Após mais de um ano com as aulas interrompidas por conta da pandemia, nessa terça-feira, 11, foi dia de retornar à sala de aula e colocar as mãos na massa. Com o perdão do trocadilho, foi isso que fez a primeira turma de alunos do Projeto Mão na Massa, uma parceria da Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Esporte (Sehase) com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).
Na Padaria Comunitária Bom Jesus, que funciona junto ao Cras Integrar, Manuel Neres, 54 anos, era o bendito fruto entre as mulheres. No dia em que levou os filhos pequenos – de 9 e 10 anos – para as atividades no centro de convivência, ficou sabendo da oficina e decidiu se inscrever. Com duas décadas e meia de experiência trabalhando no preparo de alimentos, ele acredita que sempre é possível aprender um pouco mais. “Quem diz que sabe tudo, tá mentindo, sempre tem uma novidade”, disse faceiro.
Embora a turma contasse com apenas cinco alunos, o entusiasmo de Juliana Fontoura, 40 anos, era tanto, que fazia parecer que a sala estava cheia. Ela contou que já fez cursos de cabeleireira e tapeçaria em alto relevo, mas que seu sonho mesmo é ser confeiteira. No bar do esposo, junto a casa onde mora, na Rua São José, ela pretende colocar à venda os doces que preparar a partir das receitas que aprender no curso. “Comer, todo mundo precisa. Mesmo com a pandemia, esse é o comércio que menos sente o abalo”, observou.
Participativa, falante e curiosa, Juliana, que é ex-usuária de drogas – condição que fez questão de mencionar durante a entrevista – acredita que a oportunidade de realizar o curso é também uma forma de ocupar a mente e deixa tudo de ruim ficar no passado. “Quero aprender doces pra incrementar a renda, mas também pra ocupar a cabeça e mostrar que tudo tem jeito, só a morte que não tem”.
Munidos de avental, touca, luvas e máscaras, os alunos estavam atentos aos ensinamentos da chef Ana Elisa Passos, que enquanto explicava a preparação das sobremesas, ia intercalando conhecimentos acerca das boas práticas da cozinha. Já no primeiro dia, o grupo preparou brigadeirão e manjar de coco. “Durante o curso eles vão aprender oito sobremesas e vão poder varia as receitas, usar a base de uma com o complemento de outra, fazer variações”, explicou
Ana disse que o propósito do curso é oportunizar uma fonte de renda para que os alunos possam trabalhar por conta própria ou como funcionários de uma empresa do ramo da alimentação.“O curso tem esse foco profissional, mas não é somente para quem quer ser empreendedor. O aluno que concluir a oficina vai ganhar certificado e estar preparado para trabalhar também dentro de uma empresa, então tem esses dois lados”.
Neste primeiro semestre deste ano estão sendo oferecidas diversas oficinas com turmas nos Cras Integrar e Beatriz Frantz Jungblut. Nas aulas, os participantes aprendem técnicas de higiene para manipulação de alimentos, diferentes tipos de pães e cucas, preparação de pizzas, molhos e calzones, tortas, petiscos, sobremesas e lanches salgados. São 12 horas de aula, com um encontro semanal,.
O projeto Mão na Massa tem como objetivo capacitar jovens e adultos com oficinas profissionalizantes de panificação, oferecendo alternativas para geração de renda, inclusão no mercado de trabalho e melhoria da qualidade de vida. Dessa forma, a iniciativa busca promover o resgate da autoestima dos participantes, a autonomia, a socialização, o trabalho em equipe, além de atuar na prevenção e erradicação do trabalho infantil.
No primeiro ano do programa, em 2019, foram entregues 240 certificados para cerca de 170 participantes, em 16 turmas. O próximo passo para ampliar o projeto está previsto para o segundo semestre deste ano, quando também serão oferecidas oficinas para os bairros referenciados pelo Cras Central, que começou a funcionar em abril, na Avenida Coronel Oscar Jost, ao lado da Secretaria Municipal de Educação (SEE).