Considerada uma das obras mais importantes da sociologia, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber, trata da relação básica entre a presença de uma ética religiosa e o surgimento do capitalismo moderno. O ponto de partida da tese de Weber é o objetivo declarado dos reformadores (Lutero, Calvino e Zwingli): cultivar a religiosidade individual do cristão a um disciplinamento de sua personalidade. Tal cultivo seria administrado de acordo com alguns aspectos – cito dois importantes: (I) a ideia do valor do labor numa profissão e (II) a doutrina da predestinação, ancorada nos pressupostos de Santo Agostinho.
Quanto ao primeiro aspecto, Weber afirma que Martinho Lutero viu na profissão uma das tarefas de realização da vida cristã. Ou seja, à luz da graça divina, o trabalho é visto como uma vocação (disposição natural do espírito), logo, um valor intrínseco da família cristã.
O segundo aspecto (a “doutrina da predestinação”) – que afetou o calvinismo – ensina que todos os eventos da vida terrena são prescritos por Deus. O que é crucial nessa doutrina é que a decisão de Deus é absoluta sobre todos os aspectos da vida. Isso levanta a questão sobre como o calvinista devoto deve viver. Questionamento que se mostra indiferente, dado que, independente do modo de vida, o destino de tudo e de todos é traçado unicamente por Deus.
Nesse sentido, Weber interpreta, a tarefa do trabalho profissional (enfatizado por Lutero) seria um meio de reagir ao medo religioso que afetava os fieis, sobre qual seria o seu destino (preocupação dos calvinistas, sobretudo), pois a incansável dedicação a uma profissão poderia apresentar alguns sinais da graça divina – de que forma? Ora, como saber se Deus destinou a um determinado cristão a salvação ou a danação? Basta que ele procure os sinais da graça divina no trabalho diário: se ele exerce o seu trabalho de acordo com os parâmetros da cristandade, e se ele atinge o sucesso, então é sinal de que Deus o destinou à salvação.
Sob esses aspectos, Weber afirma que os cristãos reformados aos poucos se compactuaram em um novo padrão de comportamento, padrão que ele se referiu como sendo o “ascetismo interior-mundano”: o agir no mundo pelo viés do trabalho abnegado, que implica não consumir mais do que o básico para a subsistência humana. Esse ascetismo protestante justifica, para Weber, o acúmulo de capital.
A postura ética do Protestantismo, nessa perspectiva, sustenta a condição de que os indivíduos que lucram grandes quantias de capital não devem ser entendidos enquanto usurpadores do tempo dado a eles por Deus (como afirma Tomás de Aquino ao se referir à usura), mas, sim, enquanto privilegiados de Deus: um reconhecimento do sinal da salvação.
Por fim, Weber afirma que a ética protestante favorece o individualismo, uma vez que implica o estar só diante de Deus, na procura incessante dos sinais da salvação por meio do trabalho.
A afirmação de que tal relação possui ou não um fundamento lógico que mereça nossa credibilidade, cabe ao leitor com estudos mais apurados sobre. Contudo, creio ser um tema enriquecedor para o debate.