Anderson Silva teve uma primeira infância difícil em São Paulo, onde nasceu. Sua mãe era empregada doméstica e seu pai era cambista, esses que vendem ingressos em jogos de futebol e eventos. Aos quatro anos sua mãe o entregou para ser criado pela tia dele em Curitiba, numa família estruturada, onde começou a conhecer disciplina. Sua nova família frequentava a Igreja Messiânica, de origem japonesa. Além das orientações espirituais, era também disciplinadora.
Anderson Silva treinava artes marciais mistas (MMA). Foi pegando gosto até passar a lutar profissionalmente. Foi campeão da categoria peso médio do Ultimate Fighting Championship (UFC). Venceu por 10 vezes consecutivas as defesas do título e somou 17 vitórias seguidas. Ultimamente cada luta de Anderson rendia lucros de U$ 60 milhões ao UFC. Faturava até U$ 2 milhões por luta, mas sua maior fonte de receita são as empresas que o patrocinam. Empresas do quilate da Philips, Burger King, Duracell e Hublot, esta última uma grife de luxo.
No último sábado, 6 de julho, Anderson Silva subiu ao octógono para, mais uma vez, defender seu título de campeão. Desta vez seu oponente era Chris Weidman, dez anos mais jovem (28) e invicto com 9 vitórias em 9 lutas. Após perder o primeiro round por pontos, o mundo inteiro viu Anderson desdenhar de Weidman no segundo round. Anderson chamava para a luta com a guarda baixada, provocando, debochando, querendo expressar que desprezava alguma qualidade que porventura Weidman tivesse. Então, numa das gracinhas de esquiva que Anderson fazia, a mão cerrada de Weidman encontrou o queixo de Anderson num cruzado de esquerda. Anderson foi ao chão. Seu oponente foi para cima com uma saraivada de socos para consolidar a vitória por nocaute.
Na minha opinião Anderson começou a perder quando perdeu a humildade. Segundos antes de iniciar a luta, Weidman estendeu o braço a fim de tocar a luva do oponente, um gesto de respeito e esportividade. Anderson negou-se a retribuir o gesto, limitando-se a baixar levemente a cabeça. No mês passado, junho de 2013, ele recusou-se a tirar uma foto com um fã em um restaurante, tendo se irritado com a insistência do fã. Em recente entrevista (antes da derrota) ele anunciou uma superluta com Jon Jones, campeão dos meio-pesados, uma outra categoria. Anderson disse: “Considero uma possível luta contra Jon Jones uma oportunidade para ele, um lutador jovem, com toda a carreira pela frente”. Mal sabia ele que, se ainda a luta se confirmar, será na verdade uma oportunidade dele, Anderson, recomeçar a vencer.
Na minha opinião, Anderson perdeu para ele mesmo, para seu excesso de autoconfiança. Perdeu ao confundir autoestima com arrogância. Eu, que sou leigo em lutas, sei que manter a guarda (defesa) é um fundamento básico no MMA. Naquele momento ele parecia considerar que isso era para os fracos, errou o limite. Humildade é fruto da educação, de um processo, de um exercício de amadurecimento. Só assim ela é sólida, efetiva, legítima. Conheço pessoas que tentam parecer humildes, mas não convencem, não é natural, não é genuína, não passou por dentro da pessoa. Humildade não é pobreza, é postura. Tem na fama ou fortuna o mesmo peso que tem na vida simples, e nem por isso menos digna. É valor pessoal. Ao abusar da arrogância ele foi irresponsável para com as marcas que o patrocinam, e que apostam na sua imagem. Irresponsável é elogio se a polícia americana confirmar a suspeita de armação, devido a uma superaposta feita em um cassino de Las Vegas, cidade onde houve a luta. Um investidor apostou U$ 2 milhões na vitória de Weidman, que não era favorito. O resultado da luta lhe rendeu U$ 7 milhões.
O desfecho que teve a história de Anderson Silva no último sábado precisa ser visto com uma amplitude maior, se quisermos entendê-lo de fato. Ter sido pobre não é defeito. Defeito é não valorizar as oportunidades, não ter a ambição de ser hoje um ser humano melhor do que foi ontem. Eu penso que sucesso não é só voar, é voar com os pés no chão. Isso não é para qualquer campeão, é para os grandes.