Quando um dia você já tiver brincado muito, andado muito, trabalhado muito, viajado muito, lido muito, amado muito, talvez a vida esbarre no seu ombro e você, numa mistura de espanto e serenidade, se pergunte qual o sentido de tudo. Cada ano parece ser um passo de uma caminhada. Quando buscamos motivação para a trajetória, querendo saber o que vamos encontrar no fim do caminho, chega a vida e nos mostra que o motivo é o trajeto, com suas buscas, encontros e desencontros, partidas e chegadas.
Quando achamos que não somos mais crianças, que passou o tempo de brincar, chega a vida e nos mostra que, com o tempo, só mudamos os brinquedos e o tamanho das coisas com as quais brincamos. Muitos brinquedos de adultos, embora caros, parecem ter menos valor aos donos, que os brinquedos dos mesmos adultos quando eram crianças.
Quando achamos que temos poucas coisas, e lutamos para ter mais, chega a vida e nos mostra que temos muito mais do que precisamos, que viveríamos com muito menos do que temos.
Quando um dia estudamos e aprendemos os cinco sentidos do corpo (audição, visão, olfato, gosto e tato), chega a vida e nos mostra que sabemos muito pouco dos sentidos da alma.
Quando um dia achamos que conhecemos muitos lugares (campos, serras, cidades, estados, fronteiras, países), chega a vida e nos mostra que não conhecemos nem a nós próprios. Desconhecemos nossas emoções, seus motivos, razões e faltas.
Quando pensamos que estamos orando ao nosso Deus, chega a vida e nos ensina que oramos ao Deus de todos, que as religiões são muitas, mas é única a Energia Divina, o mesmo Espírito que merece que a Ele sejam dirigidas nossas preces e gratidões, nossa adoração e reverência.
Quando achamos que sonhos são fantasias, chega a vida e nos mostra que nossos sonhos cabem em nós, em modelo e número. Somos do tamanho deles.
Quando somamos centenas de amigos nas redes sociais, chega a vida e nos mostra que amigos mesmo são muito poucos e, para nossa surpresa, entre eles estão nossos bichinhos de estimação, que – como pode? – não têm Facebook.
Quando achamos que nossos filhos serão sempre nossos, chega a vida e nos mostra que o mundo precisa deles, o mesmo mundo que irá dividir conosco o papel de pai, ou de mãe, e que irá adotá-los com toda a bagagem com a qual conseguimos fazer suas malas internas. Bagagem com roupas interiores para calores e frios, calmarias e tempestades. Roupagens emocionais para enfrentar o que precisar, e desfrutar o que merecer. Quando um dia achamos que amá-los nos fez saber tudo do amor, e que isso nos deixou prontos, chega a vida e nos mostra que eles têm muito a nos ensinar, e que realmente nos deixaram prontos… Prontos para começar a aprender.