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Plantio de ipê amarelo marca os 20 anos da Bolsa de Sementes

Foto: Divulgação/RJ
Junto com o Afubrinha e os alunos do AABB Comunidade, o presidente da Afubra e o secretário de Meio Ambiente realizaram o plantio da muda de ipê amarelo

A praça Siegfried Heuser, em Santa Cruz do Sul/RS, recebeu, na manhã de ontem, 03 de junho, uma muda de ipê amarelo. O plantio marca o início das comemorações pelos 20 anos da Bolsa de Sementes. Coordenada pelo Verde é Vida, programa permanente de educação socioambiental e rural da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), a Bolsa de Sementes é desenvolvida em parceria com 61 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com o apoio da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).


Para o presidente da Afubra, Benício Albano Werner, a parceria dos municípios e escolas e da universidade é fundamental para o desenvolvimento da atividade. “Como entidade, sempre conduzimos nossas ações à preservação ambiental. Inclusive, com trabalhos junto aos fumicultores para o uso de mata energética”, lembrou Werner, deixando um agradecimento aos pais, professores e pessoas das comunidades que passam seus conhecimentos aos alunos, na identificação e coleta das sementes.

Ao agradecer à Afubra pelo Verde é Vida, o secretário de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade de Santa Cruz do Sul, Jaques Eisenberger, destacou que, em seu conhecimento, o trabalho realizado pelo Verde é Vida é o de maior continuidade e de relevância. “A ação é muito importante para o meio ambiente. Quando se fala no setor da fumicultura, muito se critica, mas, precisa-se se falar que é uma das culturas com mais prática conservacionista, com maior índice de preservação”. Ao finalizar, o Secretário se colocou à disposição, junto com a Secretaria Municipal de Educação, para a continuidade dos trabalhos.

Junto com o Afubrinha e os alunos do AABB Comunidade, o presidente da Afubra e o secretário de Meio Ambiente realizaram a muda de ipê amarelo. O plantio também foi acompanhado pelo diretor-presidente da Agro-Comercial Afubra, Romeu Schneider, o secretário de Educação, João Miguel Wenzel, o coordenador geral do Verde é Vida, Adalberto Huve, o fumicultor e associado da Afubra, Giovane Weber.

As escolas parceiras da Região de Atuação Santa Cruz do Sul, nestes 20 anos de Bolsa de Sementes, já coletaram 7.170,3 quilos. A RA é composta por Gramado Xavier, Herveiras, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol e Vera Cruz.

COMEMORAÇÃO


Para comemorar o êxito nos objetivos da Bolsa de Sementes, uma série de atividades foi organizada pela equipe do Verde é Vida. Uma delas será o plantio de uma muda de Ipê Amarelo em cada município onde a Afubra tem filial, para marcar a parceria com a Bolsa de Sementes. “Optamos por um plantio no município sede onde a Afubra tem sua casa, mas, esse plantio é extensivo à parceria com cada município que faz parte da Região de Atuação da Bolsa”, explica Adalberto.

Outra ação será o plantio de uma muda de Ipê Amarelo na Universidade Federal de Santa Maria, agendada para o dia 9 de junho, com a presença da Afubra e da reitoria. “São 20 anos de uma belíssima parceria que rendeu muitos frutos. Será um marco para seguirmos em frente, sensibilizando nossos alunos, professores, pais e comunidade e contribuindo para a preservação e recuperação do meio ambiente. A Universidade, para a Afubra, é uma parceira fundamental”, destaca Adalberto.

Entretanto, a comunidade também fará parte das comemorações. Serão distribuídos 20 mil envelopes com sementes de Ipê Amarelo, totalizando 427 mil sementes. No envelope constam as instruções de como plantar esta semente. “Essas sementes são as coletadas pelas nossas escolas parceiras, que estavam armazenadas na universidade. Com isso, estamos devolvendo às comunidades o trabalho desenvolvido”, diz o coordenador. Mas, por que o Ipê Amarelo? O Ipê Amarelo é considerado a flor símbolo do Brasil. “Com a escolha, além de incentivar o plantio de árvores, também incentivamos a cidadania”.

