Lucca Herzog
[email protected]
Vivemos a era da informação. Com o advento da internet, dos dispositivos eletrônicos móveis e das redes sociais, o acesso a diferentes dados está cada vez mais facilitado. Nunca foi, portanto, tão fácil estar informado. Entretanto, esse fenômeno guarda também um grande perigo: a vulnerabilidade das comunidades às fake news.
As fake news são notícias falsas, e que são espalhadas de forma irregular. Já de amplo conhecimento do público, nem por isso a circulação desse tipo de notícia parece diminuir. Por esse motivo, o Riovale Jornal, em parceria com a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Educação e do Programa Pacto Santa Cruz Pela Paz, realizou mais um evento do “Vale a Verdade, Riovale contra as Fake News”.
Entendendo que a educação e o conhecimento são as melhores ferramentas para esse combate, a iniciativa, que ocorreu na manhã do dia 27, no Anfiteatro do Bloco 18 da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), abrangeu como público-alvo os anos finais das Escolas Municipais de Ensino Fundamental Rio Branco, Cardeal Leme, Felipe Becker, Harmonia, Santuário, Luiz Schroeder e Bom Jesus. Ao todo, compareceram 292 alunos.
Para a professora de Educação Artística, Aline Goulart, “o assunto relacionado a fake news é muito importante, principalmente pra escola e pros adolescentes, que estão diretamente ligados às redes sociais e o mundo virtual, para saberem filtrar, saber questionar fontes e informações. Temos que já, desde o momento em que estão na escola, trabalhar essa questão para que não dissemine, porque isso é um mal na sociedade: espalhar mentira, e se acostumar a isso”.
Já Silvana Budde, professora de Língua Portuguesa, ressaltou que as Fake News são um dos assuntos abordados nas escolas: “Trabalhamos o gênero da notícia, e depois fazemos esse contraponto com as fake news. E é uma geração que só se informa pelo TikTok. Não leem, por exemplo, o jornal físico. Eles pouco assistem TV, ou o noticiário”. Uma das alunas presentes, Gabrielle Soder, afirmou que o assunto é de interesse dos estudantes, e complementou: “Eu acho que é um assunto bem legal, principalmente para nós, jovens, que às vezes acabamos postando coisas e nem sabendo o que estamos postando. Às vezes, não sabemos o que é certamente uma notícia falsa, ou onde procurar saber se é verdade ou não”.
Para melhores esclarecimentos do assunto, quem conduziu o encontro foi o professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e jornalista Hélio Afonso Etges, que ministrou uma palestra contextualizando a disseminação de informações falsas, e as formas de confrontá-las. Etges explicou que, apesar de as fake news estarem muito presentes na atualidade, em razão do crescente uso das redes sociais, que permitem uma rápida circulação de muitos tipos de conteúdos, elas não são particularidade do presente, ou do passado.
Para ele, o que está no centro do problema não é o nosso acesso a informações, a avanços e desenvolvimentos tecnológicos, ou sequer a nossa razão. Pelo contrário, está ligado ao nosso avanço humano, ao avanço do conhecimento e do discernimento, da educação e de nossa inteligência emocional. Hélio comenta que a crença, a militância, o fanatismo e a ganância econômica são os principais fatores para o crédito de publicações falsas, ou até mesmo o engajamento em rumores duvidosos. Além disso, pessoas com senso de falta de pertencimento à sociedade, ou pessoas que sofrem de depressão, por exemplo, tendem a ser mais vulneráveis a esse tipo de conteúdo, que, propositadamente, manipula de maneira nociva as nossas emoções.
Nesse sentido, o professor explicou que o que atua na nossa relação com as Fake News é o que se pode denominar “viés de confirmação”, um fenômeno resultante da predisposição emotiva de crenças e dogmas do ser humano, que tende a acreditar nas coisas que concordam com suas verdades individuais, as quais quer comprovar, mas que podem não ser verdades coletivas ou científicas.
Para prevenir-se contra os equívocos, o palestrante apontou a checagem da veracidade de informações e da credibilidade de fontes como uma das principais alternativas. Além disso, procurar opiniões contrárias, ou fontes e veículos que confrontem opiniões – inclusive as nossas – é, segundo Hélio, um hábito saudável e de grande importância para a resolução do problema. Por fim, lembrou que divulgar algo que não seja verdade pode trazer consequências e imputações sérias, tanto morais quanto legais, comprometendo toda a rede de relações humanas com base na cooperação civil e na confiança mútua.
Fique atento
Os alunos puderam aprender como identificar se uma informação é falsa ou enganosa. Entre os itens que podem ser percebidos estão:
- Leia o texto todo, não apenas o título
- Título todo maiúsculo ou foto manipuladas
- Desconfie sobre informações alarmantes
- Desconfie de expressões de exagero
- Cheque a autoria da notícia
- Confirme a veracidade das fontes
- Pesquise os nomes citados
- Investigue a credibilidade e os vínculos institucionais das pessoas envolvidas
- Nem todo áudio, vídeo ou imagem são verdadeiros
Notícia de verdade é
- Representação social da realidade produzida institucionalmente e se manifesta na construção de um mundo possível
- Notícia não é o fato em si, mas a narração do fato
- Função da noticia: orientar o ser humano no mundo real
- elementos básicos da notícia: o que, quem, quando, onde, como, porque, para que, para quem, quanto, de quem
Fake news são
- Conteúdos falsos e inverdades propagadas com aparência real e verdadeira. Relação com crença e militância
- A intenção é fazer o leitor dar mais importância à estímulos emocionais do que a fatos objetivos
- Notícias falsas são absorvidas como verdadeiras porque o público gostaria que fossem verdadeiras
- Se está na internet, então é verdade
Objetivos do projeto
- compartilhar formas de checagem da veracidade de informações e da credibilidade de fontes
- reduzir o número de informações falsas circulando em ambientes escolares
- orientar os estudantes na identificação de uma informação falsa
- reforçar a verdade e a honestidade, valores fundamentais ao caráter humano, fortalecendo o respeito entre os alunos
- assegurar os valores culturais da nossa comunidade (ética, educação e verdade)
- ter uma comunidade mais esclarecida sobre o risco de notícias falsas