Luciana Mandler
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Depois de 27 anos em funcionamento, a padaria da Associação Comunitária Pró-Amparo do Menor (Copame), de Santa Cruz do Sul, encerrará as atividades em agosto. O comunicado foi feito pela diretoria na sexta-feira, 24. Em nota oficial, a entidade informou que a decisão pela descontinuidade foi tomada de forma unânime pela diretoria e associados presentes em assembleia específica.
No documento, a diretoria avisou que todos os funcionários da padaria serão demitidos e indenizados por seus direitos trabalhistas com recursos retirados da venda de veículos e equipamentos da padaria. Além disso, serão recomendados e indicados a parceiros do mesmo ramo, para que sigam suas atividades profissionais.
Para o presidente da Copame, Ademar Nicolau Thomas, não foi uma definição agradável. “Foi uma decisão muito bem pensada, com todo cuidado, pensando em como poderíamos tornar viável a manutenção da padaria, mas só víamos obstáculos”, comentou. “Tivemos o aumento da farinha, da gasolina e com isso tivemos dificuldade de repassar esses valores e, ainda que com um faturamento maior, passamos a pagar ICMS sobre as vendas. Aliando tudo, tirou-se margem, tornando inviável o negócio”, explicou.
Apesar de ficar triste, Thomas quer ser otimista. “Temos que pensar que a padaria, através dos produtos elaborados, auxiliou, trazendo recursos e divulgando a Copame”, frisou. “Encerramos esse capítulo e focamos em nos dedicarmos aos cuidados das nossas crianças. Quem gosta da Copame vai poder continuar ajudando a entidade, seja se associando, seja doando valores mensais”, completou.
A íntegra do comunicado da entidade
“Em 1995, foi criada a padaria da Copame, com a finalidade principal de proporcionar treinamento e iniciação profissional aos adolescentes e jovens internos da entidade e, também, de ajudar nas despesas da entidade, com o lucro obtido a partir da venda do que fosse produzido.
A primeira finalidade nunca foi possível implementar, pois com o passar do tempo a legislação, tanto trabalhista, quanto da criança e adolescente, foi modificando-se e, como se trata de trabalho específico e com algum tipo de risco, não foi possível inserir os internos nessa atividade profissional.
Entretanto, a segunda finalidade foi cumprida com êxito por muitos anos, nos quais a padaria conseguiu, através de licitações, atender as empresas de alimentação coletiva, fornecedoras das grandes empresas da cidade, principalmente do setor do tabaco que, na época de safra do fumo, representava um aumento substancial no faturamento, o que ajudou bastante nas despesas da entidade com os lucros obtidos na atividade.
Com o passar dos anos, surgiu mais uma importante fonte de renda e marketing: o pão fatiado vendido nos supermercados e outros itens – como o Copanetone – que passaram a ser produzidos e vendidos e proporcionaram, além dos ganhos financeiros, a disseminação da marca Copame na sociedade.
Todavia, nos últimos anos a situação se modificou: os custos foram aumentando e a margem de lucro caindo. A padaria, então, começou a tornar-se uma preocupação. Nosso conselho fiscal, que é responsável por fiscalizar e interpretar os balancetes e balanços da instituição, passou a alertar acerca da realidade, na medida em que notava que, a cada ano, o lucro reduzia, com sinais de que poderia em pouco tempo transformar-se em prejuízo.
Tendo em vista tal problemática, tentou-se reverter a situação com a inclusão de novos produtos, a ampliação dos pontos de venda do pão fatiado e uma maior atenção à divulgação dos produtos, tanto no site da Copame quanto em outros meios de comunicação.
Parecia que essas ações estavam dando resultado e seriam suficientes para reverter o quadro; porém, veio a Covid 19. No período inicial da pandemia, apesar do aumento dos custos, até se conseguiu manter o faturamento. No ano de 2021 até aumentou o faturamento, mas isso em vez de trazer maior ganho, além de fechar o ano com pequeno prejuízo, ainda nos levou a um patamar de faturamento, que a partir de 2022, passamos a pagar ICMS sobre as vendas.
Além de todos esses sinais, a guerra entre Rússia e Ucrânia ocasionou aumento substancial dos insumos – principalmente a farinha de trigo, mas também combustível e outros. Nos primeiros meses do ano, tomamos algumas medidas como redução do quadro de funcionários e suspensão da produção do pão fatiado, o que nos deu fôlego para continuar e atender as empresas de alimentação durante a safra de tabaco. Porém, após isso, não será mais viável financeiramente a manutenção da Padaria.
Desta forma, estamos comunicando que, por decisão unânime da Diretoria e dos associados presentes em assembleia específica, ocorrerá a descontinuidade das atividades da Padaria da Copame a partir do mês de agosto próximo, sendo que estaremos direcionando nossas energias para o principal objetivo da entidade, que é o atendimento às crianças e adolescentes.
Essa não foi uma decisão fácil, mas foi tomada em assembleia depois de muita análise, conversas e tentativas de parcerias. Infelizmente, nada se mostrou viável para que fosse possível a manutenção da padaria. Quanto aos funcionários, todos serão demitidos e indenizados em seus direitos trabalhistas com recursos que serão auferidos com a venda de veículos e equipamentos da padaria, e, ainda, serão recomendados e indicados a parceiros do mesmo ramo para que sigam suas vidas profissionais.
Agradecemos, assim, a toda comunidade santa-cruzense e regional, aos Poderes Constituídos, aos veículos de comunicação, aos Clubes de Serviços e a todos cidadãos, inclusive anônimos, que sempre colaboraram com a Padaria da Copame, seja em doação de equipamentos ou mantimentos, seja como com a aquisição dos nossos produtos. Pedimos que continuem apoiando e colaborando com a entidade Copame, que seguirá precisando, e muito, desse apoio que nunca faltou.” – Diretoria da Copame