Há semanas que eu sento para escrever e penso: desta vez vou escrever algo que sentirei orgulho. Será uma coluna memorável, ouvirei comentários sobre ela e me sentirei orgulhoso do texto. Vai misturar sarcasmo, uma pitada de questionamentos e um final arrebatador. Então, eu sento para escrever e as horas passam sem nada sair das minhas mãos. Minha criatividade parece fugir, sou distraído por todos os compromissos possíveis (viva o home office!) e assim eu encerro mais uma noite com uma meia dúzia de palavras desconexas colocadas em duas ou três frases.
Eu gostaria de pedir desculpas aos leitores, mas não há como ter inspiração no Brasil que vivemos. Todas as semanas me questiono sobre os diferentes temas que poderia abordar, afinal, ninguém quer ler a mesma coisa. E embora exausto de ler, ouvir e falar sobre o que se passa em nosso País, é impossível não externar todas as nossas dores e angústias. Estamos vendo pessoas morrerem por conta de um vírus que já existe vacina. O Brasil está do avesso e seguimos em um sono profundo enquanto o pesadelo retorna todos os dias para nos atormentar. Já tentei de tudo para desopilar. Meditação, desligar o wifi e a TV por horas, correr, caminhar, fazer exercício. E, ainda assim, no fim da noite, a gente se pega pensando: até quando isso tudo? O que fazer ou falar enquanto o mundo se despedaça lá fora?
A sensação de impotência predomina todos os momentos. Mesmos os lampejos de felicidade se parecem mais como um prêmio de consolação por estar vivendo tempos tão duros. O período de pandemia parece mais como uma sala de espera onde aguardamos a próxima viagem. No caso, aguardamos por dois anos já. E o ônibus nem dá sinal de aparecer. Nem parece, porém já faz dois anos desde que tudo começou. Tem quem não queira esperar, que esteja viajando, curtindo com os amigos, visitando lugares, vivendo como se tudo estivesse normal. Escapismo ou adaptação, eu respeito, mesmo não concordando ao ver fotos de reuniões, jantares e festas. Eu não consigo. Me resta imaginar o que vai ser daqui para frente. Se teremos mais um ano de confinamento, restrições e privações pessoais, além de crise econômica e social. Ou se uma luz no fim do túnel nos aguarda.
À espera por vacinas, por dias melhores, por dias que não se pareçam com os anteriores. À espera pelos compromissos adiados sem previsão de uma nova data. À espera por poder deitar na cama e conseguir se desligar da tragédia brasileira. É delírio acreditar que ano que vem tudo voltará ao normal? Ou de que existirá um resquício de normalidade após a tempestade? Aguardamos e seguimos esperando, acreditando que em algum momento tudo isso terá um fim, como quando acordamos no meio da noite após estarmos imersos em um sonho ruim.
Se não há como ser feliz, que se busque ser menos triste ao menos. Se apegar a um possível futuro sem qualquer comprovação de que será melhor do que o que se apresenta no presente.