Saiba mais

Os principais objetivos da Bolsa de Sementes são a sensibilização das pessoas e a preservação ambiental. Nestes anos de atividades, a Bolsa de Sementes já coletou 22.217,4 quilos de sementes de espécies nativas, destas, 14 toneladas foram viáveis e foram doadas ou estão armazenadas na UFSM. A coleta é realizada pelos alunos, professores, pais e comunidades das escolas parcerias que, após um primeiro beneficiamento, enviam as sementes para a Afubra. Todas as sementes são enviadas para o laboratório de silvicultura da UFSM onde passam por uma seleção de viabilidade, são catalogadas e armazenadas para posterior doação. Além do cunho ambiental, a Bolsa de Sementes dá um retorno financeiro às escolas parceiras: são 136 espécies nativas que constam na Bolsa e, cada uma delas, tem um valor condicionado; ao final de cada ano, as escolas parceiras na Bolsa de Sementes recebem um cheque para ser trocado por mercadorias nas lojas da Agro-Comercial Afubra.

Um projeto de extensão universitária na UFSM

A Bolsa de Sementes é um projeto de extensão universitária, desenvolvido há 20 anos na Universidade Federal de Santa Maria, em parceria com a Afubra (Associação de Fumicultores do Brasil). No projeto, estão cadastradas, em média, 233 escolas públicas localizadas nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, tendo como principal objetivo a sensibilização para conservação de espécies arbóreas nativas.

E como isso é feito? Para conservar é preciso conhecer e assim as crianças, acompanhadas por seus professores e familiares, são estimuladas a coletar frutos e sementes. Entretanto, para isso são necessários estudos e observações, como a identificação das espécies e de suas mudanças ao longo do ano. Em parceria, professores e acadêmicos da UFSM e colaboradores da Afubra orientam as crianças a coletar de modo sustentável, mantendo frutos para a fauna e sementes para autorregeneração das árvores.

Após a coleta, as escolas preparam e organizam pequenos lotes de sementes e encaminham à Afubra e, então, à UFSM. Na Universidade, as sementes são analisadas quanto a sua qualidade aparente, visando a distribuição gratuita para diferentes ações na região sul. De acordo com a identificação correta das espécies e do local da coleta, data e qualidade das sementes, as escolas recebem uma bonificação da Afubra, sendo revertida, principalmente em materiais utilizados pelas escolas.

Durante os 20 anos, estima-se que foram recebidas cerca de 14 toneladas de sementes viáveis de 181 espécies. Entre as mais coletadas, podemos citar Araucaria angustifolia (pinheiro-brasileiro), Annona sylvatica (ariticum), Eugenia rostrifolia (batinga), Schizolobium parahyba (guapuruvu), Eugenia uniflora (pitanga), Cedrela fissilis (cedro), Eugenia involucratra (cerejeira), entre outras com valor ecológico e madeireiro. Do total de sementes recebidas, mais de 6 toneladas foram distribuídas gratuitamente para diversos projetos, atendendo 2.536 solicitações.

E a fração de sementes que não é distribuída? Para você ter ideia, entre as dez espécies mais recebidas na Bolsa, oito apresentam sementes recalcitrantes (perdem a viabilidade rapidamente), assim não germinam mais, sendo então “descartadas” (usadas na ciclagem de nutrientes, retornando ao ambiente).

A partir da Bolsa de Sementes, professores e acadêmicos da Engenharia Florestal organizam e participam de minicursos e dias de campo com plantios nas escolas e comunidades. Na oportunidade, é abordado sobre as múltiplas possibilidades de utilizar o projeto em atividades multidisciplinares, assim tornando-se de grande importância na formação dos acadêmicos, considerando a possiblidade dos estudantes trocarem experiências com as comunidades, colocando em prática o que construímos na Universidade.

Destaco que projetos desta natureza, que oportunizam a interação das instituições públicas e privadas, permitem melhor qualificar futuros profissionais. Assim, concordo com Stahl et al. (2022), que abordam, em seu artigo “Extensão universitária em ações de educação ambiental: um estudo de caso no Sul do Brasil”, sobre a importância de ampliar projetos com a parceria entre os diversos setores, visando cumprir objetivos comuns para o desenvolvimento da sociedade.

Entendo que o projeto cumpre um papel relevante à sociedade e ao meio ambiente, bem como, indiretamente, à economia. Isso porque ao conservarmos florestas nativas, mantemos a qualidade e quantidade de água nos rios, viabilizamos habitat aos polinizadores, entre outros benefícios, permitem otimizar a produção agrícola, pecuária e silvicultural.

Maristela Machado Araujo
Professora titular da UFSM