e branco. “O preto e branco antigamente era diferente. Toda a fotografia, não só o registro, era considerado arte, pois você era o artista do momento. Registrava em uma câmera, mas você tinha que ter certeza do seu registro, pois ele não se repetiria, e isso acontece até hoje. No entanto, naquela época, tínhamos que esperar ser revelado para ver se realmente ficou bom, e hoje já podemos ver no imediato”, destacou.

Quando você contrata um profissional, você quer ter certeza do seu registro, na época se contratasse um profissional mais seguro, estava com os melhores. Junio conta que na época tinham de oito a dez fotógrafos e hoje são mais de 280 que se intitulam fotógrafos, de acordo com sua pesquisa. “A evolução que despertou em muitas pessoas o prazer da profissão e ao mesmo tempo um inchaço. Claro que isso teve um apelo muito forte quando a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) colocou o Curso de Fotografia no currículo, lançando muitos profissionais para a rua, que é o intuito. E também, com o fato de ser mais fácil de adquirir os equipamentos digitais, se tornando um gatilho,” evidenciou.

O celular fez com que todas as pessoas se tornassem fotógrafas. No estúdio de Nunes existe um produto que é “Você é o fotógrafo!”, e funciona da seguinte maneira: você tira a foto no evento com o seu celular, manda ela para o número, no WhatsApp e a foto sai impressa dentro do evento. Isso é a prova de que uma fotografia fala mais que muitas palavras.

“Eu tenho um carinho muito grande pela fotografia, e não porque ela se tornou a minha profissão, mas por poder extrair o melhor da foto, aqueles momentos que são únicos e que eu sou responsável por eles. É o imediatismo e a certeza que você vai ter o produto que você contratou. Eu me preocupo muito com os futuros profissionais que são aqueles que estão na tentativa do erro e do acerto, mas eles irão fazer isso no teu evento”, destacou.

Nunes ainda conta de uma situação em que realizou uma comparação em que o fotógrafo é como médico, e que eles também não têm o direito de errar. “Assim como se os médicos têm muita responsabilidade com as pessoas, nós temos responsabilidade com os momentos que a gente registra. Só podemos aperfeiçoar nossa fotografia, cada vez pegar ângulos melhores. É luz, sem luz não há fotografia.”

ESTÚDIO

Foi a partir da saída da Universidade de Santa Cruz do Sul, que Junio decidiu que montaria o seu próprio estúdio de fotografia, sendo somente um local para atender, localizado em frente ao atual, na Rua Assis Brasil, 141. Em um certo dia, quatro meninas, já com experiência, foram procurá-lo perguntando se ele não queria montar uma parceria. Nunes aceitou e disse que elas deveriam pagar somente 1% do que iriam receber, que isso seria o suficiente para ajudar. O único pedido foi que não deixassem fila de espera. Como na época ainda era o filme, na transição do digital, ela era mais cultuada, como fotografia e lembrança. Tinham apreço por ter fotos impressas. Hoje em dia as pessoas estão fazendo mais fotos, mas sempre guardadas no digital, não tem o impresso, e isso é um perigo, disse ele.

Cada uma das meninas tinha o seu equipamento, e com o conhecimento resultou em grande sucesso, pois a luz já havia nesse espaço. “Quando eu vi que o nosso espaço estava ficando muito pequeno, e o faturamento que poderia ser muito maior, estava ficando baixo pelo pouco espaço de tempo que tinham para atender os seus clientes, ou seja, as coisas estavam evoluindo muito. Então decidi realizar uma proposta para elas e a resposta foi positiva. Era o meu desejo de ampliar e construir um estúdio novo, e todas aceitaram”, informou.

A decisão foi vender a atual sala e construir o seu novo prédio, este que está até hoje. Depois disso algumas foram saindo para conquistar seus próprios objetivos. Hoje, Junio Nunes conta com uma sócia, e diz que é o maior estúdio da cidade, de área construída. “Temos uma clientela muito fiel. Nós somos os ciclos da vida. Muitas chegam lá gestante, e então registram as fases da criança, adolescência, formatura, casamento e por fim a gestação, em que o ciclo se repete novamente. Isso é uma constante no nosso cotidiano”, contou emocionado.

