A participação regular em atividades sociais e políticas pode ser considerada a partir da noção de estilo de vida.
Estilo de vida implica em incorporar hábitos, que são adquiridos mediante repetição, insistência, continuidade. Exercícios físicos, por exemplo, afiguram-se como um enorme sacrifício para os sedentários, acostumados a rotinas do tipo casa-trabalho-casa. Para eles, a simples menção a atividades físicas já provoca cansaço! Para outros, que mantiveram atividades físicas regulares desde os tempos das brincadeiras de criança ou os incorporaram enquanto adultos, fazer exercício é algo “natural” e prazeroso, algo que “o próprio corpo pede”.
De forma similar, a alimentação saudável. Para quem está acostumado ao consumo cotidiano de muita carne vermelha, frituras, refrigerantes, comida “fast food”, a alimentação saudável só se torna opção em circunstâncias extremas, requerendo sacrifícios tremendos. Entretanto, as pessoas que conseguem superar as resistências iniciais da reeducação alimentar aos poucos readquirem o prazer de comer, apreciando saladas, alimentos integrais e produtos orgânicos.
A excelência não é um ato, é um hábito. A frase é do filósofo grego Aristóteles, ao abordar a ética e a política. Todas as virtudes são alcançadas não num repente, mas por continuidade e repetição. Essa lição tem sido pouco lembrada na análise da baixa participação social e política da população brasileira.
Aprende-se a participar, participando. Via de regra, a participação começa em espaços próximos, cotidianos, como a escola, a igreja, a associação de moradores. Essa experiência inicial é muito importante, servindo para estimular ou inibir a inserção em outros espaços, como conselhos, entidades, partidos e espaços governamentais. Semelhante ao que ocorre com exercícios físicos e alimentação, a criação do hábito de participar requer esforço pessoal e estímulo de outros. Quando o desestímulo provém de muitos lados, torna-se difícil incutir no cidadão comum o gosto para marcar presença ativa em debates e deliberações. Os que incorporam o hábito de participar, por outro lado, ficam propensos a se inserir nos espaços públicos, aceitando o convite para diferentes reuniões, encontros e eventos.
À luz dessas considerações, fica realçada a importância do Poder Público manter ao longo do tempo as alternativas de participação. Temos no Rio Grande do Sul dois bons exemplos. Um é o Orçamento Participativo de Porto Alegre. Criado nos governos do PT, no final dos anos 1980, vem sendo mantido até hoje nas várias administrações subsequentes. Boa parte dos cidadãos de Porto Alegre já se acostumou com a ideia de que o governo municipal abre espaço todos os anos para que os cidadãos ajudem a decidir o destino do dinheiro público. E estão transmitindo isso aos filhos.
Exemplo semelhante vem do governo do estado. Na gestão de Olívio Dutra foi inaugurado o Orçamento Participativo Estadual, depois readequado para Consulta Popular, remodelado para Sistema Participativo e hoje novamente Consulta Popular. O melhor formato é discutível, mas o fundamental é a continuidade, ao logo de décadas, da possibilidade de co-dividir com os governantes as prioridades de aplicação dos recursos públicos. Isso favorece na população o hábito de participar.