Luísa Ziemann
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Muitos quilômetros na estrada e ainda mais histórias para contar. Há 17 anos, a vida de César Simões, de 56 anos, acontece dentro da cabine do seu caminhão pelas rodovias dos Estados Unidos. Natural do Rio de Janeiro, o caminhoneiro escolheu as estradas americanas como o seu local de trabalho. O que é sonho para alguns – viver e trabalhar na terra do Tio Sam -, é a realidade do caminhoneiro que se naturalizou americano.
Simões se mudou para os Estados Unidos em 2005, quando tinha 38 anos. Sua mãe já morava no país e possuía cidadania americana, por ter se casado com seu padastro que é natural de lá. Por ser filho solteiro ele também adquiriu o direito de ser naturalizado americano. Na época em que chegou ao novo país, o carioca tinha apenas duas opções em mente para se estabelecer: ser mecânico ou caminhoneiro. Durante cerca de seis meses ele trabalhou em outras atividades, enquanto tirava sua habilitação para dirigir caminhões.
Primeiro, o carioca foi mecânico juntamente de outro brasileiro, um amigo gaúcho. Desde que iniciou sua trajetória como caminhoneiro, no entanto, Simões viu sua vida mudar. Hoje, o motorista percorre as autoestradas americanas e divide sua rotina e suas experiências com mais de 36 mil seguidores no Instagram. O perfil ganhou visibilidade após Simões compartilhar vídeos onde mostra a realidade da profissão nos Estados Unidos e faz um comparativo com a classe no Brasil, mostrando as vantages de se viver e trabalhar na América.
Em um dos vídeos com mais acessos – quase 540 mil visualizações -, o caminhoneiro fala sobre as oportunidades de emprego, os ganhos e os benefícios da vida americana e chega a dizer que não existe pobreza na América. Entre as principais diferenças com o Brasil, Simões destaca a segurança e a política eficaz. De acordo com o caminhoneiro, lá a realidade é outra. O motorista, que hoje trabalha até 11 horas por dia, afirma que o que mais atrai em sua profissão é o dinheiro. “Hoje eu ganho um milhão e meio de reais por ano. A vida que eu levo como caminhoneiro, muitos empresários bem sucedidos não tem no Brasil”, conta. “Fora tudo que esse país me oferece, como uma segurança eficaz, um governo honesto. É qualidade de vida.”
Simões, que é casado com Glaucy Mancini e tem três filhos, visita o Brasil regularmente. Em junho, quando esteve no País pela última vez, o caminhoneiro teve um encontro com o presidente Jair Bolsonaro. Na mesma semana, Simões visitou Santa Cruz do Sul, onde frequentou alguns locais e chegou a almoçar no Posto Nevoeiro da BR-471. “Não conhecia o Rio Grande do Sul, foi a primeira cidade que visitei aí. Achei tudo muito bonito, lembro bem da rua principal, coberta por árvores. A cidade é linda e o povo muito receptivo.”
“O diesel quase triplicou, é o momento que eu mais ganho aqui”, afirma motorista
De acordo com Simões, a realidade vivida nos Estados Unidos é incomparável. “Eu trabalho 70 horas por semana, com viagens longas, mas o meu padrão de vida é altíssimo”, conta. “Vivo muito bem, sou o único trabalhador da família e responsável pelo sustento da casa. Consigo oferecer qualidade de vida para minha esposa e filhos.” O brasileiro explica que essas condições favoráveis de trabalho estão diretamente ligadas à economia e à política do país americano.
O caminhoneiro explica que ele é um owner-operator, termo que no Canadá e nos Estados Unidos designa aqueles que são donos (owner) e também operadores (operator) dos seus caminhões. Ou seja, ele é o proprietário e também o único funcionário de sua empresa. “Uma das principais vantagens deste país é a questão tributária. Eu sou tratado pelo governo da mesma forma que o proprietário de uma frota de 20 mil caminhões, não tenho desvantagens nem pago impostos indevidos. A facilidade de se abrir uma empresa e a ajuda que o governo americano oferece é imensa.”
Atualmente Simões possui um caminhão prancha e com ele atravessa as autoestradas do Estados Unidos fazendo o transporte de cargas variadas. “Aqui os fretes são emitidos através de sites específicos, onde eu coloco a localização do meu caminhão e verifico as solicitações de fretes disponíveis. Eu transporto o que me paga mais”, explica. “Existe muita procura. Quando alguém me liga e pede pelo meu caminhão, ele que pergunta o quanto precisa me pagar para fazer o transporte, porque sabe que enquanto ele está solicitando o frete, muitos outros estão também.”
O motorista explica que há vários motivos para os ganhos serem tão vantajosos nos Estados Unidos. Além da alta procura pelo transporte de cargas, a economia forte e estruturada do país permite que os clientes paguem o preço que for necessário pelo frete. “No Brasil existem cerca de dois milhões de caminhões, aqui são mais de 23 milhões. As autoestradas não param, e sempre há o que transportar”, afirma.
Além disso, o caminhoneiro destaca que nem mesmo o aumento do custo do diesel – que vem sofrendo com repetidas altas nos últimos meses – afeta sua receita. “O aumento do custo do combustível não afeta em nada o transporque de cargas aqui. Os clientes continuam pagando o valor que for necessário para a sua mercadoria andar”, reitera. “Nos últimos tempos o diesel quase triplicou, é o momento que eu mais ganho aqui.”
Para compreender a lógica do consumidor do transporte de cargas nos Estados Unidos, Simões faz um comparativo. “Se um frete de Porto Alegre até São Paulo custa R$ 2 mil, por exemplo, e o custo da viagem, incluindo combustível e pedágios, é de R$ 1.500,00, o motorista cobra os R$ 2 mil e tem apenas R$ 500 para si, digamos assim. Se o valor do combustível diminui, como aconteceu essa semana, consequentemente o motorista vai baixar o preço do seu serviço, vai cobrar menos do que R$ 2 mil. Nos Estados Unidos isso não acontece. Há variação no preço do diesel mas o custo do frete se mantem, não é afetado em nada. E os clientes pagam, pois precisam do serviço.”