Minha vontade era levantar, tomar o microfone das mãos do artista e pedir, “gritar” por silêncio para aquelas pessoas que não conversavam: bradavam no bar em que o músico uruguaio Dani López cantava seu trabalho autoral, inteligente, bonito e sensível. Senti vergonha dele. Por ser daqui e recebê-lo tão mal.
Senti pena de nós artistas por termos cada vez mais que lidar com a falta de educação e entendimento das pessoas, que cada vez menos se interessam por um som que não seja para mexer a bunda. Como se não bastasse a bagunça, eis que no meio de uma canção eles começam o “Parabéns a você”.
Saí do sério, mas foi nessa hora que larguei minha raiva e passei a analisar a situação.
Diga-se de passagem, há algum tempo resolvi que não quero mais tocar em bar -e não pensem vocês que essa é uma decisão fácil. É no bar que a gente fica mais perto do público, que canta as músicas preferidas, que aprende muito, e que muitas vezes até precisa da grana nos períodos de “vacas magras”. Mas hoje? Está difícil.
Conseguir fazer alguém sentar em um teatro e te ouvir sem navegar na internet ou estar mais preocupado em fazer vídeos e fotos do que se permitir vivenciar sensações no show, já é tarefa árdua. Que dirá em um ambiente em que tudo é mais importante que o artista.
Na minha breve observação sobre o que estava acontecendo ao meu redor, encontrei não apenas um, mas vários culpados. O dono do bar tem que fazer uma opção: ou quer ganhar dinheiro com a venda de bebidas e somente isso ou quer compartilhar o espaço com arte (como era o caso desse lugar onde eu estava). Quando o aniversariante vai fazer a reserva, o mais legal e educado é o proprietário informar “olha, hoje a gente vai receber um músico de trabalho autoral, não vai ser aquela música da casa para dançar e tal…”, e assim, alertar o cliente. Mas e aí? Perder a reserva da festa e os 20 amigos que o anfitrião levaria? Nem pensar, pensa ele.
As pessoas, por sua vez, por mais que estivessem ali para comemorar, ora, são surdas? Não perceberam que alguém no palco tentava se comunicar a ponto de iniciar um parabéns no meio de uma canção? Pai e mãe não lhes deram educação? Isso me leva a conclusão que de fato: as favas com a sensibilidade, dane-se a arte porque afinal, ninguém tem tempo para isso. E essa constatação é apavorante.
E de certa maneira, um retrato deste país que gasta R$ 25 milhões de isenção de impostos para estruturas temporárias da copa do mundo que sabe-se lá para que serão usadas em 30 dias e apenas R$ 35 milhões de reais para o sistema da lei de incentivo a cultura para um ano, 365 dias. Tem algum erro aí ou eu que estou “viajando”? A inversão de valores chegou ao pico e hoje resolvi desabafar, falar, sem pestanejar. Se cada um fizesse isso, talvez as coisas mudassem.
Até semana que vem, beijo em vocês que gastam minutos de seu dia para ler o que escrevo.
Fonte: Blog do Galpão Crioulo – Coluna Posteira