Início Geral Realidade nua e crua por trás das grades

Realidade nua e crua por trás das grades

LUANA CIECELSKI
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Lançado no dia 30 de março em diversas cidades do país, o filme ‘Central’ entrou em cartaz no Cine Max do Shopping Germânia em Santa Cruz do Sul na última semana e faz um convite a todos os santa-cruzenses para conhecer uma realidade nem um pouco bonita: a da vida atrás das grades do Presídio Central de Porto Alegre, considerado em 2008 como o pior presídio do país pelo Congresso Nacional e um dos piores da América Latina pela Organização dos Estados Americanos (OEA). 

A superlotação, a falta de infraestrutura e de higiene, a má alimentação e o cotidiano de execuções e maus tratos, além da estruturação do crime organizado dentro do sistema penitenciário, são apenas alguns dos pontos abordados no documentário de 1h15 de duração, produzido pela Panda Filmes, dirigido por Tatiana Sanger e inspirado no livro “Falange Gaúcha – a História do Crime Organizado no RS” do jornalista Renato Dornelles, que codirigiu o filme. 

Para gravar as imagens do documentário, Sanger permaneceu durante 70 dias dentro do Presídio Central de Porto Alegre, após uma negociação tensa com os apenados, e registrou o cotidiano por trás das grades e testemunhou o sistema de organização dos presos. O documentário conta também com entrevistas feitas com policiais militares e autoridades como o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, o promotor de Justiça Gilmar Bortolotto, e o sociólogo Marcos Rolim, além de depoimentos dos próprios presos e seus familiares. 

Além disso, quem assistir o filme também terá a possibilidade de ver o ponto de vista dos detentos da forma mais realista possível: para que fossem captadas imagens diretamente das galerias – espaços nos quais nem os guardas têm acesso – as câmeras foram colocadas nas mãos dos próprios detentos, e as imagens gravadas por eles. 

Dessa forma, o filme chama a atenção, não apenas para a situação dos presos do Presídio Central, mas para a situação de todo o sistema penitenciário do Brasil, que já estava sendo fortemente discutido desde que uma série de chacinas foram registradas em Roraima e Manaus. A questão que fica é a seguinte: as pessoas são privadas de liberdade por crimes que cometeram, e nesse isolamento da sociedade, elas deveriam passar por um processo de regeneração. Como alguém pode voltar à sociedade melhor do que antes depois de ter passado por um presídio como esse? 

Para os realizadores, o documentário pretende ser, ao mesmo tempo, um instrumento de impacto social real, que dá luz à engrenagem que move todo o funcionamento do sistema penitenciário, dentro e fora da cadeia, e de denúncia das condições degradantes que levaram o Presídio Central a ser considerado o pior do Brasil e definido como a “Masmorra do Século 21” pela CPI do Sistema Carcerário do Congresso Nacional.

O filme ‘Central’ está sendo exibido no Cine Max do Shopping Germânia em Santa Cruz do Sul, até essa quarta-feira, 12 de abril – podendo ser prorrogado ou não -, às 19h30. Os ingressos podem ser comprados pelo site cinemaxshopping.superingresso.com.br. Mais informações sobre o filme são divulgadas na página do ‘Central’ no Facebook, que pode ser acessado pelo endereço eletrônico facebook.com/centralofilme. 

 


 

“Sistema acaba ajudando a organizar o crime”

No Rio Grande do Sul, e acredito que na maioria dos presídios do país, os detentos são separados por facções. Cada facção ocupa um bloco, uma galeria, e os presos são separados de acordo com as facções a que pertencem, para evitar as mortes. As autoridades alegam que isso é redução de danos. Só que esse sistema acaba ajudando a organizar o crime. Cada galeria tem uma “prefeitura”, um grupo que comanda a vida de todos os que vivem lá dentro. Nada é feito sem o consentimento do “prefeito”. O preso não come, não se veste, não recebe medicamento se não tiver autorização do chefe. O poder deles é absoluto. Nem a polícia entra lá. 

Depoimento da diretora do filme, Tatiana Sager

Premiações

O documentário recebeu os prêmios de Melhor Documentário de Língua Portuguesa no FESTin – Portugal (2016), de Melhor Documentário no 33° Prêmio Nacional dos Direitos Humanos de Jornalismo (2016) e de Finalização FAC-RS (2014). Além de ter participado da seleção oficial do Florianópolis Audiovisual do Mercosul (FAM), em Santa Catariana (2016), e do DocMontevideo, no Uruguai (2016), da Mostra Panorama do Festival Visões Periféricas, no Rio de Janeiro (2016) e da Mostra Gaúcha do Festival de Cinema de Gramado, no RS (2016).

 


 

Ficha técnica

Direção: Tatiana Sager
Codireção: Renato Dornelles
Produção: Beto Rodrigues e Tatiana Sager
Produção Executiva: Beto Rodrigues e Raquel Sager
Roteiro: Tatiana Sager, Renato Dornelles e Luca Alverdi
Direção de Fotografia: Pedro Rocha
Trilha Sonora Original: Everton Rodrigues
Montagem: Luca Alverdi e Ricardo Zauza
Desenho de Som e Mixagem: André Sittoni
Idade Indicativa: 14 anos