“As viagens sucedem-se e acumulam-se como as gerações; entre o neto que foste e o avô que serás, que pai terás sido?” Inquietante pergunta do escritor português José Saramago, para todos nós que vivemos a bênção de poder transitar nas três frequências da vida.
A mais fácil possivelmente terá sido a de ser neto, quando se olhava para os avós com aquele ar de respeito, de reverência até, como figuras proféticas que, no alto de sua vida, eram envolvidas num ar de santidade e admiração.
Na condição de pais, fomos confrontados de repente com uma vida em nossos braços, sem saber direito o que fazer por ela, a não ser cuidar para que pudesse crescer com saúde e proteção. Para garantir minimamente êxito nessa missão, fomos buscar socorro nos nossos pais para nos ensinar o que não sabíamos.
De repente, essas criaturinhas cresceram, foram ocupando espaço ao nosso redor, firmando-se na própria personalidade e erigindo, ao nosso lado, seu próprio edifício de aspirações, quando não decolando para outras geografias em busca dos seus sonhos.
Não mais que de repente, pousam em nossas vidas os netos, pequenininhos, iguais como foram os filhos um dia, e enchem de vez nossa existência, trazendo o conteúdo mais maravilhoso que até então tínhamos experimentado: o afeto, na mais sublime expressão do amor.
Mas será que com os filhos não foi assim? Com certeza não, porque estávamos em outro estágio da vida, com uma percepção diferente das coisas. Agora, com a maturidade que temos, permitimo-nos tolerâncias que antes não podíamos. Agora, permitimo-nos certas liberalidades, que antes não seriam adequadas.
O que é certo, é que cada geração tem de aprender a caminhar com seus próprios pés, e é bom demais poder recordar o que aprendemos com os avós que, na sua doçura, nos ensinaram as lições que guardaremos para sempre na memória do coração.