Emoção é o sentimento do fotógrafo de registrar esses momentos. Além disso, ele conta que já teve o privilégio de participar de parte de alguns ciclos dentro do estúdio. “Para minha surpresa muitas das pessoas que eu fotografei quando menores, já estão acompanhando seus filhos, dentro do meu estúdio, para eu fotografar, isso não tem como não ser emocionante. Você entra na família, você é fotógrafo, como o médico. Claro que as pessoas vão experimentando coisas novas, mas de uma forma ou de outra eles sempre acabam voltando”, contou.

Junio tem um estúdio com estrutura de 10 metros por 10 metros, que na época de Natal foi todo temático. Foram realizadas fotografias que nem precisavam de tanta edição. As famosas fotos de família que irão no pinheirinho, cartão postal e calendários, isso tudo faz uma grande diferença e renova o sentimento de união. Nesse mesmo viés, Nunes foi chamado para realizar um almoço de família e confessou que fazia mais de 10 anos que não realizava esse evento. Toda a família reunida e com o desejo de registrar aquele momento.

EMOÇÃO

Ocorreu algo que o emocionou muito, que foi o caso de uma mulher chegar no seu estabelecimento com uma máquina fotográfica, em que havia sumido todas as suas fotos. Ela tinha ido para a Itália junto com as amigas, e durante a pandemia ela, infelizmente, perdeu quatro delas. O desejo dela era recuperar essas fotos a fim de reviver, pelo menos um pouco, aquele momento especial.

O fotógrafo foi até o computador que havia o software de recuperação e conseguiu recuperar algumas das fotos. “Ela foi direto para o supermercado e trouxe o vinho mais caro e me agradeceu muito, dizendo que essa era uma sensação muito gostosa, pois aquelas fotos demonstraram todo o amor e carinho que ela sentia, sendo muito especiais para ela.

Peguei ela pela mão e disse para ela chegar em casa e fazer uma seleção de fotos para imprimir. Isso valeu tanto, pois todos os dias chegam clientes no estúdio e eu sempre falo para imprimirem suas fotos. Assim, eles estarão contando as suas história e de suas famílias. Muitos familiares já perderam a sua história e é nós que contamos e depois só damos o devido valor depois que perde.” contou emocionado.

Nunes relatou que já cansou de chorar no palco e ver as pessoas conquistando aquilo que sempre sonharam, porque não sabe o que eles passaram durante aqueles longos períodos. “Eu tenho o prazer de registrar esses momentos, e eu me emociono muito com as músicas que são tocadas, porque foi escolhido a dedo. Essas coisas são histórias” mencionou.

DESAFIOS DA PROFISSÃO

Todo o iniciante vem com o propósito de dizer que vai comprar o equipamento mais barato. Isso acontece em todas as profissões, mas isso vira uma normatização e acabam não se valorizando. “Você não precisa cobrar uma fortuna, mas você precisa valorizar seu trabalho e estudo”, informou.

A procura pela fotografia impressa diminuiu, mas é mais pela desatenção das pessoas terem as fotografias impressas. “Eu não me importo se os laboratórios de fotografia irão ganhar dinheiro com isso, eu só quero que as pessoas cultivem suas histórias e guardem elas, porque a hora que perderem, também perderão uma parte da história registrada. A nossa vida é cheia de ciclos e momentos e é de extrema importância registrar e imprimir, para assim deixar eternizados. Nós contamos, criamos e registramos nossa história”, enfatizou.

A sobrevivência no meio digital não tem relação com o meio impresso. “O que acontece no estúdio é que as pessoas fazem o mínimo de fotos para consumir e assim já irão ter uma história para contar, o restante vai ao pendrive para o cliente. Isso dá uma garantia da nossa sobrevivência, pois você consumiu cinco fotos. Trabalhamos com horas marcadas, em que pedimos uma antecipação de valor para assegurar a vaga, isso ajuda no fluxo de clientes. O nosso diferencial é que não terá fotos repetidas e temos um acervo muito grande de roupas e objetos que muitos da cidade não têm, por isso somos considerados o maior estúdio da cidade, possuindo salas temáticas”, expôs.

O digital tirou um pouco do carisma do impresso e as pessoas acham mais interessante postar, colocar na nuvem ou deixar em HD, mas ainda existem pessoas que gostam do físico. “Esses são os meus espelhos de clientes, que imprimem suas fotos e guardam, pois é a história. Você é o responsável pela sua história. É o profissional que irá registrar, imprimir e deixar pronto, mas é você que faz a sua história”, concluiu Nunes.

