Caixas de papelão, plásticos, garrafas, metais e outros materiais que poderiam ser destinados à reciclagem, gerando renda para dezenas de famílias de catadores que sobrevivem da atividade em Santa Cruz do Sul, hoje são facilmente encontrados dentro dos contêineres verdes. Sete anos depois de ter sido a terceira cidade do Vale do Rio Pardo a implementar a coleta robotizada de resíduos, Santa Cruz do Sul ainda engatinha quando o assunto é separação de lixo.
Nos últimos dias, a quantidade de resíduos recicláveis encontrados dentro dos contêineres tem chamado a atenção. Apesar de todo o trabalho de educação e orientação feito nos últimos anos pelos técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade (Semass) e pela Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Coomcat), junto a moradores e comerciantes nas comunidades contempladas com a Coleta Seletiva solidária, o que se percebe é que as pessoas ainda tem muita dificuldade para realizarem a separação adequadamente.
A mistura de materiais secos e orgânicos dentro dos contêineres provoca a ação de catadores informais em busca de recicláveis. O resultado disso é uma situação desagradável nas ruas da cidade porque ao remexerem o conteúdo para encontrar materiais recicláveis para a venda, esses catadores deixam espalhados pelo chão uma quantidade enorme de resíduo orgânico, causando mau cheiro e sujando as calçadas.
Na época da implantação dos contêineres – hoje são 550 no Centro e bairros do entorno – a Prefeitura orientou para que as antigas lixeiras não fossem retiradas e sim destinadas ao acondicionamento de materiais recicláveis pelos moradores. Porém a orientação para quem não dispõe de lixeiras específicas para o lixo seco, é colocar as sacolas do lado de fora dos contêineres, junto ao meio-fio. “As pessoas não querem que as sacolas fiquem do lado de fora, acham feio e então acabam colocando tudo dentro do contêiner”, disse o agente administrativo da Semass Maurício Felipe Dopke, que também possui formação em engenharia bioquímica.
Ele explica que os materiais não precisam ser separados por sacola, podendo ser colocados juntos garrafas de vidro, papéis, latas de alumínio e outros. No centro da cidade, além do caminhão gaiola que passa diariamente, os catadores da Coomcat seguem percorrendo as ruas e recolhendo os materiais destinados à reciclagem. “Para ter conhecimento dos dias e horários por rua, é possível acessar o site da prefeitura, entrar em contato com a Semass ou com a Coomcat”, disse.
É preciso lembrar que a coleta seletiva hoje é fonte de trabalho e renda para 55 famílias em Santa Cruz do Sul, como evidencia o secretário municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Jaques Leo Eisenberger. “Ao se transformarem em matéria-prima para novos produtos, os materiais coletados deixam de ser uma fonte poluidora, contribuindo para a preservação do meio ambiente”.
De acordo com o secretário, com a pandemia a situação piorou. “As pessoas ficaram mais tempo em casa e utilizaram mais vezes o serviço de delivery, o que fez aumentar muito o acúmulo de embalagens, a geração de lixo e o descarte incorreto”, disse ele. O problema que vem causando tantos transtornos, segundo ele, é também fruto da falta de conscientização das pessoas. “Muitas vezes o que falta não é informação, é o hábito. É mais fácil jogar tudo lá dentro”.
Além de fazer um apelo à comunidade para que atente para a separação do lixo e faça a sua parte nesse processo, a Semass deve colocar em ação ainda neste primeiro semestre um projeto piloto que pretende melhorar o problema do descarte de recicláveis dentro dos contêineres. A Conesul, empresa responsável pelo recolhimento do lixo orgânico, cederá quatro contêineres na cor laranja, exclusivamente destinados ao depósito de recicláveis. Os equipamentos serão instalados em locais estratégicos na região central.
Recolhimento especializado – Outra situação que tem sido recorrente é o descarte de mobiliário – sofás, mesas etc. – e restos de construção ao lado dos contêineres. O recolhimento desses materiais deve ser providenciado pelos moradores junto a empresas particulares, especializadas nesse serviço.
Recentemente estabelecimentos do ramo da alimentação foram notificados por depositar carcaças de peixes e frutos do mar sem o devido acondicionamento dentro dos contêineres. O mau cheiro gerou reclamações de moradores e comerciantes do entorno. Devido a grande quantidade gerada pelos estabelecimentos, os proprietários foram orientados a providenciar um recolhimento especializado.