Com fala mansa e delicada ela começou a falar. Tranquila como numa reunião de amigos. À medida que evoluía a fala sobre o tema proposto, a voz delicada dava lugar à abordagem sólida, profunda e de fácil entendimento. Era noite de uma quarta-feira fria, 14 de agosto. Estar ali era um exercício de paternidade/maternidade responsável. Mais uma vez o Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul, aborda a temática “O Mundo das Escolhas Profissionais”. O público alvo era os pais (ou responsáveis) dos alunos do ensino médio. A citada fala de delicadeza iluminada era da psicóloga Silvana Oleinik ([email protected]), consultora em desenvolvimento humano e organizacional, e coaching de executivos e carreira.
O tema “escolha da profissão” é sempre oportuno. Vê-se jovens sem definição de que carreira querem seguir na vida. Por eliminação de muitas acabam ficando por escolher entre duas ou três profissões, e muitas vezes estas não têm afinidades entre si, não requerem as mesmas aptidões ou habilidades. Entendo ser difícil a um jovem, no frescor da idade, definir o que vai ser pelo resto da vida. Não que não possam mudar no caminho, trocar de profissão, e isso é cada vez mais comum. Mas uma orientação adequada pode ajudar a evitar frustrações indesejadas. Como disse o poeta chileno Pablo Neruda: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”.
Na citada palestra, Silvana Oleinik disse que no Brasil não temos estatísticas confiáveis sobre o tema, então citou uma pesquisa feita em Phoenix, Arizona, Estados Unidos. Mostrou os dados estatísticos obtidos após entrevistadas milhares de pessoas dos 20 aos 70 anos. As respostas foram agrupadas por décadas de idade, da terceira à sétima década de vida. Todos os grupos tinham um percentual significativo de pessoas que queriam trocar de profissão ou exercer uma profissão paralela em atividade diferente. Quanto mais jovem, maior era esta percentagem. Apenas 14 % dos entrevistados relataram estar satisfeitos com o trabalho e a carreira.
É normal passarmos mais tempo no trabalho do que em casa com a família ou amigos. Assim, é comum associarmos as palavras sucesso e felicidade com trabalho ou o que ele torna possível. Entretanto, existe uma confusão acerca do conceito de sucesso e felicidade, sobretudo numa sociedade consumista que se diz moderna. O escritor Alain de Botton, famoso por popularizar a filosofia, disse que, “em boa parte do tempo, nossas ideias sobre o que significa viver com sucesso não são as nossas próprias. Elas foram sugadas de outras pessoas (…), da televisão à publicidade”.
É frequente ver algumas pessoas almejarem cargos maiores nas empresas onde trabalham. Mas, em muitos casos, quando são promovidas descobrem que não estavam preparadas ou não têm aptidões para o novo cargo. Existem técnicos excelentes que nunca se darão bem em liderança de equipes, requerem alguma outra forma de valorização. Fábio Barbosa, presidente-executivo do Grupo Abril, disse: ”não vamos achar que ser presidente de uma empresa é a concretização da felicidade”. No livro “The happiness hypothesis” (2006) o psicólogo Jonathan Haidt diz: “O prazer de conseguir o que você quer é frequentemente fugidio. Você sonha em ser promovido, ser aceito em uma escola prestigiosa ou terminar um grande projeto. Você trabalha todo o tempo em que está acordado, talvez imaginando (sobretudo nas horas difíceis) o quão feliz seria se apenas pudesse atingir essa meta. Então você tem sucesso e, se tiver sorte, ganha uma hora, talvez um dia de euforia. Mais tipicamente, contudo, você não tem nenhuma euforia (…), a sensação é mais de alívio – o prazer do fechamento e da entrega.” Isso ilustra o que já escrevi nesta coluna em edições passadas. Muitas vezes vivemos imaginando que um dia iremos encontrar um sentido para tudo, talvez a felicidade no final da trajetória. Aí então pode acontecer que, quando você alcançar o que julga ser o fim, a vida te mostre que o sentido e a possibilidade da felicidade estavam no trajeto, não na forma de um encontro, mas de uma procura bem feita.