Fotografias: registros de momentos de felicidade

O ano era 2009, e Marina Winck tinha um namorado que se mudou para outro Estado, então precisava criar um presente diferente para que eles se aproximassem. “Fiz um exemplar de revista Playboy com as minhas fotos. A ideia acabou se espalhando, muitas meninas adoraram e começaram a pedir que eu fizesse igual para elas. Eu tinha apenas uma simples câmera digital, o meu olhar e criatividade, mas topei o desafio. E quando vi que a pilha de revistas feitas com fotos das minhas primeiras clientes já passava dos 20 exemplares, não tive mais escapatória. Mergulhei no universo da fotografia”, informou empolgada Marina Winck.

Marina Winck: “Meu trabalho é necessário para propagar a felicidade, eu sinto que tenho este poder” Divulgação/RJ

Largou o curso superior que estava fazendo em uma área bem diferente, e começou a investir na nova profissão. Primeiro eram só fotos sensuais. Depois, a mesma cliente que fez fotos para presentear o namorado, a contratou para fotografar a formatura dela, outra chamou para fazer suas fotos de gestante, e aí o leque de atuação abriu. E hoje ela pode dizer que já fotografou de tudo, ou quase tudo.

A motivação que a fez seguir e ainda motiva todos os dias é ver que ela pode proporcionar momentos de felicidade e com o próprio equipamento e o seu olhar, eternizar um momento importante para toda a família, um sentimento de autoestima ou um simples sorriso. “Meu trabalho é necessário para propagar a felicidade, eu sinto que tenho este poder, mesmo com dias difíceis e estressantes que a sociedade enfrenta, posso oferecer um momento para a família relaxar, para ajudar o cliente a conquistar sucesso na sua carreira, criando conteúdo relevante para que ele monte sua imagem profissional, ou posso ajudar uma cliente a ela descobrir sua própria beleza que às vezes está escondida”, ressaltou a fotógrafa.

Para Marina, fotografar sempre é emocionante. Quando as pessoas contratam para registrar seus momentos, ela sempre fica sabendo um pouco da história do cliente. E estar ali, contando a parte boa da história, é uma honra. “Eu me sinto primeiramente honrada, quando alguém confia a mim a responsabilidade de registrar sua história. Sinto também um pouco de euforia, pois às vezes eu me empolgo mais do que os próprios clientes. Na hora de entregar o trabalho, muito orgulho e gratidão”, declarou Marina.

Ela conta que todos os avanços vêm para facilitar a nossa vida. Hoje com tantos recursos disponíveis, somente o amor pela fotografia já é suficiente para iniciar nesta área. Os equipamentos estão com funções e autonomia superiores em cada lançamento, não só as câmeras utilizadas, mas também os celulares e drones. “Para sobreviver nesta área, precisamos estar por dentro das tendências mundiais, acompanhar o que o público está gostando, mas eu procuro nunca abrir mão do meu estilo, pois as modas passam, mas se o fotógrafo conseguir criar imagens simples e emocionantes, independente de moda e dos anos, as fotos serão sempre bonitas e vão encantar a quem olhar para elas”, informou.

Marina mencionou que muitas pessoas se auto intitulam fotógrafos, que não investem em conhecimento e estudo de técnicas para conseguir atuar em situações diversas, e também não sabem como resolver possíveis perrengues. Essa falta de preparação para a profissão oferece valores mais baixos, o que acaba sendo atrativo para algumas pessoas. Mas depois que a situação passa e o cliente vê que o então profissional não conseguiu entregar um trabalho bacana, bate o arrependimento e aí acabam buscando então alguém com maior qualificação em outra oportunidade. Um grande desafio é lidar com essa concorrência e fazer com que as pessoas tenham experiências seguras ao garantir o registro dos seus momentos mais especiais.

Com as redes sociais, as pessoas estão primeiramente interessadas nos arquivos digitais, para compartilhar com os amigos e familiares. “No entanto, eu sempre lembro a todos os meus clientes, que ter a foto em mãos não tem valor que pague. A foto impressa também evoluiu. Hoje temos formatos lindos de fotografia, além dos tradicionais, e várias opções de álbuns e livros para guardar com carinho. Essa grande opção proporciona ao cliente quase uma experiência de shopping, onde ele pode customizar seus álbuns, fotografias e quadros, ao seu gosto pessoal, combinando tudo, inclusive com a decoração da casa. Dessa forma o pessoal acaba se interessando mais em ir para o papel e não ficar somente no digital”, esclareceu Marina.