Jéssica Ferreira
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Muitas pessoas, ao ouvirem falar da palavra sebo, irão logo imaginar aquela matéria-prima extraída de origem animal para fabricação de sabonetes, ou então, aquelas que imaginam um lugar pequeno, aconchegante, ainda que empoeirado, cheio de pilhas de livros com folhas amarelas pelo tempo e cheiro característico. Porém, o sebo vai muito além de livros empoeirados, ou seja, são prateleiras que guardam um universo de histórias para serem contadas ou lidas. Os sebos são usualmente procurados por se tratarem de uma opção mais econômica para a compra de livros, além de oferecerem títulos que muitas vezes não estão disponíveis nas livrarias, justamente por serem raros ou não mais publicados.
O Sebo Livro Vital, localizado em Santa Cruz do Sul, por exemplo, constitui-se num espaço amplo e organizado. As obras se distribuem em ordem alfabética pelo nome do autor, além de também, o Sebo possuir livros novos como “Se eu ficar”, de Gayle Forman; e sua continuação “Para onde ela foi?”, dentre tantos outros. Quando um livro não é encontrado, é pesquisado e buscado o mesmo em todos os sebos do Brasil.
De acordo com a proprietária do Sebo, Estelamar Mânica Arend, mesmo que nem sempre os livros estejam em seu melhor estado, o valor cobrado compensa. “Temos no Sebo raridades de livros de 1920, ou então, livros alemães que registram marcos importantíssimos. Há uns dias atrás uma moça de Brasília me procurou pelo site do Sebo, pois havia encontrado um livro do qual precisava muito. Lembro-me que quando este mesmo livro chegou aqui, eu não ia cadastrá-lo, pois o estado dele já não era muito bom, porém acabei cadastrando e pude ajudar esta moça. Depois de ter vendido o livro, ela me contou que o livro era para um amigo que mora nos Estados Unidos, e que estavam procurando a obra em todo Brasil e até mesmo na Argentina, pois este mesmo livro, a autora era a mãe deste rapaz e ele queria resgatar e imprimir toda a coleção dos livros da sua mãe de novo, e este que encontrou aqui no Sebo era o livro que faltava”, contou.
O Sebo possui especializações nas áreas de ciências humanas, como psicologia, filosofia, política, história, artes, como também livros espíritas, clássicos da literatura brasileira e mundial, exoterismo, biografias, revistas, gibis, cd’s, dvd’s e até mesmo discos de vinil. Cada publicação tem uma história especial. O autor tece personagens, cidades, situações, tudo junto em um produto diagramado, organizado, muitas vezes em capítulos, e exposto na vitrine. Só que um livro acaba sendo muito mais que um mero reprodutor de histórias. Se a obra for profunda e, de alguma forma, atingir o leitor, ele indica o livro para outras pessoas e, se ele não for muito apegado ao objeto físico, acaba repassando-o a amigos, como uma maneira de dividir sensações. Dessa forma, muito além de seu conteúdo, acaba se fazendo uma história em torno do livro.
Com um ano de existência, o Sebo aumentou gradativamente. O lucro que é obtido pela venda dos livros, é destinado para a ampliação do acervo. “Este espaço é minha casa, mas tenho inúmeros projetos na cabeça ainda, como aumentar o espaço com mais prateleiras, entre tantas outras ideias”, disse Estelamar. Um sebo é considerado um depósito de histórias vivas, devidamente porque cada livro “empoeirado” suscita, além de sua própria narrativa, muitos causos. Um local onde se pode viajar na história, obter conhecimento e além de tudo, se apaixonar juntamente com o autor. Onde se encontra livros que foram esgotados nas editoras, ou até mesmo aqueles em que as mesmas nem existem mais. Por mais que sejam livros antigos, o sebo traz novidades a todos os momentos.
Luana Ciecelski
Os sebos são usualmente são procurados por serem uma opção mais econômica para a compra de livros
Como começou o Sebo Livro Vital
Estelamar conta que quando jovem estava em dúvida sobre qual faculdade cursaria, ou seja, estava entre Nutrição e Biblioteconomia. Entretanto, escolheu o ramo da Nutrição, onde, trabalhou por um tempo, porém, por não ter gostado muito decidiu abrir uma Floricultura. Durante 22 anos a empresária manteve sua floricultura, mas, ao se aposentar decidiu fechar a empresa e alugar o espaço. “Era um ciclo que havia acabado em minha vida, e a partir destas mudanças, decidi viajar, onde morei durante um tempo na Itália”, conta.
Quando Estelamar voltou ao Brasil, e à sua terra natal, Santa Cruz do Sul, decidiu ir em busca de alguma coisa para fazer. “Eu não podia ficar sem fazer nada, precisava de um objetivo para levantar. Por isso, resolvi voltar para àquilo que eu deixei para trás, que era a Biblioteconomia, onde eu estaria fazendo algo que gostava muito, ou seja, mexer com livros e atender pessoas”, conta. Após a idéia de retomar à uma escolha que outrora havia deixado, Estelamar decidiu abrir um Sebo estruturado. “Comecei ‘devagarinho’, pedindo para alguns amigos, recebendo doações, e assim, eu fui adiante”, explica.
O Sebo Livro Vital completou um ano de existência e recebe obras praticamente todos os dias. Além disso, quem doar 10 livros ao acervo, pode se cadastrar e retirar 10 livros para estudo ou lazer. Os preços dos livros variam de acordo com a obra e seu estado. O acervo se localiza na Rua Capitão Jorge Frantz, 48 – Centro. Para demais informações sobre compra, venda ou troca, pelo fone (51) 3711-3440 ou para procura de obras pelo site: www.livrovital.com.br.
Luana Ciecelski
Estelamar: “Raridades de 1920”
Você sabia?
Sebo é um local para comercialização de livros usados, bem como, local para reunir pessoas afim de trocarem experiências de leitura, arte e música de forma aconchegante e requintada. Os primeiros sebos surgiram n Europa por volta do século XVI, e no Brasil no século XVIII.
Porque Sebo?
Existem algumas versões a respeito da origem do termo sebo, uma delas diz que no tempo em que não havia luz elétrica as pessoas liam à luz de velas. As velas, naquele tempo, eram feitas de gordura, de sebo. Conforme iam derretendo, acabavam sujando os livros, que ficavam engordurados.
